C.80 - Até bem logo?

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ÍSIS

Acho que nunca senti alegria tão grande na minha vida como a que sinto de agora, de finalmente poder tirar Lukas desse lugar. Eu passei a odiar, com todas as minhas forças, esse hospital, pois os piores momentos da minha vida tiveram ele como cenário e estar aqui sempre não facilita em nada a minha luta para conseguir melhorar todos os dias.

Melhorar por mim, melhorar por meu pai que precisa de mim, melhorar por Alexandre, por nossa relação, por nosso amor, para tentar retribuir um pouco de todo esse cuidado que ele vem tendo comigo. Mas principalmente, melhorar por meu pequeno Lukas. Confesso que ainda me assusta ter consciência de que agora uma vida está literalmente nas minhas mãos, que as suas vivências, lembranças, ensinamentos, alegrias, tristezas, comportamentos e experiências, serão, em boa parte, minha responsabilidade. É algo de um peso que não esperava carregar tão cedo na minha vida, mas que agora, parece começar a dar sentido a tudo.

Eu sempre amei Lukas, desde que ele era apenas o Pipoca, eu o amava. Sempre soube que seria muito apegada a ele e fiz muitos planos de coisas que eu gostaria de viver com ele, mas nada que envolvesse de forma tão intensa como o posto da figura maternal. E é incrível a minha insegurança quando olho tudo de fora, quando estou distante, quando vejo o quarto pronto, as roupinhas organizadas e o meu nome na sua certidão de nascimento, tudo isso me dava um frio na barriga e me trazia pensamentos que só conseguiam ser dissipados com a ajuda de Alexandre. Mas tudo isso simplesmente sumia quando eu estava com ele, ali nos meus braços.

Eu sentia que era capaz de tudo por ele, para cuidar, proteger, dar amor, carinho e garantir que ele fosse feliz, já odiando com todas as minhas forças até o pensamento de alguém que pudesse ousar tentar impedir isso ou fazer algo que o atingisse. A cada vez que eu ficava com ele no colo, eu o conhecia melhor. Descobri o encaixe no meu corpo para ele repousar, assim como também descobri que ele preferia ficar de bruços e com a cabecinha virada para o lado esquerdo na maioria das vezes, que gostava de agarrar o meu dedo e o de Alexandre enquanto dormia, para sentir que não íamos sair de perto, que ficava muito zangado quando sentia fome e que não gostava de ser incomodado para trocar a roupinha, então isso tinha que ser feito de forma rápida. Também descobri que ele dorme bem mais rápido quando fico acariciando suas costas e sua cabecinha e que parece gostar quando Alexandre canta para ele, já que fica quietinho, com os olhos grandes, o observando.

São todas coisas, manias, trejeitos, gostos e demonstrações da sua personalidade, mesmo que em tão pouco tempo de vida, que já existe e eu me apaixono mais a cada descoberta. É um sentimento tão forte em mim, que chega a doer toda vez que encaro aquele rostinho perfeito, que parece ter sido esculpido por Deus, com traços tão bem feitos e delicados. Lukas simplesmente se tornou uma das melhores partes da nossa vida, estamos completamente derretidos por ele e em tudo o que pensamos, ele está incluso.

Meu coração se enche de alegria, porque depois de toda a dor, tragédia e intempéries que passei, agora consigo me sentir sortuda por ter encontrado o meu propósito para seguir e ao meu lado ter o homem da minha vida, que está completamente realizado por ter na sua realidade atual o seu sonho da paternidade e sei que ele será o melhor do mundo.

E agora, tudo parece certo, nos conformes. Tudo parece se encaixar perfeitamente, porque eu sei por onde seguir, por quem seguir e principalmente, com quem seguir!

Nesse momento, estou acariciando o rostinho de Lukas, enquanto caminho com ele para fora desse lugar, finalmente. Alexandre está tão feliz quanto eu e não vejo a hora de chegarmos logo em casa. Continuamos andando pelos corredores, até que noto Alexandre mais sério e o vejo colocar o celular no ouvido.

-O que está acontecendo, Selena? - ele pergunta e logo o encaro já preocupada, porque o seu tom não é nada bom. - Onde? - pergunta novamente - Não! Não faz isso! Não muda a rota! Continua vindo para o hospital! Todos nós estamos aqui, com a equipe e armamento. Sozinha você tem menos chance.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora