– Nem pense nisso, eu estou dolorida ainda. – Ele riu. – Como está Emílio? – Perguntei curiosa.
– Bom, foi difícil levá-lo até o cemitério e minha mãe começou a usar O Rei Leão como referência para contar a ele o que tinha acontecido.
Meu coração deu um nó só de pensar no que essa criança iria passar.
– Ela não era um Mufasa e sim um Scar.
– Em falar nisso, estamos adiando essa coisa do Emílio. Temos que oficializar as coisas logo. Encontramos os papéis da certidão e parece que Nicole já tinha pensado em tudo.
Gustavo me mostrou papéis que tinham espaços para assinatura do pai de Emílio.
– Eu estou com o exame aqui, quer dizer, em algum lugar da minha bolsa. Eu fiz um seu e um do Victor pra tirar as dúvidas.
Gustavo pegou minha bolsa num armário do quarto abrindo-a retirando o envelope que estava praticamente vegetando lá dentro. Abrimos juntos e pulei algumas informações até chegar aonde realmente importava.
– Negativo. O teste de paternidade deu negativo.
– Então, vamos só confirmar. – Gustavo abriu o segundo envelope que continha o teste de paternidade de Victor. – Positivo.
Eu estava aliviada. Meu Deus, essa notícia foi como um sopro de alegria para nós. Gustavo não era pai de Emílio. Ele não era o pai do filho daquela psicopata.
– Oh meu Deus. Como iremos contar isso a eles? Estefânia acabou de perder um bebê e... – Coloquei a mão em minha boca percebendo a merda que tinha feito.
– O que você disse? Estefânia perdeu um bebê? Foi por isso que ela ficou aquelas semanas no loft?
– Você tem que prometer não contar a ninguém, Gustavo, por Dios.
– É claro que não vou contar para ninguém. Não é da minha conta.
– O que vamos fazer agora? Vamos contar a eles? Victor ainda está se recuperando e Estefânia nem sequer veio me ver. – Queria não ficar chateada com isso, mas não podia evitar.
– Eu acho que devemos contar logo. Não podemos esperar mais. É a vida de uma criança de três anos que está em jogo. Victor merece saber que tem um filho.
Ele estava certo. Emílio era um inocente no meio de toda essa história.
– Você está certo.
– Vou buscar uma cadeira de rodas para irmos até o quarto deles. – Gustavo falou e saiu do quarto.
Gustavo voltou com a cadeira de rodas para irmos ao quarto de Victor que ficava no andar de cima. Como tinha dito, a situação dele era um pouco mais complicada que a minha, sua cirurgia foi super longa, mas tudo ficou bem. Chegamos lá e ele estava com Estefânia sentada ao lado da cama dele. Ela não se atreveu a olhar para mim, o que me deixou triste. Mas dessa vez, o assunto era mais importante.
– A volta dos que não foram. – Victor disse divertido ao me ver entrar com Gustavo no quarto.
– Te digo o mesmo. – Não pude deixar de sorrir. – Que bom te ver bem.
– O que aconteceu para Gustavo deixar você sair assim da cama? Soube que ele estava sendo um pé no saco.
Olhei para Gustavo sorrindo ao ouvir o rosnado dele pro irmão.
– Eu não me importo. – Estefânia pigarreou claramente incomodada com aquela conversa. – Viemos aqui falar sobre um assunto importante.
– Victor, você lembra que eu disse que Teresa e eu decidimos fazer um teste de paternidade para saber se Emílio era realmente meu filho?
Victor balançou a cabeça acenando e Estefânia se mexeu na cadeira desconfortável. Ainda era um assunto bem delicado porque ela era a única que não sabia de nada.
– Não podemos negar as semelhanças da criança com vocês dois. A questão é que vocês dois transaram com Nicole na mesma época e as chances seriam de cinqüenta por cento cada. Gustavo e eu abrimos o nosso teste hoje e deu... Negativo.
Victor tinha uma expressão estranha em seu rosto que não consegui definir se era boa ou ruim, podia classificá-la como confusa.
– Você está me dizendo que... Que Victor é o pai? – Estefânia perguntou sem olhar para mim.
– Sim.
Minha amiga estava pálida.
– Como sabem que é dele?
– É difícil aceitar uma informação assim jogada na cara, mas os fatos estão aí, filho de um dos dois ele seria e de Gustavo não é. Para garantir, nós fizemos o teste de paternidade de Victor e deu positivo.
– Então o garoto é meu? – Ele perguntou incrédulo.
– Sim, você é o pai e o único responsável agora. – Gustavo respondeu.
– Com licença. – Minha amiga saiu do quarto correndo.
– Deixa ela. Estefânia precisa de espaço para lidar com isso.
– Eu sei que não é uma notícia fácil e nem...
– Teresa, eu sei que os últimos dias não foram fáceis, mas essa conversa não vai ajudar. Eu não sei nada sobre ser pai, nem conheço o pirralho, como devo chegar nele e dizer: “Oi, sou seu pai. Vamos tomar sorvete?” – Ele disse rude.
– Victor! – Gustavo latiu. – Não seja um idiota com a Teresa, ela só estava tentando ajudar. Não foi fácil pra mim e não vai ser pra você. Emílio foi meu filho por alguns dias e ele vai ser seu pro resto da vida. Eu também não sabia de nada sobre ser pai, ninguém sabe. Não é algo que vem com manual de instruções. Se aprende a cada dia. – Uau, até eu fiquei surpresa com esse discurso dele.
– Muito obrigado, Gustavo, mas não é hora de filosofia. – Victor reclamou. – Eu acho que agora vou precisar de tempo pra digerir tudo. Preciso conhecer o moleque, preciso falar com Estefânia, preciso sair daqui e me recuperar.
Victor disse com uma expressão que nos dizia para deixá-lo. Não queria que fosse assim, ainda mais com Gustavo sendo seu irmão. Gustavo acenou com pesar e saímos do quarto dele voltando para o meu. Eu já estava ficando cansada.
– Por mais que eu queira resolver a situação com eles, eu acho que devemos dar um tempo pros dois e nos concentrarmos em nós, na sua recuperação. – Gustavo disse me ajudando a deitar na cama.
– Eu não queria que as coisas acontecessem desse jeito, Gustavo.
– Eu sei, amor, mas não podemos mudar o que aconteceu. Todos estão magoados de alguma forma, o tempo é o melhor remédio para curar.
Aceitei inconformada, mas ele estava certo. Todo mundo estava de alguma forma se recuperando do que tinha acontecido e precisávamos nos curar. Deixaria Victor e Estefânia de lado por um tempo e voltaria a pensar em mim e em Gustavo um pouco. Era o melhor a se fazer.
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Um Inferno Irresistível
FanfictionTeresa Rezende é uma jovem mexicana que veio ao Brasil para estudar design. Morando em São Paulo e dividindo um loft com mais duas amigas, ela ama seu trabalho, mas sonha em ter uma melhor posição na empresa que estagia. Gustavo Lários, é o CEO dest...