ALEXANDRE FERRARI II

C. 48 - Panos limpos

ÍSIS

Não sei como essa noite passou, mas sei que eu passei ela inteira desabada na cama, tentando assimilar tudo o que ele disse, tudo o que estamos passando e quanto mais pensava, mais inconformada ficava. Não sei que horas dormi, mas acordei não tão cedo e fui direto para o banheiro, onde encarei meu rosto inchado e olhos com os cantos ainda vermelhos, entregando que chorei bastante e não foi só por um momento.

Entro debaixo do chuveiro e contenho a vontade de desabar novamente com a minha mente traiçoeira que me faz lembrar a cada minuto, cada palavra que ele disse para mim e elas parecem facas me cortando devagar e lentamente... como doem... Eu sabia que ele não queria ir, mas ainda sim foi e isso maltrata demais.

...

Depois que saí do banho, vesti uma roupa leve de ficar em casa e então a campainha tocou. Quando abri, Décio e mais alguns dos seguranças entraram com várias sacolas, eles literalmente fizeram as compras de supermercado para nós, já que o apartamento de Melissa estava vazio e desabastecido, assim como também haviam algumas sacolas do Bretonne com um café da manhã pronto completo e eu nem sabia que eles trabalhavam com esse tipo de refeição também. Agradeci e antes de sair Décio me pediu as datas, horários e locais dos trabalhos que tenho para essa semana e informei tudo para ele.

Quando ele saiu, comecei a desempacotar as compras e então Inês saiu do quarto ainda meio desnorteada de sono.

-Pensei que tivesse ido trabalhar. - falei

-Fui liberada hoje. - diz - O que é isso? - pergunta se aproximando das sacolas.

-Comida. - respondo ainda desempacotando tudo e aponto para as sacolas do Bretonne que ela olha e ela dá uma risadinha debochada, enquanto balança a cabeça negativamente e a encaro - O que foi? - pergunto

-Seu namorado realmente está bancando tudo, apartamento, alimentação, seguranças, motorista... olha, dona Marta ficaria orgulhosa de você! - diz em tom sarcástico e ela escolheu o dia errado, porque as suas palavras terminaram de acabar com a gota de paciência que eu tinha, então largo a sacola que segurava sob a mesa e a encaro.

-Chega Inês! - digo em tom exaltado - Eu não sei qual o seu problema, quais as merdas que passam por sua cabeça ou que tanto a incomoda, mas você vai ter que parar com esse comportamento infantil, irritante, ofensivo e idiota, porque já deu, ninguém aguenta isso, ninguém gosta...

-Nunca me importei para quem gosta ou deixa de gostar de mim mesmo. - fala dando de ombros.

-O problema é que não estou só falando dos outros, estou falando de mim! De mim, Inês! - falo exaltada e ela me encara um pouco apreensiva - Eu sou sua irmã e estou cansada disso, quanto mais as pessoas de fora! Eu realmente cansei, não consigo mais lidar com essa postura que você resolveu adotar.

-Cansou? E vai fazer o quê? Me mandar embora? - pergunta

-Não, por mais que você não esteja merecendo qualquer tipo de consideração, ainda sim eu tenho, então eu não vou fazer isso.

-Se fizesse também não seria uma surpresa, todo mundo faz mesmo. - ela diz e não me contenho mais.

-A questão é que não sou todo mundo! - digo e ela me encara um pouco surpresa - Eu sou a pessoa que nunca virou as costas para você, e ainda arrisco dizer que a única! Eu sou a pessoa que a acolheu, que cuidou de você, que largou todos os planos para priorizar você e esse bebê! Fui eu quem sempre estive com você desde quando aprontava na infância, quando começou a fazer besteiras na adolescência, eu a tirei do meio de um monte de drogados, eu ia buscar você bêbada nas festas, eu sempre fiquei do seu lado, mesmo quando estava inteiramente errada, mas eu nunca saí de lá! - falei tudo de uma vez em tom alto e ela permanecia muda me encarando - Eu assumi o posto do pai dessa criança, eu fui para todas as ultrassons, eu acordei durante a madrugada por noites quando você estava vomitando o jantar e tudo isso pode até não parecer muito, mas foi tudo o que eu consegui fazer, porque eu sempre fiz tudo o que pude por você e agora você pode até se vitimizar e dizer que eu estou jogando tudo na sua cara, porque dessa vez eu realmente estou!