C.7 - Rever-te

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ÍSIS


Hoje o trabalho foi bem corrido e cansativo, como eu esperava. Inauguração de loja é sempre exaustivo, o fotógrafo é o primeiro a chegar e o último a sair. Tem que registrar todos os detalhes do ambiente, os clientes, a comemoração, os produtos, cada momento, até o encerramento. Estou com todo o material salvo agora para a parte mais demorada, cansativa e detalhista do trabalho: correção e edição! E ainda há quem diga que ser fotógrafo é fácil, que é apenas apertar um botão e pronto. Um porra que é!

Sento no sofá com o notebook nas pernas e começo a olhar as fotos que tirei hoje, enquanto Inês está sentada do outro lado, assistindo TV e comendo uns biscoitos. Já é início de noite e faz pouco tempo que chegamos em casa de mais um dia. Desfoco minha atenção da tela do notebook quando meu celular toca.

—Alô? - atendo vendo na tela o nome do amigo, que também é fotógrafo, e me ajudou a alugar esse kitnet, assim como ainda me arruma alguns bicos, quando estou zerada.

—Boa noite, Ísis, está ocupada? - pergunta e faço sinal para Inês baixar o volume da TV, o que faz com que ela solte um palavrão e fique com o rosto mais emburrado ainda. Mereço!

—Boa noite, David. Pode falar. respondi e Inês revirou os olhos quando ouviu o nome dele.

Estou precisando que quebre uma para mim. Tinha marcado para fazer a cobertura de uma celebração de um restaurante importante cidade, algo bem privado e elitizado, agora a noite. Mas a agência me escalou para um evento de última hora e, como tenho contrato, não posso deixar de ir. Preciso muito que me substitua lá, é cobertura intermediária, não precisa ficar até o encerramento e eles pagam muito bem.

—Nossa, eu tenho disponibilidade, mas minha irmã ficará sozinha em casa... - falei e Inês cruzou os braços, me encarando com olhar estreito. Então David falou o valor do pagamento, que era uma quantia significativa para poucas horas de trabalho e sussurrei o valor para Inês, que arregalou os olhos e disse um "Você vai" apontando o dedo para mim, já em tom de ameaça. - Olha, tudo bem, eu posso dar um jeito de ir. Me passa o endereço e o horário.

Que ótimo. - falou e me passou o endereço - Vou fazer uma ligação para lá, informando a troca e dando seus dados, pois lá é algo realmente muito privado e organizado e você não passa nem da porta, se não for identificada.

—Nossa, tudo bem então. Vou me organizar. Beijos.

Está bem e muito obrigado, isis!

—Disponha. - falei e encerrei a ligação.

—"Vou me organizar. Beijos." - falou Inês imitando o meu tom de voz.

—O que foi, Inês Garcia? - perguntei.

—Não gosto desse David.

—Você não gosta de ninguém.

—Isso é verdade, mas acho que não deveria se relacionar com ele. Não engulo aquela cara de bom moço dele.

—Eu não me relaciono com ele, Inês.

—Eu vi vocês se beijando há algumas semanas. - falou e arregalei os olhos para ela.

—Correção: ele me beijou. Eu o repreendi e deixei avisado que não fizesse mais aquilo. Ele entendeu e foi só isso.

—Está vendo, ele é um babaca.

—É, ele foi um babaca naquele dia. Mas ele qu me ajudou a conseguir esse lugar e também já me tirou de muito sufoco quando estava sem nenhum bico.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora