Teresa se ajeitou na cadeira e fechou os olhos por dois segundos voltando a me encarar.
- São pratos caros. Metade do meu salário vai em uma refeição básica daqui. - Ela sussurrou.
Sorri. Ela estava preocupada com a conta. Não acredito. Eu poderia pagar uma refeição no melhor restaurante de São Paulo ou qualquer outro lugar.
- Teresa, não se preocupe com isso. Eu a convidei, seria uma grosseria não pagar. - Ela sorriu.
- Seria mesmo.
Quando pensei que ela iria relaxar, percebi que ainda estava desconfortável.
- Teresa, que merda! O que está havendo? Quer ir para outro lugar?
Queria entender o que porra estava acontecendo para ela agir assim. Ela respirou fundo e me olhou sorrindo. Esse sorriso era matador. Que merda. Ela ficava linda sorrindo. Ela estava sem graça e queria gravar essa reação, sabia que dificilmente conseguiria arrancá-la de novo.
- Eu não sei o que pedir. - Ela sorriu e abaixou a cabeça. - É um cardápio muito diferente do que eu estou acostumada. Não ria de mim!
- Não irei. - No fundo eu estava. - Vou pedir algo bom para você.
Uma moça jovem veio pegar nosso pedido. Pedi uma massa, salada de camarão com cenouras e um vinho.
- Trarei em minutos. - A jovem recolheu nosso cardápio.
- Então, vai me contar o porquê de ter me convidado para jantar? - Lá vinha ela com as perguntas.
- Talvez, no final do jantar, eu te conte. - Respondi fazendo suspense.
Em pouco tempo nossos pratos chegaram. Teresa pareceu gostar do que pedi.
- E então, vai me contar alguma coisa sobre você ou vamos ficar quietos? - Perguntei sério.
Ela deu um gole no vinho e me encarou.
- Não tem o que falar sobre mim. - Ela deu de ombros.
Não caia nessa. Ela quer que você corra atrás. É possível. Ela só quer te atiçar, continue.
- Claro que tem! Se eu soubesse tudo, não estaria perguntando.
Ela levantou a sobrancelha e talvez eu pudesse ter sido um pouco grosso.
- O que quer saber?
Facilitando o trabalho. Assim que eu gostava.
- Seus pais? - A primeira coisa que veio a minha cabeça.
- Minha mãe faleceu quando eu ainda morava no México. Meu pai é empresário. Sou filha única deles, mas meu pai se casou de novo e tenho dois irmãos.
- Você nunca falou deles.
- Você nunca perguntou. - Ela respondeu simplesmente.
Por quê sempre acabávamos na defensiva? Com a conversa rolando, o jantar tinha acabado. Pedimos uma torta tailandesa para a sobremesa e Teresa parecia uma criança perto de chocolate. Paguei a conta e mesmo assim ela se sentiu desconfortável. A levei para o carro e continuamos a conversar. Ela não era tão difícil de lidar, teria que ir com jeito.
- E você, só namorou com esse tal de Eduardo? - Perguntei incrédulo a essa nova informação.
Como alguém como ela só namorou um cara na vida? Isso não era possível.
- Não exatamente. Ele foi o que mais durou. Eu tive outro no término do ensino médio, mas foi coisa de cinco meses, eu acho.
Ela era praticamente virgem. Meu Deus. Me perdoe se eu pequei. Entramos no carro e ela colocou o cinto. Eu não queria ir embora. Se eu fosse, isso provavelmente não aconteceria novamente. Mas partimos do restaurante.
- Ele era uma boa pessoa, mas o nosso término não foi nada agradável. Ele deve ter assumido os negócios da família. Mas e você?
Eu não sabia no que me concentrar. Nela revivendo o término com o ex que claramente ainda mexia com ela ou com sua pergunta. Uma chuva começou a cair.
- Eu nunca namorei sério. - Minha voz saiu grave. Teresa deve ter percebido meu tom e mudou de assunto.
- E então, vai me dizer o porquê de ter me chamado para jantar? - Ela voltou a sua pergunta inicial.
Seja prático, Gustavo. Não demonstre nada.
- Eu não queria jantar sozinho, você estava de saída, era caminho. Apenas tive que convidar.
Depois que as palavras saíram, minha visão panorâmica me permitiu ver o seu sorriso se desmanchando. Teresa se fechou como o tempo lá fora. Ela estava pronta para soltar uma tempestade em mim. Agradeci por estarmos a algumas quadras de sua casa, mas seus movimentos foram rápidos. Ela abriu a porta, pegou suas coisas e saiu correndo entre as filas de carros parados. Merda. A chuva.
- TERESA! VOLTE PARA O CARRO!
Ela não voltou. Saí do carro e fiquei procurando ela pela multidão, mas nada. A chuva piorou e decidi entrar. Droga de mulher. O que ela tinha na cabeça? Tentei ligar para seu celular e nada. Eu estava todo molhado. Esperava que o inferno desse trânsito nessa cidade não demorasse para andar ou perderia a cabeça. O que porra eu acabei de fazer?
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EITA!
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Um Inferno Irresistível
FanfictionTeresa Rezende é uma jovem mexicana que veio ao Brasil para estudar design. Morando em São Paulo e dividindo um loft com mais duas amigas, ela ama seu trabalho, mas sonha em ter uma melhor posição na empresa que estagia. Gustavo Lários, é o CEO dest...