C.83 - Do meu lado

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ÍSIS

É incrível, como parece que há uma maldição nesse hospital

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É incrível, como parece que há uma maldição nesse hospital. Quanto mais ansiosa fico para ir embora, mais ele me prende e das maneiras mais cruéis possíveis. Perdi minha irmã aqui, vi meu pequeno Lukas intubado por dias e agora Alexandre. Todas essas coisas me pegaram de surpresa e todas me abalaram muito.

Mas agora, tudo parece incerto, eu não sei como seguir, eu não sei no que pensar, eu não sei o que fazer e acho que estou desaprendendo até a respirar. Tudo em mim dói. Cada parte do meu corpo está doendo. Fisicamente cansada. Emocionalmente destruída. Apenas uma pessoa no mundo todo pode mudar isso: ele.

Tudo o que eu mais quero é ver o seu sorriso de lado novamente, seu olhar claro que costuma brilhar, sua voz grave tão gostosa de escutar, sentir seu toque quente, acordar com seu beijo no meio da noite, sorrir das suas piadas absurdas, inalar seu cheiro único, ver ele segurando nosso Lukas, ter ele ao meu lado, como estava antes de tudo virar um pesadelo. Eu quero ele. Eu preciso dele. Eu amo ele. E amo tanto.

Não é só sobre o seu corpo, o seu jeito príncipe de ser e a boa vida, mas a sua presença. Alexandre sem dizer uma palavra já torna tudo agradável, parece que tudo faz sentido, como se o mundo todo coubesse naquele seu sorriso largo e como se tudo fosse simples, é assim que ele faz ser: simples. Apesar de toda agitação que sofremos, ele tem o dom de fazer a vida ser leve, de dar paz para o meu coração angustiado e agora, tudo isso foi arrastado de mim junto com ele naquela maca.

Meu peito parece rasgar, minha respiração é sempre curta, minha cabeça não funciona, as lágrimas vêm e vão como querem, o nó na garganta não sai e a minha vontade é de me encolher, deitar em posição fetal, chorar e gritar. Eu só não faço tudo isso, porque tenho um motivo para ser forte: Lukas.

Ele ainda é tão pequeno, não entende nada, mas é tão frágil e precisa tanto de nós. Lukas já perdeu a mãe que o gerou e agora está com o pai em cirurgia. Ele só tem a mim no momento e eu preciso estar firme por ele. Mas isso só pode durar por um momento, porque além disso eu não aguento, não enxergo uma vida sem meu Sr.Convencido, eu ainda estou aprendendo a lidar com a realidade sem Inês, mas sem os dois de uma vez, não dá! Não tem como pra mim!

Nesse momento, já troquei a fralda, dei a mamadeira de Lukas e estou agora andando de um lado para o outro com ele no colo, enquanto ele adormece totalmente, pois se eu parar, ele chora. Cheiro levemente a cabeça carequinha dele e fecho os olhos, conseguindo um pouco de calma no meio de tanta dor e turbulência. Só tiro minha atenção dele, quando batem na porta e vejo uma enfermeira entrando.

-Com licença, vim apenas entregar os pertences do paciente. - ela diz colocando alguns sacos transparentes com as coisas de Alexandre sob a pequena bancada na lateral.

-Obrigada. - digo antes que ela se retire e mantenho meu olhar fixo nas coisas dele, inclusive na camisa que usava, que está dobrada dentro do plástico. Não tenho coragem de ir olhar as roupas, mas puxo o outro saco plástico, com os objetos pessoais, carteira, chaves, celular e algo que me chama atenção.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora