C. 42 - Recluso II

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ALEXANDRE

Não estava prestando atenção em nada e muito menos ouvindo um “a” que fosse do que os meus irmãos estavam falando no carro, minha cabeça estava longe e ao mesmo tempo perto. Longe daqui, mas bem próxima do inferno particular que se tornou minha vida.

Assim que Apolo parou o carro, abri os olhos e notei que estávamos na casa de praia mais próxima, onde fizemos a surpresa dos gêmeos há alguns anos.

-Pensei que fôssemos para a fazenda. – falei já descendo do carro

-Precisamos de um local isolado e aqui será perfeito. – diz Saulo.

...

Bom, realmente tinha que ser aqui, bem isolado de tudo, para evitar que alguém ouvisse toda a porra desse processo que começamos durante a noite mesmo. Tenho lembranças vivas do período em que fizemos isso com Saulo e ver foi bem difícil, mas sentir é muito mais. Comecei a treinar com meus irmãos até esquentar o sangue e em seguida fui para a pior parte, com o saco de pancadas, onde Apolo e Saulo instigavam minha raiva, mexiam na minha ferida com frases pesadas, enquanto eu socava o saco a todo vapor.

“-Você foi enganado!”

“-Ela nunca esteve grávida!”

“-A criança nunca existiu!”

“-Foi traído!”

Eles falavam repetidamente, para elevar minha indignação, até chegar no ápice da minha fúria e me fazer falar, gritar, tudo o que sentia e todos os absurdos que eu desejava fazer com ela, com o médico, me faziam liberar toda a minha revolta, toda a parte mais rebelde, insana, descontrolada e maníaca de ódio que havia dentro de mim. Assim que acabei, deitei largado no chão. Meu corpo estava cansado, minha cabeça estava saturada e ainda ecoavam as palavras odiosas que gritei e nem eu mesmo acredito em tudo o que falei que queria fazer, mas me sentia saturado, em exaustão completa, só queria me desligar do mundo agora.

-Você foi muito bem! – disse Apolo se agachando ao meu lado.

-Vem, precisa de um banho para ir para a última parte. – disse Saulo para mim.

-Eu não quero! – digo impaciente e cansado – Eu não quero mais! Não quero isso! – completo.

-É, eu sei que não quer, mas precisa e depois vai agradecer muito por isso. Agora vamos! – ele diz fazendo um sinal para Apolo e então eles me levantam, praticamente me arrastando em pé, me segurando um de cada lado, até me levarem para o banheiro.

Depois de tomar banho e me trocar, vamos para a sala e me jogo no sofá, todos os membros do meu corpo estão pesados e exauridos e eu só queria dormir, apagar de vez, mesmo com o dia já amanhecido, mas eles não permitiram, pois a última parte da tortura ainda está para acontecer.

E por falar nisso, Rodrigo acaba de chegar, tanto com a comida da manhã, como com a mulher de meia idade que já vem me observando de longe e respiro fundo descontente e impaciente de cansaço.

-Bom dia! – Rodrigo e ela chegam e cumprimentam a todos nós.

-Então você é o Alexandre?! – ela indaga e assinto sem saco para responder – Já conheço muito de você, na verdade todos vocês, através da sua mãe. – ela fala

-Eu nem imaginava que a tia Estela tinha uma psicóloga particular. – Rodrigo fala.

-Acompanho ela há quase duas décadas. – a mulher responde e Rodrigo faz uma expressão de surpresa, a encarando.

-É, se bem que sendo mãe desses três e com Selena de brinde, me surpreende ela ter apenas um psicólogo! – ele diz e a mulher sorri.

-Vai se foder, Rodrigo! – Apolo fala já irritado.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora