BIOLOGY

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Bailey

Levei um susto gigante quando a porta do banco do carona foi aberta. Quer dizer, eu estava no horário entre aulas e vim no carro buscar um livro que tinha esquecido. 

Naquele momento, pensei que ter estacionado o camaro vermelho em um canto mais afastado, não tinha sido uma boa ideia, mas logo mudei de opinião, quando vi Joalin lá dentro. 

-Eu- ela pareceu respirar fundo- Vi você entrando. Sabia que não dá para enxergar nada, do lado de fora?

-Sim, os vidros são extremamente escuros, fui eu que escolhi assim- dei de ombros, meio óbvio- Você está melhor?- questionei. 

-É sobre isso que eu vim falar- ela suspirou- Primeiro eu queria te pedir para não comentar sobre o meu surto, com ninguém. Você sabe, não sou do tipo de gente que sai por aí demonstrando minhas fraquezas e eu realmente não estava em um dia bom. 

-Você sabe que eu não vou falar para ninguém- eu disse- Ficou chorando sozinha no seu quarto até que horas?- meu tom de voz saiu preocupado. 

-Na verdade não tive forças de chegar lá, meu irmão me levou até a cozinha e eu fiquei chorando enquanto ele me enchia de sorvete- ela riu baixo, parecendo envergonhada.

-Fico feliz que tenha trombado com ele no caminho para o andar de cima. 

-É, eu também- ela abaixou o olhar- Eu também... Queria te pedir desculpas por ter gritado com você enquanto você estava tentando me ajudar. 

Eu queria soltar um: "Você está me pedindo desculpas? Que tipo de universo paralelo é esse?". Me contentei em soar educado, até porque ela estava vindo aqui, nitidamente envergonhada e passando por cima de seus limites apenas para esclarecer a noite anterior. 

E vai por mim, o que ela estava fazendo, vindo até meu carro para falar aquelas coisas, não combinava nem um pouco com o "Jeito Joalin de ser". 

-Não tem problema, você estava nervosa e eu sinto muito que tenha tido que passar por aquela situação. 

-É- ela coçou a cabeça- Também queria te agradecer por ter me ajudado, você não tinha obrigação de fazer isso. 

-Só quis ajudar! Não te deixaria lá, naquela situação, fingindo que não estava vendo. 

-E já que- ela parou por um segundo, me encarando e parecendo criar coragem para terminar o que estava falando- Ok, eu provavelmente vou me arrepender de falar isso. Mas já que nós decidimos esquecer tudo o que rolou nesses últimos dias, posso dizer que já não te odeio tanto assim. 

-Obrigado por me odiar um pouco menos, agora- soei um pouco irônico, mesmo que não fosse minha intenção.

-Deixe eu terminar antes que perca a coragem. 

-Ok- levantei minhas mãos em rendição. 

-Como estava dizendo, talvez um dia possamos ser amigos. Sabe, quando estivermos comandando as empresas de nossos pais ou sei lá, quando aprendermos como lidar com tanta coisa- ela deu de ombros, abaixando o olhar e deixando as bochechas avermelhadas a mostra. 

-Então, por hora, colegas?- estiquei minha mão em sua direção. Ela hesitou por um segundo, mas apertou. 

-Só não sai falando disso para todo mundo não, ok? Tem muita coisa que a gente não pode explicar. 

-Eu sei, eles perguntariam sobre como as coisas chegaram no ponto que estão hoje e as entrelinhas são apenas um segredinho nosso- falei, mordendo o lábio. 

-É, pois é- ela colocou a mão na maçaneta, prestes a descer do meu carro- Então eu vou para a aula de biologia e- ela parou, me olhou de cima a baixo e voltou a falar- Não deveria usar essa jaqueta do time de futebol por aí. 

BAD GIRL - JOALEYOnde histórias criam vida. Descubra agora