Capítulo 4

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Entrei em casa depois de mais um dia cansativo de trabalho com o filho da puta do meu chefe que não me deixou em paz um minuto e fiquei pasma ao ver a quantidade de sacolas no chão da sala.

- Quantas compras. Alguém aqui ganhou na loteria?

É claro que eu sabia que Estefânia tinha gastado dinheiro. Desde ontem não tivemos tempo de conversar, por algum motivo ela não dormiu em casa, mas mandou a mensagem de que estava bem.

- É o dinheiro do seguro dela. - Cecília disse se referindo a Estefânia. - Ela pegou tudo de uma vez e foi gastar.

Claro. Típico dela.

- Eu estou tão feliz que consegui esse emprego na Império. Eu não aguentava mais o outro emprego.

Me sentei no sofá e Cecília estava deitada no outro.

- Por falar nisso, pode começar a me contar como isso aconteceu e por quê você estava tão íntima de Victor.

As duas riram. Fiquei algum tempo sem saber o porquê, mas então a ficha caiu. Ela se sentou a minha frente e parecia feliz, na verdade, seus olhos tinham um brilho e ela não parava de sorrir. Eu tinha receio de informá-la de que estava gostando dele, queria que ela visse por si mesma.

- Eu conheci ele no almoço, naquele dia que você chegou atrasada. - Impossível não lembrar. - Ele estava no bar e começamos a conversar. Saímos dali e fomos andar e quando eu fui ver estava na frente do apartamento dele e eu estava quase duas horas atrasada.

Fiz gestos na intenção de interrompê-la, mas ela não deixou e prosseguiu.

- Bom, no apartamento só conversamos e depois eu voltei pra casa. Eu não queria falar sobre meu trabalho porque eu sabia que vocês cairiam em cima de mim. Nos encontramos um dia depois e conversamos mais e sem querer falei que eu estava desempregada, ele disse que ia dar um jeito, não discuti. No domingo, quando eu saí cedo daqui, ele disse que eu tinha um novo emprego na Império e que começava na segunda. - Ela suspirou. - Eu fiquei meio em choque, mas não discuti. No mesmo dia ficamos fora e depois fomos pro apartamento dele, aí... - Ela fez uma cara que no mesmo segundo soubemos que tinha rolado.

- Mas vocês se conhecem a tão pouco tempo.

- Eu respeitei a regra dos três encontros, depois rolou. Eu comecei a andar pelo lugar e ele morava muito bem para ganhar um salário de um profissional comum. No banho, eu perguntei pra ele se tinha sido fácil conseguir um emprego pra mim, foi ai que ele me contou que era irmão do dono.

- E o serviço é bom? - Cecília perguntou sem vergonha.

- Você não imagina o quanto. - Cecília arregalou os olhos e sorriu.

Eu não poderia estar mais feliz em relação a Estefânia. Porém, sabia que ela daria problemas para Gustavo.

- Não foi por interesse. Eu não sabia que ele era rico e quando eu vi, já estava envolvida. - Ela explicou. - Pouco me importo com o dinheiro dele.

-

Uma semana depois a Império estava uma loucura. Todos estavam correndo atrás dos preparativos para a nova coleção e por incrível que pareça, eu não estava acostumada a esse ritmo. Só tive a chance de estar presente em duas coleções, então ainda não era normal, muito menos para Estefânia que estava cuidando da publicidade da coleção e para melhorar, ela ofereceu a Gustavo para ser responsável pela parte do evento, ele, claro, não negou. Na hora do almoço, Verônica, a irmã de Gustavo, me chamou para ir almoçar com ela e convidou Estefânia para ir junto.

- Vamos ficar com essa aqui. - Ela disse ao garçom.

Nos sentamos e apenas ouvimos ela falar sobre seus irmãos e de como eles eram chatos e ciumentos. Não me passava na cabeça nenhuma cena de ciúmes dos irmãos Lários, mas eu não iria perder minha imaginação com Victor e Gustavo. Tivemos um ótimo almoço, até o momento em que eles dois se juntaram a nós, fazendo meu sangue ferver. Gustavo e eu ficamos entre olhares e eu odiava como ele fazia meu corpo arrepiar sem ao menos me tocar.

- Gustavo? - Uma mulher alta, magra, branca, de cabelos pretos chanel e olhos negros parou em nossa mesa ao lado de Gustavo. - Quanto tempo.

Ela quase pulou nele e eu tive uma breve náusea. Ele me olhou e envolveu seus braços em volta da cintura dela. Porra.

- Pessoal, essa é a Ana. Ana, esse é o pessoal. - Ela sorriu e isso me deu mais enjôo. - Bom, eu já vou indo. - Ele se levantou e sorriu de lado. - Tenho alguns assuntos para resolver.

Gustavo saiu agarrado com aquela vadia metida a branca de neve sem a parte do linda e bela.

- Aí que ódio! - Sussurrei mas sabia que todos a minha volta ouviram.

Não esperei ninguém sair da mesa, apenas saí. A raiva cresceu em mim como um vulcão em erupção. Eu já deveria estar acostumada, tudo o que o senhor Lários sabe fazer é sair com milhares de mulheres sem sossegar com nenhuma. No caminho de volta para o meu trabalho, quase fui atropelada. Saí do elevador sem nenhuma vontade de ver a cara dele. Ele provavelmente iria passar a tarde com ela, pensei. Me sentei e queria resolver tudo o mais rápido possível para sair mais cedo.

Por um momento, desviei o meu olhar do trabalho e olhei pro sofá que temos no espaço de espera. Estava deitada uma garota de cabelos longos, seu uniforme indicava que ela ainda estava no colégio. Não qualquer colégio. Um dos maiores colégios privados da cidade.

- Falando com o namorado? - Perguntei me referindo a sua rápida digitação no celular.

Ela deu um risinho.

- Quem dera. Não faço o tipo do Zeca, se é que me entende. Vamos dizer que ele gosta da mesma fruta que nele foi plantada.

Gay.

- Então por que essa cara?

- Pense nisso como uma consulta, onde eu sou a psicóloga e Zeca, o paciente. Tenho problemas para resolver.

- Deixa eu adivinhar. - Me encostei na cadeira a vontade. - Zeca está com ciúmes de alguém e está com receio de estar exagerando.

Ela se sentou num pulo.

- Bom palpite, mas não é isso. Na verdade, quase. - Seus passos foram rápidos até minha mesa. - Um garota beijou ele e o namorado não gostou, porque está achando que Zeca estava mentindo esse tempo todo sobre sua sexualidade, mas a garota é só a prima que quer fazer ciúmes em um cara.

Jovens. Por quê gostavam tanto de complicar o simples?

- É simples. Zeca conta a verdade sobre o ocorrido, mas tem que deixar bem claro para o namorado que ele não deve desconfiar sobre o que ele quer, senão Zeca nem estaria com ele. Já a prima, diga a Zeca que a prima dele tem que fazer com que o cara queira ela por ser quem ela é, não por questão de uma conquista barata, senão, ele não a merece.

Seus movimentos foram rápidos, enquanto eu falava, ela digitava a conclusão da sua consulta. Quando finalmente seus dedos largaram o celular, ela olhou para mim. Feições como a de Verônica, olhos verdes e pele branca. DNA dos Lários.

Um Inferno IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora