Capítulo 20

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Gustavo.

Teresa estava toda de preto quando chegou. Seu cabelo estava solto e mais claro por estar de noite e as luzes do aeroporto o iluminava ainda mais. Claro que a provoquei por conta do horário. Eu sabia que ela chegaria atrasada, então marquei para saírmos às dez e meia. Filha da mãe chegou bem em cima da hora. Mostrei todo o jatinho e me diverti ao ver que ela parecia uma criança em um parque de diversões. Mas a melhor hora foi quando disse que dormíramos no mesmo quarto. Na verdade ainda estava processando sua reação. Pus sua mala em cima da cama.

- Tire o que você vai usar hoje, porque vou colocar a mala no bagageiro.

Ela se levantou da cama e me olhou ainda perdida.

- Pode guardar. Eu já tenho roupa. E antes de você ir, saiba que eu vou dormir com Estefânia.

- Não vou discutir.

- Isso mesmo. Não tem o que discutir.

Guardei as malas no bagageiro e em seguida peguei alguns papéis para trabalhar. Perto das onze estávamos no ar. Em algum momento da noite estávamos todos na mesa discutindo sobre a campanha e os contratos. Depois de muita conversa, análises e resoluções, Victor começou a reclamar, mas a verdade era que ele queria transar.

- Acho que por hoje já está bom. - Victor falou juntando os papéis.

Estefânia estava ao seu lado rindo. Sei que não viam a hora de se jogarem na cama e se afundarem um no outro. A imagem me enjoava.

- Também acho, já são quase duas da manhã. - Teresa concordou ao meu lado.

Estefânia foi a primeira a sair da mesa indo direto para o quarto. Acompanhei o olhar de Teresa para ela ter certeza de que o que eu disse se cumpriria. Victor se levantou.

- Bom, boa noite aos dois e se comportem. Precisamos dos dois vivos para fecharmos negócios amanhã.

Ele saiu sorrindo e por fim sobrou Teresa e eu. Nada de pânico. Ela não demonstraria. Nisso éramos bem parecidos, camuflávamos o que sentíamos para não nos expormos ao ridículo. As duas aeromoças ainda estavam acordadas a espera de um chamado. Levantei a mão no corredor e a loira alta apareceu.

- Sim, senhor Lários?

Claro que olhei para ela. Belos olhos azuis, mas eram falsos. A lente do olho esquerdo estava mal posicionada. Me fez querer rir, mas me segurei. Quem era eu para julgar?

- Eu quero uma dose de whisky e para a senhorita Rezende... - Estendi a mão para lhe dar a palavra.

Teresa me fuzilou com o olhar e depois se voltou para a loira.

- O mesmo. - Ela respondeu e a aeromoça saiu.

- Tem certeza de que vai querer beber álcool agora?

- Vai controlar minha taxa de álcool?

Nossos copos chegaram e dispensei as duas para irem dormir. Depois de beber e apenas olhar Teresa ir para o quarto, aguardei. Queria dar espaço a ela. Acredito que fiquei até as três analisando mais papéis que, pra mim, àquela hora pareciam não prestar para nada. Depois fiquei pensando no que essa viagem daria no final das contas. Era uma compra de pedras preciosas, mas como Victor tinha dito, nunca era só uma viagem de negócios. Me levantei da poltrona e fui andando até o quarto. Realmente esperava que Teresa já estivesse dormindo porque eu não queria ter que ficar discutindo ou mandá-la para a sala. Claro que eu nunca faria isso. Mas o pensamento me divertiu.

Abri a porta do quarto com o mínimo esforço, joguei minha camisa e o terno na mesa em frente a cama. A cama estava vazia e arrumada, mas a roupa de Teresa estava sobre o travesseiro. Merda. Por segundos imaginei ela nua. Sem nada. Toda molhada. A porta do banheiro se abriu e ela apareceu. Filha da mãe só podia estar de brincadeira. Eu não ia aguentar. Ela estava com uma camisola preta que porra... Não estava me deixando pensar direito. O tecido fino todo grudado no corpo, a pele amostra. Tudo.

- Você só pode estar brincando. - Falei inconsciente me deliciando com a visão do seu corpo.

Ela ajeitou o cabelo, saiu do banheiro e vestiu um robe preto. Acompanhei seus movimentos sem me mover. Estava petrificado.

- Era pra eu estar dormindo com Estefânia.

Meu pensamentos estavam um pouco confusos. Ela fechou o robe com as mãos e segurou para que não abrisse nem um pedacinho. Malvada.

- Você ia transar com ela? - Perguntei divertido.

- O que? Claro que não. Eu só... Só... Eu vou tomar alguma coisa. - Ela saiu do quarto bem rápido.

- Um banho, Gustavo. Um banho para acalmar os nervos. - Suspirei.

Tirei minha roupa e relaxei no meu banho. A noite iria ser longa.

-

Teresa.

Louca. Eu estava ficando louca. Saí do quarto e corri para a cozinha procurando silenciosamente pelo álcool. Achei a garrafa de whisky e peguei um copo. Precisava sentir o líquido queimar minha garganta pra tentar acalmar meus nervos. Bebi duas doses, mas resolvi levar pro quarto. Na ala de descanso dos funcionários, havia somente uma aeromoça e um cozinheiro e eles estavam dormindo. Andei normalmente até o corredor, reparando nos detalhes.

- Realmente muito dinheiro. - Sussurrei admirada.

Passei pela porta do quarto de Estefânia e queria que por um segundo eu fosse surda. Podia até se confundir com uma turbulência. Ouvi os gemidos e os gritos dela lá de dentro. Eu não poderia, mas sim, aquilo me excitou um pouco. Não pelo fato de ser os dois, mas por mim e... Soltei um grito estrangulado enquanto entrava no quarto batendo à porta.

Felizmente Gustavo não estava a vista, provavelmente estava no banho. Me sentei na cama e me servi novamente. Esperei ficar alegre rápido, porque não aguentaria ouvir Estefânia e Victor transando feito loucos enquanto eu teria que me controlar a noite inteira e lidar com o fato de que o gostoso e cretino do meu chefe dormiria ao meu lado.

Fechei os olhos implorando para o sono chegar. Um clique me assustou e me ajeitei para ver o que era.

Molhado. Todo molhado. O Lários maldito saiu do banheiro somente com a toalha na cintura. Ele passou as mãos no cabelo molhado e sorriu. Merda. A temperatura pareceu estar subindo.

- Eles poderiam fazer menos barulho.

Sua voz saiu rouca e eu só concordei sem ao menos saber do que se tratava. Me concentrei na gota d'agua que estava escorrendo pelo seu abdômen e se perdeu na toalha. Irresistível. Desejei que fossem minhas mãos no lugar dela.

- Quer alguma coisa, senhorita Rezende?

Despertei da minha fantasia assim que ouvi a voz de Estefânia gritando no quarto ao lado. Fechei os olhos para acalmar todos os meus nervos e hormônios.

- Eu... acho...

Minha voz falhou ao ver Gustavo pegando uma toalha menor e começando a secar o cabelo. Meus olhos focavam em seus braços, em seu abdômen, em seu rosto. Em tudo. Ele me afetava de uma forma avassaladora.

- Quer alguma coisa?

Ele voltou a perguntar, mas desta vez com a voz lenta como se estivesse me hipnotizando mostrando a intensidade dessa pergunta.

- Você. - Minha voz saiu trêmula.

Um Inferno IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora