BAD GIRL - JOALEY

ICE CREAM

Eu sempre considerei ter uma adolescência agitada. Dito e feito, a responsabilidade de resolver problemas na LUH, as viagens, participar de eventos e começar a colocar a mão na massa no trabalho veio ao mesmo tempo que as festas e a liberdade de viver a minha vida, de curtir enquanto podia. 

Acho que tudo tem consequências e, talvez, justamente pelo meu esforço com a empresa da família, meus pais sempre me deram liberdade e confiaram em mim. Mas de fato, eu podia dizer e afirmar que eu tinha mais coisas para fazer do que a maioria dos outros adolescentes, mesmo que nem sempre todos esses compromissos envolvessem trabalho. 

Nos últimos tempos, a carga estava ainda maior. Com problemas surgindo de todos os cantos, era difícil deitar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. Foi assim na última noite, depois de uma longa ligação com Sabina, a conversa com Noah, Sina, Any, meus pais e irmãos no jantar e a arrumação das tralhas que eu levaria para a casa dos May. 

Quando cheguei em casa, naquela noite, planejava contar para minha mãe que não era uma boa ideia me hospedar na casa deles e, depois, usar ela como desculpa para não ir, dizendo que não tinha deixado. Porém, quando eu cheguei, Vanessa já tinha ligado para ela e confirmado tudo, então eu não tinha saída. 

Invadi o quarto de Josh de madrugada, não queria dormir sozinha, mas precisei sair de fininho quando o vi de conchinha com Any. Depois, fui para o quarto de Sofya, mas digamos que dormir com a minha caçula não é a coisa mais confortável do mundo, então acordei com metade do corpo dormente e a cabeça dela bem em cima de meu estomago. 

Posso dizer que ainda era madrugada, quando meu celular despertou. E lá fui eu, às cinco da manhã, deixar Any em casa e minha família no aeroporto, para ter a difícil missão de me despedir deles, sem saber quanto tempo passaríamos afastados, tampouco quais seriam as notícias (boas ou ruins) que teríamos, para podermos estar juntos novamente. 

Voltando para casa, passei na sede da LUH (que estava vazia, naquele horário), apenas para pegar uma papelada que precisava estar comigo. Os Urrea cuidariam de tudo, enquanto os Loukamaa e os Hidalgo estavam fora do país. 

E aí sim, fui para casa, tomei meu banho e desci com a mala, jogando-a no porta-malas do meu carro. Só porque estava com tempo, ainda aproveitei para passar no posto de gasolina e aí sim ir para a aula. 

Era tão estranho fazer tudo isso sem meus irmãos, com a casa vazia. Eu vivia com um constante aperto no peito e eu não via a hora de conseguir fazer a bola de neve de problemas derreter, porque aquilo não era viver, tinha se tornado sobrevivência. 

Poucas foram as vezes, em minha vida, que me senti tão sozinha quanto o período de aulas da manhã. De Noah e Sina, recebi uma mensagem logo cedo: estavam no hospital, de novo, a alemã havia tido outra crise de alergia e como seus pais estavam em San Diego e Savannah tinha provas naquele dias, ele foi com ela. 

A saúde daqueles dois me preocupava. Eles eram o casal perfeito e também o que vivia internado, nunca por nada demais ou realmente grave, mas eles andavam frequentando o pronto socorro bastante. 

Poucas pessoas frequentavam aquelas matérias que tive pela manhã, nem Bailey, nem Any, nem ninguém que eu tinha a mínima intimidade estava na minha sala. E eu me via tão desgastada, que não tinha mais aquela de aproveitar sua própria companhia, eu estava solitária pra porra. 

Quando me encarei no espelho do banheiro, antes de seguir para o refeitório para almoçar, vi que minha angústia era palpável. Eu não usava um pingo de maquiagem naquele dia e a noite mal dormida resultou em olheiras por entre minhas sardas. 

Meu cabelo também estava uma bagunça, preso em um coque na altura da minha nuca, com alguns fios soltos naquela parte e mechas caídas pelo meu rosto. Eu usava calça legging, coturno nos pés e um moletom preto de Josh.