C.8 - Não fuja

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ALEXANDRE

Confesso que foi difícil manter o controle ontem, eu queria abraçá-la, agarrá-la, mostrar para ela que nunca deveria ter ido embora naquele dia, queria sentí-la novamente, mas me contive, pois tudo o que eu menos queria era assustá-la. Hoje, não posso negar que acordei mais disposto e até mais alegre, não foi como nos demais dias dos últimos anos em que eu acordava e percebia que havia apenas sonhado com aquele olhar. Não, eu a vi, estive bem perto, senti seu cheiro, escutei sua voz, a toquei, mesmo que brevemente, e agora sei onde mora e como se chama: Ísis.

Na primeira hora do meu expediente na Sede, Décio me entregou uma pasta completa com todos os dados e informações da vida dela que ele passou a noite e início do dia buscando. Eu poderia dizer que não precisava mais, já que tenho informações e meios o suficiente agora para encontrá-la, mas agradeci e mantive a pasta na minha mesa durante toda a manhã. A encarei por várias vezes, pensando no que faria, eu poderia simplesmente abri-la e saber tudo sobre a vida, a família, trabalho, relacionamentos, profissão, envolvimentos e tudo mais que envolve aquela mulher, mas eu não queria conhecê-la folheando alguns papéis, ela era bem mais interessante que aquilo e valeria a pena esperar pelas descobertas que envolvem sua vida serem apresentadas a mim por ela, da maneira dela, não tem jeito melhor de conhecê-la do que por ela mesma. Já esperei muito mais tempo, tendo muito menos dela, agora estou praticamente no lucro.

Depois de encerrar metade do meu expediente, almocei em um restaurante próximo, onde encontrei Ana e Silas e sentamos juntos. Detesto quando o clima fica desconfortável ou tenso demais e o almoço com os dois estava dessa forma, então, seja lá o que se passava entre eles, ficou de lado depois que comecei a puxar assunto e criticar o setor de Silas, porque o meu é bem melhor, óbvio! Se eles brigaram? Não sei. O que sei é que esses dois são mais complicados que tudo, se conhecem há um bom tempo, dizem que são apenas amigos, mas todo mundo sabe que ambos desejam mais que isso.

Depois que saí do restaurante, voltei para a Sede e fui atropelado por uma enxurrada de trabalho e uma reunião marcada de última hora com todos os representantes de cada setor que quase não teve fim. Ou seja, extrapolei o horário do expediente novamente. Retornei para minha sala, para pegar as chaves e liguei para Décio. Assim como havia pedido mais cedo, ele havia conseguido a informação que eu esperava e precisava. Agora é partir para o ataque.

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ISIS

-O que você tem?-perguntou Inês me olhando com uma careta.

-Nada. Por que?

-Porque você está sorrindo para as paredes, parecendo uma bocó.

-Nem todo mundo acorda com raiva até do oxigênio pela manhã e eu não sou bocó. - respondi levando nossos pratos para a pia.

-Você é bocó sim, mas hoje está pior.

-Impressão sua.

-Me engana que eu gosto, Ísis Garcia.

-Que bom que gosta. - falei e ela estreitou o olhar. - Vamos, se não vai se atrasar. Hoje vou junto com você para a sua parada, pois tenho um trabalho no outro shopping.

-Inauguração de loja de novo? - perguntou, enquanto eu organizava minha bolsa.

-Pior que isso. Aniversário de loja. - respondi

-Vai passar o dia por lá?

-Tudo indica que sim, então tome as vitaminas no horário correto, não pule as refeições e vê se mantém um pouco de calma durante o dia.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora