Capítulo 24

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Gustavo.

Passamos por mais dois estados para a compra das pedras preciosas. Teresa participou de toda a negociação. Ela queria saber se o valor era justo ao produto. Não poderia negar que vê-la tão interessada nos negócios me dava uma sensação de contentamento. Estava estampado na cara dela o quanto apreciava seu trabalho e o quanto entendia dele. Me deixava... orgulhoso.

Estávamos hospedados em um hotel em Chiapas. Não encostei em Teresa em nenhum momento nessa viagem, o que estava me enlouquecendo. Respeitei suas vontades e seu distanciamento, mas aproveitava quando ela me dava pedaços de si mesma. Cada nova coisa que descobria dela me dava ainda mais vontade de conhecê-la.

- Ven!

Teresa puxou minha mão para irmos para a nossa última compra. Nos aproximamos na medida do possível. Já fazíamos até piadas ou riamos juntos. Entrei na sala reservada para nós e repeti o processo de todas as negociações. Os fornecedores nos entregaram um saquinho pequeno. Teresa tirou as pedras e começou a analisar.

- São rubelitas legítimas? - Ela perguntou a um dos fornecedores.

- Sim, senhora.

Teresa se levantou e abriu as cortinas da janela e a luz do sol entrou. Não entendi o que ela queria fazer. Eu não lidava com essa parte de saber qual era a diferença entre a rubelita ou uma turmalina. Estefânia se aproximou dela só observando os movimentos.

- Algo errado, Teresa?

Teresa pegou a pedra de um tom rosa escuro e levou para a luz do sol.

- Se a pedra demonstrar manchas ou mudar de cor é uma turmalina, mas se ela se manter nesse tom é uma rubelita. - Ela explicou com uma facilidade que me impressionou.

Esperamos as mudanças e todas eram rubelitas legítimas. Fechamos negócio e finalmente poderíamos relaxar. Depois do almoço, fomos direto para o aeroporto para voltarmos para a capital, a Cidade do México. Nossa última parada.

- Nervosa? - Estefânia perguntou a Teresa que estava sentada ao seu lado na poltrona.

- Nem tanto. - Ela disse baixo mas pude ver suas mãos unidas se mexendo.

Um gesto da Teresa que demonstrava nervosismo. Não sei se ela percebia que fazia isso, mas eu tinha percebido. Era algo que eu estava fazendo muito ultimamente. Perceber várias nuances dela. As duas foram para o quarto enquanto Victor e eu ficamos conversando.

- É cara, parece que vamos conhecer as famílias. - Victor pareceu tenso.

- Por algum acaso você está nervoso? - Provoquei meu irmão que se mexeu na poltrona.

- O que você acha? - Ele deu de ombros. - E não finja que você não está também. - Me sentei ao seu lado.

- Eu não estou. É você que namora, eu sou apenas o chefe e talvez o amigo.

- Vai se foder. Você não está ajudando. E não pense que percebi a sua reação pelo que ouviu da minha conversa com Teresa. Vocês podem negar o quanto quiserem, mas vocês são muito mais do que apenas chefe e secretária.

- Não vamos ficar por tanto tempo, no máximo mais uns três dias. Temos que trabalhar, isso não são férias. - Ele torceu a cara.

- Falando na diaba, como vocês estão? Rolou alguma coisa? - Neguei com a cabeça. - Como não? Eu ouvi vocês rindo no quarto dela naquele hotel.

- Estávamos bêbados, mas não rolou nada. Como eu disse, sou o chefe e o amigo. O comprometido aqui é você.

-

- Eu já ouvi, Andrea.

Escutei Teresa falar ao telefone na porta do meu quarto. Pelo tom de voz, tinha certeza que estava revirando os olhos naquele exato momento. Porra, eu estava mesmo reconhecendo os gestos de Teresa sem ao menos vê-la. Ainda estava trocando de roupa. Quando chegamos, ela tinha dito que queria me levar para conhecer alguns lugares da cidade. Eu, claro, não neguei.

- Gustavo, se você demorar mais eu irei sozinha! Parece até que vai casar. - Ela bateu na porta do meu quarto impaciente.

- Terminei. - Falei ao mesmo tempo que abria a porta.

Não pude deixar de admirá-la. Estava com um vestido de flores azuis, uma sandália de salto, jaqueta e os cabelos soltos. Nunca tinha visto ela assim.

- Você está bonita. - Coloquei uma mecha atrás de sua orelha.

Ela abaixou a cabeça e me deu um sorriso tímido.

- Gracias.

Descemos até o hall e ela parecia nervosa. Saímos do hotel e um carro estava a nossa espera. Abri a porta para que ela entrasse.

- Por quê você está tão nervosa?

Ela mordeu o lábio inferior. Tentei ignorar essa ação e me concentrar na sua resposta.

- Não é nada.

Olhei para as mãos dela e vi que estavam inquietas. Igual como estavam no avião. Seguindo o GPS, passamos por várias ruas da cidade e Teresa falava sobre elas. Curiosidades e histórias que ela tinha vivido. Mais um pouco, paramos em frente a uma casa de fachada branca e com vidros no dois andares. Desliguei o carro e encarei ela.

- Teresa, o que está acontecendo? - Perguntei não conseguindo mais conter a curiosidade. As mãos continuavam inquietas.

- Olha, você não pode pirar. Eu tinha que vir, faz mais de dois anos que não venho aqui e... - Ela não terminou a frase.

- Se você não falar, eu não vou saber se piro ou não. - Olhei para ela que estava de olhos fechados. - Teresa! - Chamei sua atenção segurando suas mãos.

- Esta é a casa dos meus pais.

Agora sim entendi o motivo dela estar assim. Teresa quase nunca falou sobre sua família. Eu mal sabia sobre ela, que dirá sobre seus pais. Automaticamente pensei em Victor. Filho da puta deve ter me desejado isso.

- Fala alguma coisa. - Ela pediu com os olhos expressivos.

Eu não sabia o que dizer. Qual era meu papel aqui? Seu chefe? Seu amigo? Seu namorado?

- Então vamos ver sua família...

- Quer saber? Se você quiser ir embora, nós podemos ir agora.

Teresa tentou me fazer mudar de ideia e eu ainda estava no dilema. Se ela me trouxe até aqui para conhecer a sua família, então era importante para ela. Eu não iria estragar a oportunidade dela reencontrar seus pais.

- Já estamos aqui. Vamos ver no que vai dar.

Saímos do carro e seguimos em direção à entrada da casa. Pude sentir o nervosismo da Teresa ao meu lado, então coloquei minha mão em suas costas como forma de apoio a ela de que eu estaria ao seu lado.

- Lembra que eu te disse que a minha mãe faleceu quando eu era mais nova, certo? - Acenei com a cabeça lembrando do nosso desastroso jantar. - Bom, eu chamo a minha madrasta de mãe porque ela sempre cuidou de mim como filha e nunca fez distinção sobre os outros filhos. Então, não estranhe quando eu a chamar assim.

Acenei mais uma vez enquanto Teresa tocava a campainha. Logo uma mulher com aparência de uns quarenta ou cinquenta anos, morena de olhos castanhos, apareceu na porta. - Ela foi em direção a Teresa e a abraçou.

- Achei que não veria minha filha novamente. - Sua voz doce me fez sorrir ao constatar que de fato essa mulher amava Teresa como filha.

A mãe de Teresa ficou mais uns segundos abraçada a ela enquanto eu permanecia parado com as mãos nos bolsos esperando. Elas se desgrudaram e então a mulher se voltou para mim.

- Ma, esse é o Gustavo. Gustavo, esa es mi mamá, Marilyn. - Nos cumprimentamos amigavelmente e ela nos convidou para entrarmos.

A casa era muito bonita, muito bem decorada. Conseguia ver muitos traços da personalidade de Teresa ali. Eu estava me sentindo estranho, mas após ver que Teresa vez ou outra buscava o meu olhar como se precisasse de conforto, eu não sairia daquela casa a menos que ela pedisse.

Um Inferno IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora