DRIVE

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Bailey 

Vi o carro de Joalin acelerar e sumir em nossa vista. Eu sabia que Any me questionaria logo em seguida, naquela altura ela deveria estar entendendo tudo completamente errado, já que a intonação de nossa conversa poderia ser entendida de várias formas, me arrisco dizer que uma pior que a outra. 

-O que aconteceu na madrugada que você passou na casa dela que eu não fiquei sabendo?- tentei pensar em qualquer desculpa da forma mais rápida possível- Pelo visto sua irmã também não participou- a expressão surpresa em seu rosto me deixava nervoso. 

O fato é, apesar das desconfianças sobre nossa amizade, eu e Any nunca tivemos nada, nem sequer um beijo. Nós realmente nos enxergamos como irmãos e nos preocupamos um com o outro, talvez justamente por isso que ela seja tão preocupada. 

A verdade é que, talvez minha pré adolescencia assombrasse mais ela do que eu mesmo. Meu primeiro namoro foi com uma garota que me trouxe alguns muitos problemas, ela parecia um pouco com Joalin, quer dizer, não fisicamente mas no espírito de liberdade, em não temer e fazer o que tem vontade. 

O problema é que nada disso deu certo, naquele ponto, eu era tão medroso e certinho. Ela me libertou um pouco disso tudo, me ensinou a conhecer meu outro lado e por um tempo eu não soube administrar isso muito bem, o que me rendeu algumas muitas idas até a sala da diretoria. 

E eu não quero culpá-la, era seu jeito e ela não deveria mudar por não seguir o padrão ou para me agradar, mas eu tentei acompanhá-la e na minha imaturidade, eu precisava fazer coisas erradas para continuar parecendo atraente em seus olhos. 

Any assistiu minha transformação por uma garota, viu como as coisas estavam desandando em minha vida e como eu estava me autossabotando. Tudo piorou quando eu e minha ex decidimos ter a maior das nossas aventuras, sair com o carro de seus pais, ambos sem nenhuma habilidade na direção. 

É claro que não deu certo. Ela que estava no volante, bateu o veículo menos de uma milha depois, não foi um grave acidente mas me rendeu um braço e uma perna quebrados e ela teve um corte na testa e uma pancada forte no tórax. 

Depois disso foi o fim, seus pais decidiram se mudar para Seattle e tentar recomeçar a vida por lá, dando mais atenção a filha e tomando cuidado. Eu passei um tempo de castigo e precisei recuperar a confiança de meus pais e, naquele ponto, de Any, que é a única amiga daquela época com quem tenho contato até hoje. 

Não foi o maior erro do mundo, mas acho que perceber a decepção da minha família e amigos com a pessoa que eu estava me tornando fez com que eu quisesse voltar a passar, ou pelo menos tentar, a mesma imagem que eu tinha antes de tudo isso acontecer. 

Só que depois de experimentar uma pequena e viciante dose de liberdade, fica difícil escapar dela. Não que eu continuasse me arriscando em aventuras desnaturadas por aí, mas senti que precisava esconder, talvez até de mim mesmo, qualquer coisinha que eu fizesse que poderia ser vista como errada. 

Eu não queria mais decepcionar Any, mas as vezes parecia que apenas doses de adrenalina poderiam me despertar e foi por esse motivo, que minha pequena lista de segredos começou a crescer e, com o grupo de amigos que formei no high school, não sabia se um dia seria possível ser totalmente verdadeiro e balancear as duas faces que completavam minha personalidade, a responsável e a um pouco mais aventureira (que no entanto, nem era tanto assim). 

-Nós apenas tivemos uma conversa, sem brigar. Foi um pouco estranho- eu disse, tentando soar 100% verdadeiro, até porque não era uma total mentira. 

-Está me escondendo alguma coisa não é? 

-Não estou. 

-Está se envolvendo com ela? Por que eu me preocupo, da última vez você acabou todo quebrado no hospital. 

-Não Any, pode ficar tranquila. Primeiro que eu só quebrei um braço e uma perna, não foi nada demais, segundo que já conversamos várias vezes sobre como eu era desequilibrado naquela época. 

-Eu sei, a culpa foi sua. Eu até gostava da Ylona, apesar dela ser meio doidinha. 

-Sim, ela era legal. Eu estava passando por um período de autoafirmação ou algo do tipo, por isso saí fazendo besteira, acho que ela estava vivendo a mesma fase. 

-Então está se envolvendo com Joalin?- ela levantou uma das sobrancelhas, visivelmente tensa. 

-Não, não foi isso que eu falei. Só conversamos, ok? Eu não queria que ninguém ficasse sabendo porque foi estranho- dei de ombros 

-Não sei se acredito nessa história, ainda mais que ouvi bem ela falando de dois segredinhos. Não acho que deva se meter com ela, não a conhecemos e ela já aprontou conosco várias vezes, de qualquer forma se o fizer, use camisinha- ela disse, pegando sua mochila e colocando o casaco. 

-Você está ficando doida, Any. Nunca aconteceu e nem irá acontecer nada, só conversamos sobre o futuro das empresas e talvez levar essa parceria para frente por mais alguns anos. 

-Senti a tensão sexual de longe, menino May- ela deu um tapinha nas minhas costas, me deixando nitidamente confuso- Vou atrás de Joshua ver se consigo terminar esse trabalho antes que a outra Loukamaa volte de San Diego e decida me transformar em picadinho. 

-Acho que você está ficando doida. 

-Talvez sim- ela deu de ombros- Te vejo amanhã- beijou minha bochecha e saiu da minha casa. 

Me joguei no sofá e encarei o teto logo em seguida, eu odiava ter que mentir mas se não o fizesse, teria de aprender a lidar com as feições desapontadas, mais uma vez, para cada vez que pisei na bola, para cada errinho que cometi. 

Era mais fácil continuar sendo o garoto certinho, afinal ele não era uma mentira, apenas era só uma parte de mim. A outra precisaria ficar ocultada por mais algum tempo. 

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Bom gente, mais uma parte da nossa maratona e último capítulo de BG pertencente a ela. 

O que acharam da história do Bailey e da narração dele? Entendem que ele prefere passar uma única imagem com medo de desapontar os amigos e familiares? 

Acham que Joalin vai balançar as estruturas dele e fazê-lo se importar menos com o que os amigos julgam ser certo ou errado? 

Por favor não se esqueçam de deixar seu voto e comentário. 

Amo vocês! 




BAD GIRL - JOALEYOnde histórias criam vida. Descubra agora