IMPURE

812 109 20
                                    

Bailey May- Special Chapter part 2. 

Seguimos até o estacionamento em silêncio, após sua afirmação certeira. Por coincidencia, nossos carros estavam estacionados um do lado do outro e enquanto ela entrava na Rover vinho, destravei meu camaro vermelho e dei partida na sua frente, esperando seu carro sair da vaga para acelerar. 

O caminho até a minha casa era curto e eu julgava que Joalin já o conhecia, pelas festas que as vezes aconteciam. Consegui acelerar um pouco além da velocidade permitida pela pista vazia do meio dia e em poucos minutos estacionei na frente de casa, a loira deveria estacionar entre dos carros e o fez com certa rapidez e maestria, levando em consideração o tamanho de seu automóvel. Ela desceu do carro com as chaves e o celular na mão, acionou o alarme e pressionou o corpo contra a porta. 

-E então, podemos conversar agora?- perguntou enrolando um fio dos cabelos loiros entre os dedos 

-Não aqui, onde qualquer um pode nos ver. Vamos entrar- ela deveria concordar com minhas exigências, certo? Já tinha concordado em perder parte das aulas e não estava em uma situação muito confortável. O segredo de família tinha caído em mãos erradas e eu não fazia ideia de como isso aconteceu. 

-Tá- ela deu de ombros, como se realmente não estivesse planejando ferrar minha vida. Destranquei a porta com minha digital e a dei passagem, porém impedi que se acomodasse na sala. 

-Segundo andar, meu quarto

-Já falei que não vamos transar- ela adorava me provocar, isso era extremamente irritante. 

-Não quero que Shivani saiba que esteve aqui antes de conversar com ela, deveria saber que isso é difícil para ela. 

-Você não manda aqui Bailey May- apontou para nós, querendo mostrar que falava da conversa- Vou fazer isso por sua irmãzinha- ela riu sarcástica e esperou que eu começasse a subir as escadas para fazer o mesmo logo atrás de mim. 

Loukamaa se jogou na cama antes que eu conseguisse fechar a porta atrás de mim, ela era irritante e abusada. Ao mesmo tempo, qualquer ato seu tinha uma sensualidade extrema, parecia estar pronta para transar a qualquer momento e mesmo odiando sua personalidade rebelde, precisava admitir que ela era muito atraente. 

-Não vou transar com você- usei sua frase contra ela mesma e esperei que ela se ajeitasse na cama, se sentando. 

-E então, como planeja me convencer que devo manter seu segredinho?- a resposta para suas perguntas estava, em parte, no álbum de fotografias que guardava na escrivaninha, por isso o peguei e entreguei em suas mãos. 

-Eu nasci nas Filipinas mas meu pai é inglês, antes de nos mudarmos para a Inglaterra, quando eu tinha 4, fizemos uma viagem para a índia. Meus pais queriam conhecer a cultura e a forma como os indianos empreendiam antes de finalmente montarem a própria empresa em Londres, que hoje tem sedes em Manila e a maior fica aqui- ela deu de ombros

-Me poupe dos detalhes financeiros de seus pais- demonstrou falta de interesse, que me fez revirar os olhos

-Deveria se interessar, que eu saiba estão trabalhando em um projeto conjunto com a LUH- citei a empresa de sua família, de Sabina e Noah. Eles eram do ramo de bebidas e tinham uma especialidade na fabricação de Tequila, as fábricas ficavam no México e segundo minhas recentes pesquisas, que fiz durante as últimas férias de verão, período em que estagiei ao lado do meu pai, exportavam principalmente para os Estados Unidos e Europa, a empresa era mexicana, mesmo com o escritório principal funcionando em Los Angeles. Meus pais eram donos de uma rede de franquias de restaurantes, famosos principalmente na Califórnia, Reino Unido, Filipinas e restante da Ásia, a parceria serveria para aumentar a distribuição deles para o continente asiático, assim como criar novas franquias do "MAY" pela Europa. 

-Estou por fora dos negócios da família- disse sem se importar e eu dei de ombros, preferindo ocultar o jantar que estava marcado para o próximo fim de semana.-Não viemos aqui para falar sobre isso. 

-Tudo bem- revirei os olhos- Você já deve ter ouvido falar sobre o sistema de castas na índia, sobre os "Intocáveis"- engoli o bolo que se formava em minha garganta, eu odiava falar sobre isso e detestava ainda mais ter que segurar as lágrimas. 

-Sim- ela ajeitou a postura e seu sorriso sárcastico caracteristico se desfez, seu rosto foi tomado pela desconhecida seriedade. 

-Eles são rejeitados, descriminados, tem péssimas condições de vidas. Shivani era filha de uma mulher com câncer, viúva e que não tinha condições para se tratar, era filha única e nós a conhecemos pelas ruas de Mumbai, pedindo comida e mal conseguindo andar. Minha família tentou ir atrás de um tratamento digno depois que conheceu sua história mas já era tarde demais, ela precisaria ser levada para outro país e morreu poucos dias depois que a conhecemos. Shivani era uma criança, pequena, desnutrida e que mal conseguia falar, apenas chorava pela falta da mãe, meus pais fizeram a única coisa que poderiam fazer para ajudar a mulher que já tinha morrido, adotaram Shivani. A cultura indiana é linda, tivemos todo cuidado para que ela não perdesse suas raízes, mas infelizmente eles tem suas desigualdades, igual qualquer outro lugar. Justamente por Shiv não ter deixado a cultura de lado, ela segue o hinduísmo, viaja para lá e tenta se conectar com seu país de origem, longe do sistema de castas, mas justamente por ter presenciado um milhão de cenas de maus tratos as castas inferiores- limpei rapidamente uma lágrima e respirei fundo antes de continuar- As vezes ela acha que não merece a vida que tem, que não deveria ser adotada, acha que é suja, impura. Por isso eu te peço, é um motivo maior do que qualquer desentendimento que possa haver entre nossos grupos, é a minha irmãzinha que muitas vezes não entende seu valor, ninguém sabe disso, absolutamente ninguém, nenhum de meus amigos. Se esse segredo é descoberto, seria o fim de Shivani, isso acabaria com ela e eu não posso deixar isso acontecer, de jeito nenhum- disse tentando mais uma vez segurar as lágrimas e abrindo o álbum até achar a única foto que tínhamos de Shiv junto a sua mãe. 

Entreguei o álbum nas mãos de Joalin, tinha acabado de abrir meu coração da maneira mais profunda possível, não estava preparado para fazer isso, muito menos com a finlandesa, mas eu precisava, precisava para proteger o emocional da minha irmã. Acompanhei uma única lágrima cair de seu olho azul e respirei fundo, esperando que ela falasse algo, ela arregaçou as mangas do vestido, deixando algumas de suas muitas tatuagens a mostra. 

-Eu descobri quando fiquei de detenção e me pediram para arrumar as fichas dos alunos. Não estava procurando nada. - ela respirou fundo- Ontem Sofya me disse que esse boato estava circulando, eu confirmei porque tinha visto os papéis, disse que deveríamos esquecer essa história, era séria e não sabíamos se Shivani sabia ou como agia com isso. Estava contando para Sina porque agora ela faz parte do grupo e não temos segredos entre si, mas provavelmente antes de você chegar e escutar, disse a ela que manteríamos esse segredo. 

-Obrigado- disse de coração

-Eu nunca seria tão baixa e insensível- ela se levantou da cama e ajeitou o vestido no corpo voltando a pose de bad girl. 

-Mesmo assim, obrigado por não contar. 

-Fiz por ela, em respeito a cultura, história e por mim, eu não sou má como todos pensam- respirou pesado, como se tivesse dito aquilo para tentar fazer ela mesma acreditar e saiu do quarto, sem mais, fechando a porta atrás de si. 




BAD GIRL - JOALEYOnde histórias criam vida. Descubra agora