Capítulo 63

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Puta.

Piranha.

Vadia.

Nenhum adjetivo era o suficiente para qualificá-la. Avancei nela levando seu corpo até a parede em que o sofá estava encostado. Ouvi seu corpo se chocar e cair no sofá. Aproveitei que ela estava se recuperando e me posicionei em cima dela agarrando seu pescoço com minhas mãos.

- Escute aqui sua vadia, eu vou ser bem clara. Se eu ver o seu rostinho na Império eu vou te deformar de um jeito que ninguém no mundo irá te reconhecer e se você sumir com esse filho eu vou até o inferno atrás de você. Fui clara?

Apertei minhas mãos e seu rosto estava passando do vermelho.

- Teresa, você vai matá-la! - Rosana surgiu tentando me tirar de cima de Nicole.

Ela tossiu enquanto voltava a respirar. Senti meu celular vibrar em meu bolso e atendi sem ver quem era.

- Aonde você está? - Droga, era Gustavo.

- Eu? Eu estou com uma amiga. Nós estamos meio que ocupadas agora. - Falei apressada.

- Ocupadas? - Ele questionou.

Gustavo não faz perguntas agora! Olhei para Nicole e ela ainda estava meio vermelha e do nada Emílio começou a chorar. Sinalizei para elas fazerem ele parar, mas Gustavo notou.

- Teresa, por que uma criança está chorando? Aonde você está?

- Sou eu, Gustavo. Fala oi pro papai, Emílio! - A vadia da Nicole gritou perto de mim.

- Teresa? Teresa, que porra...

- Eu tenho que ir, depois eu te ligo.

Desliguei o celular.

- Você não ouviu sequer uma palavra do que eu disse? Se você causar mais problemas, pode ter certeza de que essa marca no seu pescoço não será a única no seu corpo. Não ouse sair da cidade, eu ainda não acabei com você.

Abri a porta e saí do quarto sem esperar por Rosana. Quase esqueci de passar numa farmácia. Quando saí de lá com a pílula já tomada, fui direto pro apartamento de Gustavo.

- Gustavo!

Andei pela cozinha e pela sala procurando-o. Não sabia o que estava passando em sua mente. Deixei minha bolsa no sofá e subi para o quarto onde guardei minha última esperança de encontrá-lo. Antes mesmo de entrar, o encontrei de pé olhando para a cidade da sacada. Ele estava molhado e com uma toalha enrolada na cintura. Parei por um segundo para pensar na reviravolta que nossas vidas tinham dado. Eu jamais imaginaria que namoraria o diretor da empresa onde eu trabalhava e que de brinde viria uma ex namorada louca com um filho para tentar acorrentá-lo. Um filho. Novamente a dor me atacou no peito. Como poderia lidar com isso? Tirei os sapatos e andei até ele tentando não fazer barulho.

- Oi. - Me encostei ao lado dele na sacada.

Ele não se virou para falar comigo. Ele estava bravo. Bravo comigo. Bravo por eu não ter contado aonde estava. Reparei suas costas que ainda continham gotas de água e emanavam calor. Queria tocá-lo. Queria confortá-lo.

- Me diz que eu ouvi errado? - Ele sussurrou sem olhar para mim.

- Baby, eu...

Não haviam palavras para descrever a dor que eu sentia. Sentia que iria desabar em algum momento quando me desse conta do que realmente estava acontecendo, mas agora tinha que estar aqui para ele. Tinha que apoiar suas decisões e me mostrar firme diante da situação.

- Você está bem?

- Estou.

Silêncio.

- Eu não sei o que fazer, Teresa. Não posso obrigar você a ficar comigo tendo filho de outra, uma outra que ambos odiamos. Pode partir se quiser, mas eu peço que não me deixe. Eu não sei mais viver sem você e...

Puxei Gustavo para dentro do quarto novamente. As lágrimas que tanto briguei para não caírem, agora não pararam. Essa foi a única parte do dia em que me senti segura. Aqui com ele. Deitei com ele na cama ficando lado a lado.

- Você vai...

- Eu não vou nada. Eu te amo, já te disse isso. Nada vai mudar. Se for verdade, vamos aprender a lidar com a situação.

Gustavo fechou os olhos e se aproximou da minha barriga.

- Queria que estivesse alguém aqui, Teresa. - Sua mão quente fez contato com a minha barriga. - Alguém que tivesse essa sua teimosia e esse seu sorriso. Alguém que fosse nosso.

As lágrimas não paravam de descer. Filhos. Imaginei Gustavo e eu em uma casa cheia de filhos. Nossos filhos. Ele agarrou minha cintura e apoiou a cabeça em minha barriga e ficou lá. Tentei não me mover, mas os soluços não me deixavam quieta. Me acalmei e parei de chorar. Permanecemos em silêncio.

- Gustavo?

Ele não respondeu. Dormiu. Ele dormiu na minha barriga.

- O que eu vou fazer? O que vamos fazer, baby?

Acariciei seus cabelos velando seu sono. Dormi.

-

Gustavo.

Exaustivo resumia o dia de ontem. Lidar com minha mãe e minha irmã foi leve em comparação a notícia que Nicole explodiu em cima de mim. Um filho com ela, isso jamais passou pela minha cabeça. Acordei no meio da noite e tentei vasculhar minha mente a procura de algum sinal de que esse filho realmente pudesse ser meu. Quando eu estava com ela, nós nos protegíamos, não conseguia me lembrar se falhei nisso alguma vez. Passei maior parte da noite vendo Teresa dormir e soluçar em consequência da lágrimas derramadas mais cedo. Bebi. Esse foi meu jeito de lamentar. Depois de beber, tomei um banho e comi, não queria que Teresa acordasse e me visse com cheiro de whisky. Me agarrei a Teresa novamente, mas confesso que recuei por alguns segundos quando toquei sua barriga.

Acho que nunca desejei na vida ter um filho com alguém, como queria com ela. Tinha essa certeza. Ela que vai me encher de pirralhos que vão pular em cima da gente todo dia e me acordar com um beijo toda manhã. Vai gritar comigo por ser um babaca e por me atrasar no início da apresentação de uma das crianças. Vai me derrubar da cama para fazer um dos bebês dormir porque ela estará cansada demais. Vai se emocionar quando as crianças falarem as primeiras palavras e derem os primeiros passos. Vai se estressar ao organizar a primeira festa de aniversário de um deles e com certeza vai colocá-los para dormir e fazer amor comigo a noite toda para trazermos mais um ao mundo. Essa era a vida que queria ter com ela. Quem diria que eu me apaixonaria e desejaria filhos? Teresa me deu uma visão nova de mundo e iria fazer o mesmo por ela. Depois de toda uma vida planejada, abracei minha mulher sem receio e dormi.

Na manhã seguinte, acordei e Teresa não estava na cama. Ouvi o chuveiro ligado e esperei ela sair. Estranhei a demora.

- Teresa? Você está bem? - Bati na porta do banheiro preocupado.

Ela não respondeu. Abri a porta e o banheiro estava parcialmente embaçado. Fui até box e abri a porta de vidro vendo Teresa sentada no chão.

- Ei. - Sussurrei.

Ela levantou sua cabeça e pude ver a expressão triste no rosto. Ela estava chorando. Droga. Eu sabia que isso ia acontecer. Minha mulher tinha cara de durona, mas no fundo era doce e sensível. Tirei minhas roupas e me juntei a ela dentro do box. Estendi a mão para ela, que hesitou por alguns instantes, mas logo em seguida me deu a mão e eu a levantei.

- Me desculpa. - Ela sussurrou em meus braços.

- Baby, tudo bem chorar. Estamos numa situação complicada, então tudo bem chorar.

Permanecemos deixando a água cair em nós abraçados. Teresa levantou a cabeça e agarrou meu pescoço me surpreendendo.

- Eu te amo.

Um Inferno IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora