Capítulo 76

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Dois meses depois

– O que você está fazendo aí? – Me assustei ao ouvir a voz de Gustavo atrás de mim.

– Olhando a cidade. – Disse baixo ainda observando o movimento noturno da cidade abaixo de nossa sacada.

     Gustavo se aproximou de mim me abraçando por trás segurando minha barriga. Suspirei alto encostando minha cabeça em seu ombro.

– E esse suspiro? – Ele perguntou curioso.

– Liguei pra Estefânia. Quer dizer, tentei. – Dei de ombros. – Ela não me atendeu.

– Amor...

     Gustavo me puxou de volta para o quarto me fazendo sentar de frente pra ele.

– Gustavo, não é justo. Ela não pode me ignorar pra sempre, pode? Porra, seremos da mesma família. Somos melhores amigas, ela nem foi me ver no hospital e mal falou comigo depois de tudo. – Eu estava inconformada.

– Ela foi te ver... – Ele disse baixo e quase não acompanhei.

– O que?

– Estefânia foi te ver no hospital.

– E por quê você não me contou? Quando ela foi?

     Levantei da cama e caminhei pelo quarto.

– Você ainda estava dormindo. Ela ficou lá um tempo enquanto eu estava com Victor. Não sei o que ela disse, eu não perguntei e ela também não me contou.

– E por quê até agora ela está me evitando?

– Eu não sei, Teresa. Eu não falei nada porque achei que depois ela iria falar com você. Depois veio a história do Victor ser o pai do Emílio e eles pediram um tempo e você estava se recuperando, eu não pensei mais nisso. Minha prioridade era e continua sendo você.

– Já faz dois meses. – Suspirei.

– Victor falou comigo e eles estão bem. Emílio está se adaptando aos poucos a rotina e ele está se recuperando bem. Não se preocupe tanto, amor, vocês vão voltar a se falar logo.

     Gustavo me puxou novamente para a cama para que pudéssemos dormir. Eu queria tanto que minha melhor amiga estivesse comigo nesse momento. Sabia que ela ia surtar quando soubesse que eu tinha novidade – além do casamento.

     Fizemos um jantar de noivado na casa da família Lários apenas para oficializar as coisas. Victor e Estefânia não estiveram presentes. Desde o dia do hospital, eu não tinha mais visto ou falado com Estefânia. Ela tinha me cortado da vida dela, aparentemente. Eu dei o espaço que ela precisava, mas pelo visto, ela não queria mais a minha amizade. Nossa amizade de quase uma vida tinha ido por água abaixo.

     Acordei de súbito correndo para o banheiro. Mais um dia de mal estar matinal. Eu já sabia o que estava acontecendo comigo. Gustavo tinha saído para correr cedo e eu estava sozinha no apartamento dele. Depois de sair do hospital, Gustavo me convidou para morar com ele e não fazia sentido eu não aceitar. Iríamos nos casar em alguns meses.

– Aqui está o que você pediu.

     Andrea apareceu no apartamento com uma sacola. Eu tinha ligado para ela pedindo um help.

– Eu não posso acreditar que dessa vez é verdade! – Ela disse animada.

– Você nem sabe o resultado.

– Mas eu confio na minha intuição. Vá logo fazer.

     Fui até o banheiro e fiz xixi no palito. Eu estava com todos os sintomas de gravidez. Meu Deus, minha vida mudaria de acordo com o resultado daquele palito. Esperei cinco minutos, como dizia na embalagem e, aos poucos, vi as listrinhas surgirem no espaço indicado. Merda. Merda. Merda. Saí do banheiro segurando o palito até encontrar Andrea no quarto.

– E aí? – Ela perguntou ansiosa.

– Positivo.

     O grito que Andrea deu, eu tinha certeza que pode ser ouvido de todo o prédio. A minha irmã pulou em cima de mim me dando um abraço de urso e acabamos caindo na cama rindo.

– EU VOU SER TITIA! – Andrea gritou.

– Você já é tia, Andrea. – Revirei os olhos pensando no filho do Antonio.

– Sim, mas serei tia de um bebê seu. Meu Deus, eu vou estragar seu filho, Teresa. Serei a melhor tia que ele vai ter.

– Você vai criar uma guerra com a Juju e a Verônica. – Disse rindo.

– Vou comprar agora mesmo a primeira roupinha dele ou dela. Quero ser a primeira a dar um presente pra esse bebê. – Andrea estava muito animada.

– Calma, Andrea. Eu ainda tenho que falar com o pai.

– Ah, Teresa, me poupe. O Gustavo vai ser o pai mais babão de São Paulo. Vai ser um nojo.

     Estava sentindo borboletas no estômago. Quase nunca falávamos sobre filhos, mas depois do episódio do Emílio, ainda lembrava do dia em que Gustavo desejou que eu tivesse com um filho dele na barriga. E agora, eu tinha. Eu traria ao mundo um filho de Gustavo. Um bebê Rezende Lários.

     Combinei com Andrea de fazer uma surpresa para ele. Ela me garantiu que compraria algo para que eu pudesse fazer a surpresa. Claro, eu também teria que fazer um exame de sangue para confirmar 100%, mas eu sabia que já estava carregando um serzinho dentro de mim.

     Consegui guardar segredo por mais dois dias. Foi o tempo em que fazia o exame de sangue e Andrea trazia para mim a maior surpresa de todas. Esperei Gustavo chegar da Império – eu ainda estava de licença, trabalhando em casa – para finalmente contar a novidade.

Mi amor, vem aqui.

     Chamei Gustavo até a cozinha que tinha acabado de entrar em casa. Ele sorriu ao me ver e veio em minha direção me dando um beijo.

– Você não sabe a falta que me faz na empresa, sabia? Fico contando as horas para voltar pra casa pra te ver. – Sorri ao vê-lo desafrouxando a gravata e largar o terno em cima da bancada.

– Eu também estou com saudades da Império. Mas, tenho que te dar algo.

– O que?

     Peguei a caixa branca que Andrea tinha deixado mais cedo com um laço amarelo em cima e empurrei para perto dele.

– O que é isso? – Ele olhou curioso.

– Abra!

     Gustavo começou a tirar o laço amarelo retirando a tampa da caixa. Suas feições ainda eram duvidosas. Não sabia o que queria dizer.

– Você está falando sério? Por que se isso for uma brincadeira eu juro que é uma de muito mau gosto. – Ele disse sério.

– Não é uma brincadeira. É muito sério.

     Vi seu sorriso se abrir e o rosto derreter ao segurar os sapatinhos e a chupeta.

– Por que amarelo?

– Ainda não sei o sexo.

– Então é real? Eu vou ser pai? Puta merda, melhor presente de noivado que eu poderia receber!

     Ele me abraçou e logo em seguida me beijou.

– Quer dizer que finalmente temos alguém teimoso aqui? – Sua mão pousou em minha barriga.

– Exatamente.

– Você não consegue parar de me surpreender, não é mesmo?

– Não enquanto eu puder, senhor Lários.

     Ele me beijou com mais intensidade dessa vez. Gustavo me pegou no colo e me levou para o nosso quarto. Ele me mostrou, durante boa parte da noite, o quão feliz estava em ser pai.

Um Inferno IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora