Capítulo 16

245 20 7
                                    

Teresa.



A semana passou voando. Eu estava mais disposta a fazer as coisas. Depois da meia conversa com Gustavo, não tivemos nos falado tanto, mas estávamos numa boa também. Quer dizer, na medida do possível. Aquela noite foi péssima. Por mais que tentasse manter as aparências, ainda me sentia um pouco envergonhada por ter me deixado levar pelo charme de Gustavo. Não era assim que as coisas deveriam acontecer. Mas bem, eu tinha que seguir em frente.

Acordei meio atrasada e corri para me aprontar. Na cozinha, Estefânia estava tomando seu café e lendo o jornal, não sabia o que estava havendo entre ela e Victor, mas sabia que as coisas não estavam tão bem como aparentavam. Ela não dormiu na casa dele a semana inteira o que era de se espantar.

- Bom dia. Cadê a Cecília?

- Bom dia, provavelmente está vomitando. - Seu tom era baixo e triste.

- Vamos logo, temos que conversar. - Peguei minhas coisas e a puxei pelo braço. - Tchau Cecília, te ligo mais tarde!

Falei alto e ouvimos um "tá" abafado. Pegamos um taxi para ir para o trabalho.

- Já chega! Eu disse que ia esperar você me procurar para me falar, mas eu não aguento mais te ver com essa cara.

- É a única que eu tenho. - Ela disse na defensiva. Suspirei.

- Você sabe que isso não cola comigo, pode começar a falar.

- Teresa, eu estou assustada.

Olhei para ela tentando entender.

- Como assim?

- Eu estou sentindo que estou incompleta. As coisas com Victor estavam maravilhosas até ele dizer que me amava.

- Meu Deus! Quando ele disse isso?

Ela não estava me olhando nos olhos. O medo fazia isso com ela. Ela só assistia a cidade acordando do lado de fora do táxi.

- Foi semana passada. Eu pedi um tempo.

Fiquei alguns segundos em silêncio contemplando o que ela tinha dito.

- Você está assustada porque você também o ama.

Ela olhou pra mim e vi seus olhos marejados. Nunca vi essa fragilidade nela, era como se Estefânia fosse forte por nós duas. Mas, eu devia saber que ninguém era forte o tempo todo.

- Eu não sei o que fazer. É tudo tão novo e tão bom, que eu acho que em algum momento vai dar errado. A vida tem dessas coisas comigo.

Suas lágrimas finalmente caíram e eu a abracei. Não fazia isso há um tempo. Sentia falta desse contato com a minha melhor amiga. Era tanta coisa acontecendo em nossas vidas que acabávamos deixando esses momentos só nossos de lado. Nos separamos e peguei sua mão.

- Olha pra mim. - Ela me olhou com cara de cachorro que caiu da mudança. - Nada de ruim vai acontecer. Acredite, a vida cansou de brincar com você. Não se prive de sentir algo tão bom por medo de que não dê certo. Victor também deve estar assustado, ainda mais agora que vocês estão nesse "tempo". Já faz uma semana, Estefânia. - Ela secou o rosto com as mãos, mas continuou a prestar atenção mim. - Você sabe a sorte que tem de estar com Victor? - Ela faz que sim com a cabeça. - Então, não perca ele por bobagem, eu sei o que você passou, mas passou. Ele te faz bem. Eu queria ter te contado, mas você parecia não se importar.

- Me contar o que? - Ela perguntou com voz ainda trêmula.

- Que você estava amando. Todo mundo via. É tão lindo ver vocês juntos. Agora para de graça e vai falar com ele. - Ela sorriu e me abraçou novamente.

- Você não sabe o quanto senti falta disso. Dessas nossas conversas. - Ela disse agora sorrindo abertamente.

Mal sabia ela que eu também senti.

Chegamos na empresa e cada uma foi para seus respectivos andares. Um peso tinha sido tirado do meu peito por ter conversado com a Estefânia e acabei até esquecendo de todos os meus outros problemas.

O dia estava transcorrendo bem, o que era um alívio para mim, até Gustavo me chamar em sua sala. Respirei fundo e fui até lá não querendo dar margem para nenhuma de suas gracinhas. Porém, estar na sala de Gustavo séria, não estava funcionando como eu queria. Ele estava ao telefone comprando as pedras para a nova coleção. Revi alguns croquis e eram todos tão espetaculares que queria meu trabalho ali também.

- Pronto. Quase tudo feito. - Ele falava enquanto anotava algumas coisas. - Vejo que realmente gostou dos desenhos.

- Claro que gostei. Sua irmã é uma artista das joias. São delicadas e cheias de personalidade.

- Você podia me mostrar algum trabalho seu. - Gustavo sugeriu.

- Não estão prontos.

- Você vai estar ocupada hoje?

- Provavelmente.

- Por quê você está me evitando? - Lá vinha ele com mais perguntas.

- Porque eu não estaria? Sabemos que quando estamos juntos, as coisas tendem a sair do controle.

- Ok, quando você não estiver com tanto receio de se envolver, me avisa.

Sorri. Ele não falava sério. Sabia disso.

- Pode deixar.

Saí da cadeira e me sentei no sofá azul marinho. Não demorou muito para que ele fizesse o mesmo. Estávamos lado a lado e não conseguiria me controlar. Não podia ficar tão perto dele. Me virei para ele e tentei dizer algo, mas as palavras não queriam sair ou era apenas o meu cérebro me dizendo para ser lógica e não emotiva.

- Teresa... - A voz dele saiu tão serena que se eu não colocasse uma distância entre nós, não saberia o que fazer depois.

- Tenho que terminar meu trabalho.

Me levantei e saí da sala esperando o ar finalmente voltar para meus pulmões me dando a sensação de respirar novamente. Não, não era fácil ficar ao lado de Gustavo Lários.

Um Inferno IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora