C.73 - Na beira do penhasco

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ALEXANDRE

Passamos mais algum tempo conversando e percebi que Rodrigo buscou desviar dos assuntos pesados, para tentar descontrair, tanto por nós, quanto por ele, que também parecia estar cansado. Depois disso, deixamos ele descansar e nos despedimos. Saulo também avisou que já ia para a mansão dormir com Selena e então agradeci e me despedi do meu irmão.

Subi para o andar em que Inês estava internada e então, antes de entrar no outro quarto, decidi dar uma olhada nas duas. Abri a porta devagar e vi que Inês estava virada em outra posição, indicando que os enfermeiros já vieram e Ísis continuava acordada, com o braço esticado, acariciando os cabelos da irmã.

-O combinado era descansar. - falei da porta e então ela olhou na minha direção e sorriu.

-Não consigo dormir. - ela fala e então entro com cuidado e sento no banco ficando de frente para ela.

-Está preocupada com ela. - falo em tom baixo

-Muito. Eu pensei que pudesse relaxar e só ficar aqui para não deixar ela sozinha, mas não dá... - ela diz no mesmo tom.

-Qual o medo que está martelando na sua cabeça? - pergunto e então ela respira fundo.

-Eu não sei, acho que ainda estou impressionada com a quantidade de coisas ruins que aconteceram nesse dia. - fala e pausa por alguns segundos - Eu tenho medo de dormir, mesmo estando com sono, e algum desses aparelhos parar, ou de ela sentir alguma coisa, de piorar, de qualquer coisa acontecer e eu não estar atenta para ajudar ela.

-Entendo, sei como é isso. Mas quando o dia amanhecer, precisamos estar minimamente ativos. Então, vamos revezar. Você dorme algumas horas e eu fico acordado olhando ela, depois o contrário.

-Revezar? Tem certeza? - pergunta

-Sim, era assim que fazíamos com Apolo quando ele estava internado e funcionava bem.

-Você chegou a comentar que ele ficou em coma. Durou muito?

-Dez dias. Mas quase enlouquecemos e eu sentia exatamente esse mesmo medo que está sentindo agora. Eu não queria perder nada que fosse, por um momento de desatenção, de sono ou cansaço, então ficava observando ele, sem tirar os olhos, esperando, torcendo e pedindo de todas as formas para que ele movesse um dedo só que fosse.

-Que bom que ficou tudo bem com ele. - ela fala

-Vai ficar com ela também. - falo e ela assente.

-Será que o bebê está bem?

-A médica garantiu que seríamos avisados de toda atualização do estado dele. Se não falaram nada, é porque Lukas está bem. E por falar nele, peguei o horário de visitas da UTI neonatal amanhã para conseguir ver ele. - digo e ela me encara por alguns segundos.

-O que eu faria sem você, em? - parece pensar alto.

-Prefiro não pensar em você sem mim e vice-versa. - respondo e ela sorri assentindo. - Agora, vai dormir, eu fico olhando ela.

-Tem certeza? Você também está cansado.

-Eu descanso um pouco depois de você. Pode dormir tranquila.

-Como eu sei muito bem que não vai me acordar, vamos fazer assim. Eu durmo até a próxima ronda das enfermeiras e depois é sua vez. Combinado?

-Dorme logo, loira.

-Combinado, Alexandre Ferrari?

-Combinado. - digo erguendo as mãos e então ela sorri levemente. Então se acomoda melhor na poltrona e levanto para roubar um beijo dela e ajudar a cobrir totalmente seu corpo com o edredom. Em seguida retorno para o banco e fico sentado pensando na loucura de tudo o que aconteceu, pedindo mentalmente para que o dia que amanheça venha melhor.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora