Capítulo 39

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O mesmo desespero que me atingiu, atingiu meu irmão. Claro que para ele, Estefânia era tão importante quanto Teresa era para mim.

Corremos para o carro e eu pisei no acelerador. Em menos de vinte minutos - e talvez algumas infrações de trânsito - chegamos ao hospital. Fomos até a recepção em busca de informações.

- Nenhuma Teresa Rezende deu entrada, senhor. Talvez ela esteja no pronto-socorro.

Meus pensamentos correram a mil. Juro que se Nicole encostou sequer um dedo nela, eu iria matá-la com minha próprias mãos.

- Gustavo, porra. Espera!

Victor falou nervoso e eu diminui o passo. Conseguia ouvir meu coração bombeando em meus ouvidos. Ele tentou mais uma vez ligar para Estefânia, mas continuava desligado.

Liguei novamente para Teresa tentando encontrá-la por ali.

- Bueno?

Nunca fiquei tão aliviado e feliz de ouvir sua voz. Porra. Meu coração desacelerou aos poucos.

- Onde você está? - Perguntei respirando fundo para dissipar um pouco da energia acumulada. Victor permaneceu parado ao meu lado.

- Fora.

Passei a mão no rosto sem paciência.

- Teresa, eu não estou brincando. Onde você está? - Meu tom foi rude e por um momento não me importei. Não falava assim com ela há muito tempo. Queria que ela entendesse o meu grau de preocupação.

- Na maternidade, a...

Desliguei o celular sem deixá-la terminar e olhei para Victor. Fiquei pensando porque ela estaria na maternidade até que finalmente lembrei da amiga de Teresa que estava grávida.

- Vamos!

Entramos no elevador e subimos até o andar da maternidade. Teresa estava no corredor dos quartos conversando com um cara e pareciam íntimos. Me aproximei aos poucos e ele fez contato visual comigo. Victor estava ao meu lado com uma expressão tranquila no rosto. Talvez pensando que se Teresa estava conversando tranquilamente, Estefânia também estava bem. Cheguei perto de Teresa e coloquei as mãos em sua cintura. Ela deu um pulinho de susto e se virou para mim.

- Gustavo! O que você está fazendo aqui?

Ela me perguntou assustada, mas não respondi. Estava olhando além dela, para seu amigo. Teresa voltou a olhar para ele e depois para mim.

- Gustavo, esse é o André. André, esse é Gustavo, um amigo e Victor, noivo de Estefânia.

Amigo? Desde quando eu era a porra de um amigo? Desde quando a porra do amigo transava com ela? Fiquei furioso com essa apresentação de merda.

- Ele é o pai dos filhos da Cecília.

Ele acenou para nós, mas eu estava tão puto que não retribui. A porta do quarto se abriu e Estefânia saiu de lá.

- Dá pra fazer silêncio? - Estefânia estava brava e percebeu nossa presença. - O que vocês estão fazendo aqui?

Ela olhou pra Victor esperando uma resposta, assim como Teresa me olhou também esperando por uma, mas não seria possível dizer a verdade agora. Ainda não.

- Depois eu te explico. - Victor respondeu a ela e eu concordei para Teresa.

- André, ela está dormindo e os bebês também. Me ligue e vamos nos encontrar para conversar.

André acenou para Estefânia voltando para dentro do quarto. Nem tinha percebido que ainda estava segurando Teresa. Queria ter certeza de que ela estava segura.

- Vamos. - Sussurrei em seu ouvido e a puxei para fora do hospital.

- Por quê você veio aqui? - Ela perguntou curiosa.

Imaginei que Estefânia estivesse fazendo o mesmo questionário a Victor.

- Você não pode sair no meio do expediente. - Teresa parou de andar e me encarou. - O que?

- Eu tenho cara de idiota?

Ela seguiu andando e eu fui atrás. Entramos no carro com Victor e Estefânia atrás e Teresa na frente comigo. Não falamos nada durante todo o trajeto. Sabia que Teresa não tinha acreditado na minha resposta. Nunca senti tanto desespero na vida. Não sabia ao certo o porquê disso, mas não aguentaria ver Teresa em uma cama de hospital desacordada, como minha mente tinha projetado mais cedo.

Chegamos na Império em silêncio. Ninguém se pronunciou no elevador. Victor e sua noiva desceram no andar deles, enquanto Teresa e eu continuamos a subir para nosso. Ela estava inquieta e parecia ter receio de algo.

- Gustavo, eu sinto muito pelo o que aconteceu. Sei que não deveria ter saído sem avisar, mas minha amiga estava dando a luz. Tenta entender. - Não a respondi. - Eu não sei o que você quer que eu faça. Eu sinto muito. Mas você ficou estranho do nada com aquela ligação, me tratou mal e não quis conversar sobre. Minha amiga precisava de mim, então eu não posso fazer nada sobre isso. Então, perdóname.

Teresa parou de falar e recuperou o fôlego que perdeu ao falar sem se interromper. O som de sua respiração irregular nunca me satisfez tanto. Imaginar que a vadia da Nicole podia encostar um dedo nela, me fazia enlouquecer.

- Você pode ao menos reagir ao que eu estou falando? - Ela cruzou os braços irritada.

- Porra, Teresa. Eu quero que você fique aonde eu possa te ver. Você tem noção do que eu pensei ao saber que você estava no hospital? Sabe como eu fiquei? Milhões de coisas passaram em minha cabeça. Você podia ter ligado, podia ter deixado um bilhete, mas não, resolveu sair sem falar nada.

Ela se calou enquanto eu falava, mas não se encolheu em nenhum momento. Maldita mulher!

- Você é importante demais pra mim. Eu não posso te perder. Eu te amo e não posso te perder e não consigo lidar com essa sua teimosia.

O que eu tinha acabado de falar? Não sabia ao certo, mas pareceu ter funcionado, porque ela se manteve em silêncio. Seu corpo se aproximou do meu e eu a beijei. A beijei como se fosse a última vez que pudesse sentir seus lábios doces. Como se não fosse o suficiente. Senti a temperatura do elevador aumentar.

- Eu também te amo. - Ela sussurrou em minha boca.

Me dei conta que disse as três palavras que não tinha dito a ninguém, a não ser meus irmãos e meus pais, isso em ocasiões especiais. O que ela tinha feito comigo?

Um Inferno IrresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora