C.24 - Aflição

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ÍSIS

Nesse momento estou abrindo a porta da minha casa, depois de encerrar o primeiro turno na agência, agora tenho que estar no local do evento apenas as 19:00hrs. Entro em casa, jogo a bolsa na mesa, sento no sofá e relaxo o corpo. Fecho os olhos com força na intenção de de conter o impulso das lágrimas que insistem em tentar vir e tento controlar minha respiração, mas as cenas dele a pegando nos braços na frente de todos, o sorriso cínico dela para mim e o anel no seu dedo começam a se repetir várias e várias vezes na minha cabeça, assim como as palavras que saíram da boca daquela mulher, me diminuindo em todos os amplos sentidos. Sinto meus olhos começarem a arder.

-Não! Não! Não! - digo para mim mesma tentando lutar contra o meu choro, tentando segurar firme, mas está doendo, está machucando e não posso negar isso. As lágrimas começam a escorrer inevitavelmente e sinto o nó na garganta, o peso no peito e a minha mente insiste em me torturar mais ainda com as lembranças de quando nos reencontramos na parada, com os momentos em que estivemos juntos, na degustação, o jantar, a nossa noite… Sinto raiva de mim mesma por me permitir iludir, por me permitir ser enganada, mas não posso negar que ele interpreta bem, e muito bem, o papel de cavalheiro bondoso e charmoso.

Só me questiono o que ele ganha com tudo isso? Por que me usar? Por que eu? Ele com certeza deve ter um leque bem extenso de mulheres a sua disposição, sem dificuldade. Por que se dar ao trabalho de me procurar? De ir atrás de mim? Por diversão? Nada faz muito sentido na minha cabeça agora… talvez eu tenha só me tornado o novo desafio dele.

Já não tento mais parar de chorar, deixo as lágrimas caírem como querem e apenas tento manter minha respiração mais contida, diferente da minha cabeça que está fervendo com tudo o que ouvi, o que vi e principalmente o que senti e continuo sentindo. E por falar em cabeça, minha mente autodestrutiva ataca novamente e me vem a ideia que sabota qualquer tentativa de autopreservação que eu possa ter, mas eu sei que preciso de toda a verdade e encará-la de uma vez é melhor.

Pego meu notebook na mesa o abro e fico esperando que ele inicie, enquanto isso minhas pernas começam a balançar inquietas e ouço meu celular tocando na bolsa. Levanto, demoro um pouco para encontrá-lo, mas quando o tenho nas mãos, não consigo fazer nada além de esperar que a ligação caia na caixa postal e alguns segundos depois o celular volta a tocar na minha mão com o nome dele na tela.

-Sinto muito, mas você deve ligar para sua noiva e não para mim! - digo com raiva para o celular e o coloco no modo silencioso. Volto para o sofá e sento de frente para o computador, insiro a senha e vou direto para a rede de pesquisa e busco pelo nome dele, mas só aparecem fotos dele, notícias dos casos que resolveu, imagens suas em festas. Então, não satisfeita, porque eu quero alimentar o meu sofrimento com a verdade, busco por "Alexandre Ferrari e Renata" já que não sei o sobrenome daquela louca! 

Instantaneamente aparecem diversas notícias, fotos e matérias dos dois. Vou descendo nas abas e vejo uma notícia mais antiga e então entro no site, que mostra uma foto dos dois em uma mesa de restaurante com o título "Alexandre Ferrari e a noiva, Renata Cerni, são flagrados em almoço romântico" e então meu coração afunda, não só com a imagem, mas com a data, foi antes de nos conhecermos, antes da minha primeira vez, antes que eu me entregasse para ele… a minha primeira vez foi com um homem comprometido, foi uma traição!

Levo uma mão a boca, ainda em choque e sem acreditar no que eu estou vendo, as lágrimas começam a cair com mais intensidade e eu só queria que isso não fosse verdade. Saio da página e recarrego a busca e é aquela coisa do "O Satanás está mandando de presente", pois no momento em que a página das buscas se recarrega aparece uma matéria de ontem, com uma foto dos dois caminhando lado a lado, onde reconheço ser a calçada da Sede do seu escritório.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora