Capítulo 23

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Teresa.

Dor de cabeça. Parecia que tinham pessoas pisando na minha cabeça. Nem sei o que tinha acontecido, só lembrava de comer e conversar com Victor, Estefânia e Gustavo e tudo depois disso foi apagado. Rezei para que não tivesse feito nada que eu me arrependesse. Pelo menos estava com a roupa de ontem. Ufa. Era um bom sinal. Corri para o banho para eliminar todo o vestígio de vergonha.

Fiz minhas higienes e saí do banheiro nua para me trocar completamente alheia enquanto secava meu cabelo. Dei um belo de um grito quando bati o olho em Gustavo sentado em uma cadeira no meu quarto. Minha alma quase tinha saído do meu corpo. Me cobri (ou tentei) com meus braços. Ele me olhava sem ao menos disfarçar.

- Gustavo! Fecha os olhos! - Gritei nervosa. - Como raios você entrou aqui?

Ele estava quieto. E ao contrário do que esperava, continuou me olhando sem nenhum pudor. Corri para pegar um lençol e acabei caindo do lado da cama.

- Você está bem? - Finalmente ele falou e pude ouvir uma pitada de diversão em sua voz.

- Fica aí! Não se aproxime! - Peguei o lençol e puxei da cama para me cobrir. - O que você está fazendo aqui?

- Vim ver como você está. - Ele deu de ombros. Me encolhi no lençol.

- Já viu. Agora pode ir. - Ele se aproximou e implorei pelo olhar para que ele se afastasse. - Gustavo, você tem que sair. Agora. Se você não for vamos acabar...

Tentei afastá-lo com a mão, mas ele me puxou pelo braço e me grudou em seu corpo.

- Vamos acabar o que você começou ontem. - Ele sussurrou tentando puxar meu lençol e eu apertei ainda mais em meu corpo.

O que eu tinha começado ontem? O que ele queria dizer? Meu Deus, o que eu fiz ontem?

- Você vai sair agora! Por que senão, eu vou chamar os seguranças. As onze temos que ir para o aeroporto. Eu tenho que me arrumar e me focar em ser a secretária e você o chefe. O chefe! Entendeu?

Nos encaramos por um momento até que Gustavo tirou as mãos do meu corpo e foi em direção a porta. Confesso que senti imediatamente falta do seu calor. Me questionei por alguns segundos. Olhei ao redor para analisar minhas coisas, tentei lembrar em que momento eu dei minha chave para ele.

- Como você entrou aqui? - Perguntei novamente curiosa. Muito curiosa.

- Ah, foram tantas coisas... No elevador, no corredor... - Ele falou sorrindo desviando da minha pergunta.

- VETE!

Joguei um travesseiro em sua direção e dessa vez ele obedeceu e saiu. Eu não posso ter transado com ele. Não posso! Eu me lembraria, certo? Me lembraria de ter transado com Gustavo Lários.

- Teresa, pelo amor de Deus, não pira agora!

Estefânia. Se aconteceu alguma coisa no elevador ela deve ter ouvido. Tem que ter. Me troquei correndo e arrumei minhas malas. Confiante. Tinha ser confiante. Eu sabia que eu não tinha feito nada. Nada. Bati na porta de Estefânia. Nada. Bati de novo.

- Estefânia! Agora! - Falei alto o bastante para todo corredor ouvir. Ouvi passos e o clique da porta.

- Você não podia esperar? - Ela perguntou inconformada. Atrapalhei algo.

O cabelo estava bagunçado e ela estava apenas com a calça e o sutiã. E algo que eu realmente não queria e nem merecia ver: Victor deitado pelado com apenas um travesseiro cobrindo o que eu não queria ver.

Pelo menos não dele.

O que era isso? Não queria ver nada de ninguém. Coloquei minhas malas dentro do quarto e sentei na cadeira que estava na perto da mesa.

- Victor, vai se vestir. - Peguei o travesseiro que estava no chão e joguei nele. - Agora! - Ele se enrolou no lençol e foi para o banheiro.

- Pode falar agora. - Ela sentou na cama e começou a abotoar sua camisa.

- Você subiu cedo ontem...

- Isso foi uma afirmação ou uma pergunta? - Estefânia estreitou os olhos.

- Uma pergunta.

- Sim, subi. Com Victor.

- Certo. - Ela começou a pentear o cabelo fazendo um coque baixo.

- Você ouviu alguma coisa no corredor? - Não. Responde que não, por favor.

- Depende, por que? - Ela sorriu e eu comecei a morrer internamente.

- É que eu preciso saber se eu estou louca. Quero ter certeza se você ouviu alguma coisa no corredor.

Ela se levantou e foi até o outro lado do quarto voltando com um sapato na mão.

- Na verdade, eu ouvi sim. Umas batidas, alguns suspiros, uns barulhos estranhos. Era você?

Droga.

- Não. - Menti. - Era só isso que eu queria saber. Te vejo lá em baixo.

Desci com minhas coisas e deixei na recepção. Fui para o restaurante do hotel e acabei encontrando Gustavo em uma mesa.

- E então? Está bem?

- Muito bem. - Respondi. Que nada, estava toda confusa e desmemoriada.

- Tem água, caso você esteja de ressaca, e se quiser, um suco de maracujá. - Ele falou enquanto estava mexendo no celular.

- Está dizendo que eu não sei beber e que preciso me acalmar? - Estreitei os olhos e cruzei os braços.

- Claro. Na verdade, eu quero beijar a sua boca sóbria e não bêbada de tequila.

Gustavo parou de mexer no celular e finalmente olhou para mim dando um sorriso que me tirava do eixo. Ele estava de social, mas sem o terno dessa vez, só a camisa que estava aberta no inicio do peito. Sentia seu perfume pairando no ar.

- Eu não fiz nada ontem. Eu saberia.

- Claro. Continue assim, mentindo para si mesma.

Já era hora de ir ao aeroporto, as malas já estavam nos carros e antes de entrar, Victor me chamou.

- Teresa, foi mal pelo que você viu mais cedo...

- Está tudo bem, Victor, você não foi o primeiro homem que vi sem roupa. - Dei risada pela cara sem graça dele.

- Por quê você viu o Victor sem roupa?

A voz de Gustavo soou atrás de mim séria. Muito séria. Talvez fosse por isso a cara de pamonha de Victor. Olhei para trás e ele olhava pro irmão de uma forma que nunca tinha visto antes. O que ele estava fazendo? Marcando território?

- Precisava falar com Estefânia e acabei atrapalhando a rapidinha do casal. - Justifiquei sem entender porque estava dando satisfação a ele.

- Em minha defesa, ela que invadiu o meu quarto. - Victor deu de ombros e saiu de perto da gente.

- Por que demorou? - Perguntei a Gustavo que foi o último a sair do hotel.

- Uma pequena pendência. - Ele piscou e seu olhar voltou a encontrar o meu. - Mas já estou aqui. Sentiu saudades?

- Nos seus sonhos, Gustavo Lários.

Entrei no carro esperando que ele fizesse o mesmo. Tinha muito trabalho a fazer.

Um Inferno IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora