Capítulo 5

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- Juliana Lários. - Ela estendeu a mão. - Mas pode me chamar de Juju. Só meus pais me chamam de Juliana.

- Teresa Rezende. - Retribui o gesto.

Mais um membro Lários na minha vida. Pensei.

- Então você é a Rezende! - Ela quase berrou. - Não via a hora de te conhecer. Você é como uma celebridade lá em casa. - Franzi o cenho tentando entender. - Gustavo. Ele sempre dá um jeito de colocar seu nome na hora do jantar. É bom saber que existe alguém pra testar o espírito dele.

- Ainda não entendi como realizo essa função. - Inclinei a cabeça pro lado confusa.

- Pelo simples fato de você respirar. Gustavo tem algum tipo de alergia para lembrar o nome de mulheres ou até mesmo conviver com elas com exceção de mim, Verônica e minha mãe. Mas, por algum motivo, você faz ele ficar num estado pavoroso de auto controle, como se ele fizesse algo de errado seria o fim.

Eu não podia acreditar nisso. Era a palavra de uma garota de 16 anos, ela poderia estar aqui para fazer um favor a ele ou poderia estar me manipulando. Passamos alguns minutos sem nos falar. Eu não queria ouvi-la falar de Gustavo. Quase quatro da tarde e como previsto, ele não tinha voltado e pelo o que eu já sabia, não pretendia.

- Não faça assim, cherry. - Reconheci o sotaque francês da modelo com quem Gustavo passara a tarde.

- Vamos logo. - Ele sorriu.

Quando saíram do elevador, o sorriso dele se desmanchou assim que olhou para Juju.

- Ah, je pensais que nous serions des deux.* - Não entendi nenhuma palavra do que ela tinha dito.

- Também pensei, cerise.** - Sua expressão se tornou séria.

Juju não parecia feliz com o que via, na verdade, eu pude ver em seus olhos que ela desaprovou de cara a francesinha. Sorri internamente.

- Cerise? - O tom de Juju foi irônico. - Esse foi o apelido que você deu pra essa sem sal? Pelo amor Gustavo, achei que você não gostasse de cereja. - Ela ainda estava sentada e eu não sabia o que fazer a não ser me divertir.

- Juju, modos por favor. - Sua voz me deu um arrepio que percorreu toda a minha espinha. - Ana essa é a minha irmã.

A francesa se aproximou para dar um abraço, mas Juju deu um passo para trás. Ok, ela podia estar exagerando um pouco.

- Juju, por favor. - Gustavo a repreendeu.

- Por favor você, Gustavo Lários. - Seu tom se agravou. - Qual é? Vai ficar com essa cerise murcha? Achei que você fosse melhor que isso.

Eu juro que por mais que eu estivesse segurando o riso, eu estava achando aquilo tudo inacreditável. A irmã mais nova quebrando as pernas do irmão.

- Cherry, não preciso escutar isso. - A francesa parecia nervosa, mas Juju tinha algo que a fazia parecer pior que ela. - Me ligue quando puder.

- Ligar? - Dessa vez Juju riu, mas riu com vontade. Dei uma rápida olhada para Gustavo e ele não parecia contente. - Você realmente se acha importante para ele? Acha que é o suficiente?

A francesinha agora estava vermelha e parecia que ia chorar. Juju se levantou e cruzou os braços.

- Então me conte. Qual é você? - Vi que não fui a única a não entender a pergunta. - Ibiza? Saint Tropet? Cunnes? Cancun? Qual delas é você?

Foi aí que tudo perdeu a graça. Ana parecia inocente naquele momento e Juju tinha sido um tanto cruel, mas Gustavo era pior do que eu pensava, ele marcava as mulheres com o nome do lugar e isso só fez ele cair ainda mais no meu conceito. Eu não queria e não iria ser a "São Paulo" ou "México". Sim, eu tinha nascido no México e tinha vindo para o Brasil quando entrei na faculdade.

Olhei para a francesinha e as lágrimas começaram a cair dos seus olhos e me deu pena de vê-la desse jeito. Em poucos segundos, ela deixou o prédio e ficamos os três sem falar nada. Juju voltou a sentar na cadeira da minha mesa enquanto eu tentava absorver informações, tentando parecer indiferente.

- Obrigado, Juju. Mas, acho que você pegou um pouco pesado. - Gustavo, que o tempo inteiro não fez nada, agora se pronunciou.

- Eu não meço esforços para mostrar o quanto eu sou boa e o quanto você é um babaca. - Ela sorriu.

Estava totalmente perdida.

- Fico feliz que meu dinheiro está sendo bem investido.

- Tudo bem. Alguém pode me dizer que aquilo foi só a brincadeira de mau gosto?

Não aguentei e Gustavo pareceu não entender a minha reação, mas eu estava inconformada.

- Ah, me desculpe, Teresa, esqueci totalmente que você estava aqui.

- Mas eu não. - Falei cruzando os braços.

- Gustavo me pediu ajuda para despachar Ana sem que fosse uma coisa tão dura.

- Dura? Ela saiu daqui ao prantos e vocês acham que foram levianos com ela?

- Você não entende, Rezende. Ana trabalha para um cara que quer ganhar dinheiro com ela. Eu não podia falar isso porque ela corre risco de vida, mas ela pode superar um coração partido. Juju é atriz e foi só por isso que pedi a ajuda dela.

Ok. Muita informação. Modelo francesa. Ibiza, Cancun. Coração partido. Vim trabalhar em um manicômio.

- Não sou má, não desse jeito, mas Ana queria ganhar dinheiro com o meu irmão e ele só pediu que eu ajudasse.

- Tudo bem. Entendi. Super normal isso. Vejo todo dia acontecendo.

Ela sorriu.

- Eu tenho que ir. - Ela me surpreendeu com um abraço. - Quase me esqueci, você está convidada para jantar na nossa casa amanhã. E não aceito não como resposta.

Meio sem jeito e sem palavras, apenas disse sim.

- Ótimo. Até amanhã e não fique magoada comigo.

Ela deu um beijo em Gustavo e foi embora. Ele ficou me olhando por alguns segundos e eu fiquei sem jeito, claro. Gustavo seguiu para sua sala e finalmente pude ter um momento de paz.

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*Je pensais que nous serions des deux - Eu pensei que seria os dois.
**Cerise - cereja
(tradução livre diretamente do google tradutor, 😂)

Um Inferno IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora