Capítulo 19

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Uma semana depois

Teresa.

Eu estava atrasada a ponto de Gustavo querer me matar quando eu aparecesse. O voo estava marcado para dez horas da noite e eram quase nove e meia.

- Estefânia, eu já estou indo. Vou te deixar para trás. - Gritei pela última vez.

- Já estou aqui. Vamos! - Ela apareceu na sala.

Cecília me olhou rindo no sofá.

- É engraçado como vocês sempre atrasam. - Ela brincou.

- Não é intencional, às vezes eu sou pontual, tá?

Estefânia pegou a bolsa e sua mala e deu tchau para Cecília.

- Tomem cuidado e não aprontem. Teresa, faça o que tem que fazer. - Ela me aconselhou e eu a abracei.

- Até daqui uns dias. Se cuida, tá? Qualquer coisa liga pra gente.

Dei tchau para Cecília que permaneceu largada no sofá e fechei a porta atrás de Estefânia. O táxi que tínhamos pedido já estava nos esperando e partimos para o aeroporto.

- Você pegou tudo?

- Sim, notebook, celular, papéis da campanha, documentos. - Ela abriu a bolsa para conferir. - Parece estar tudo aqui, menos a sua cabeça. Eu vejo que você está longe.

Estefânia era minha amiga desde que eu tinha nascido praticamente. Ela também era mexicana. E foi por causa dela que decidi vir para cá. Estudamos juntas e moramos juntas desde sempre. Ela era uma das poucas pessoas que conseguiam me ler sem nenhuma ou quase nenhuma dificuldade. Não que eu tentasse me esconder.

- Apenas tentando não pensar no quão desastroso vai ser essa viagem. - Suspirei.

- Não vai.

Nem eu senti tanta convicção na voz dela. Claro, ela estava às mil maravilhas com o Victor, mas Gustavo e eu... Meu celular tocou e na tela o nome de Juju apareceu me fazendo sair dos meus devaneios.

- Bueno?

- Achei que não teria mais notícias suas. Fiquei sabendo da viagem.

Abri a janela do táxi necessitando de ar puro e olhei para a rua enquanto falava.

- Eu estava atolada de trabalho, seu irmão às vezes não tem dó dos outros. É difícil conviver com ele.

- Eu sei, por isso liguei.

Estefânia me cutucou e fez gestos para saber com quem estava falando. Escrevi o nome de Juju no ar, ela sorriu ao entender.

- Não entendi. - Voltei a falar com a menina.

- Teresa, peço que você tenha paciência com Gustavo. Ele tem problema em expressar o que sente e de repente, ele já fez merda.

Respirei fundo e tentei entender o que realmente ela queria dizer. Juju tinha mania de me fazer ler entre as entrelinhas.

- Juju, traduza, por favor.

- Não, você sabe o que quero dizer. Apenas tenha paciência. Boa viagem e boa sorte.

- Obrigada pelos dois, já que com seu irmão, a coisa é realmente com a sorte. -Nos despedimos e desliguei.

- Que lindo. Já está super íntima com a cunhada. - Estefânia sorriu e olhou para mim me cutucando.

- Pode parar, isso foi apenas ela me dizendo para... - Ela praticamente pôs a mão na minha cara.

- Não fala, deixa eu adivinhar: ela quer que você descongele o coração do irmão ou quase isso.

- Para. Não foi nada disso. - Disse revirando os olhos.

Chegamos ao aeroporto depois de quase uma eternidade e de longe vi a cara de mau humor do chefe.

- Se prepare, ele parece que vai soltar fogo pelas ventas. - Estefânia brincou, mas no fundo ele parecia que ia fazer isso mesmo. Caminhamos com nossas malas até a pista de pouso onde estava o jatinho da família Lários.

- Se eu já não sabia medir a riqueza deles, agora vendo essa coisa que não vou saber mesmo. - Estefânia me divertiu.

Não vou mentir, o jatinho era lindo e, claro, personalizado com o nome da família. Vamos lá, Teresa. Seja profissional.

- Rezende, são dez e vinte e sete!

Gustavo reclamou assim que me aproximei. Parei na sua frente. O terno estava impecável, sem gravata dessa vez, a camisa social azul clara era com os primeiros botões abertos. Cabelo penteado para trás, as típicas mãos nos bolsos e os olhos verdes. Deus me ajude.

- É São Paulo, Lários. - Respondi ríspida.

- Você poderia ter saído mais cedo.

- Isso não te impediu de esperar.

Gustavo pegou minha mala, pôs a outra mão na minhas costas e começamos a andar. Não tão longe vi Estefânia com Victor aos beijos. Gustavo pigarreou.

- Acho que já podemos ir. - Ele falou para os dois que estavam na nossa frente rindo. - Parece que vai ser uma longa viagem. - Ele sussurrou em meu ouvido me fazendo arrepiar inteira.

Eu sei, Gustavo. Eu sei. Subimos a escada e estávamos em uma cozinha bem organizada e um tanto grande. Os funcionários estavam em pé esperando para serem apresentados. Gustavo fez o seu papel de anfitrião e me falou o nome de cada um e suas funções. Dois cozinheiros e duas aeromoças. Bonitas, é claro. Me virei para ele que estava bem atrás de mim.

- Você não perde a oportunidade de estar na companhia de mulheres, não é mesmo? - Levantei uma sobrancelha para ele em desafio.

Ele deu um sorriso de canto que por poucos milésimos de segundos me fez derreter.

- A começar por você. - Ele respondeu dando uma piscadela para mim e me virei para frente para continuar.

O cômodo da frente pareceu ser uma ala de descanso e pensei que seria a nossa.

- Essa parte é a área de descanso do funcionários. - Ele explicou, o que não deixava de ser uma área pra mim.

Andei mais para a frente e saímos em uma sala um tanto espaçosa. As paredes eram de um branco perolado, a mesa de um marrom conhaque, as poltronas eram de couro meio acinzentado. Mais a frente tinha um sofá e uma TV suspensa na parede.

- Venha, vou te mostrar os quartos. - Eu estava tão encantada que esqueci completamente que não estava sozinha.

- Quartos? - Franzi o cenho para Gustavo.

- Achou que dormiria onde?

O corredor tinha três portas. Uma estava fechada, a outra estava aberta e Estefânia estava beijando Victor. Urgh. A última porta estava fechada. Gustavo estava a minha frente e abriu. A primeira coisa que vi foi a cama de casal com uma manta bege quase dourada e com muitos travesseiros. Aos lados, móveis de cabeceira. Na frente da cama, uma penteadeira e mais uma poltrona. Abri a outra porta que estava dentro do quarto, pensei ser um armário, mas me surpreendi mais uma vez. Um banheiro de um tamanho bom apareceu, lindo. Voltei ao quarto e esperei por Gustavo.

- Nossa, eu nunca pensei que pudesse entrar em um desse, nem ao menos imaginava que existia. - Comentei envergonhada. Ele riu.

- Você parece uma criança. Espero que tenha gostado, porque vamos dormir aqui.

Congelei. As palavras não saíram da minha boca. Acho que meu cérebro não permitiu que eu falasse besteiras ou que o contrariasse. Eu conseguiria?

Um Inferno IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora