C.1 - Erguer-se

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ÍSIS

As vezes a gente cansa daquela rotina de acordar antes mesmo do sol, se organizar toda para ser prensada em uma lata de metal gigante ambulante, que chamam de ônibus, para depois correr, e torcer com todas as forças para que não chova, para, assim...

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As vezes a gente cansa daquela rotina de acordar antes mesmo do sol, se organizar toda para ser prensada em uma lata de metal gigante ambulante, que chamam de ônibus, para depois correr, e torcer com todas as forças para que não chova, para, assim, conseguir chegar a tempo no trabalho e, no meu caso, nos meus "bicos", já que não tenho trabalho fixo. O que me motiva? Bom, a pilha de dívidas que tenho que arcar mensalmente é uma ótima motivação, mas o que me move mesmo é o amor pelo o que faço.

Para que entendam onde, como e quem sou hoje, terei que voltar um pouco a fita em, mais ou menos, uns dois anos.

Nessa época, eu morava em uma cidade pequena, bem distante da capital, mas não chegava a ser considerada zona rural, era um município pequeno. Nasci e fui criada por lá, morando com meus pais e minha irmã mais nova, a Inês. Nunca fomos ricos, mas, para as pessoas daquela cidade pequena, éramos considerados em um bom padrão, pois meu pai, o grande senhor Beto Garcia, era muito conhecido por ter uma loja de eletrônicos que ia bem nos negócios por anos, principalmente por ele sempre se aliar a partidos políticos da cidade e fazer "negócios" que eram escondidos a sete chaves de todos, até da sua família.

Não éramos uma família perfeita, pelo contrário, o casamento dos meus pais ia de mal a pior a cada dia e nós sabíamos bem o motivo: dinheiro! Minha mãe não era alguém ruim, mas também nunca fez questão de ser agradável ou minimamente afetiva com as filhas, o que ela gostava era do status social que tinha naquela cidade, mas ainda assim achava pouco. Ela era uma mulher muito bonita e também muito ambiciosa, o que não fazia questão de esconder de ninguém. Ela detestava ter que pisar na loja do meu pai, nem que fosse apenas para visitar, gostava apenas dos lucros e regalias que o negócio lhe proporcionava e a cada dia exigia mais e mais dinheiro do meu pai, para as suas roupas ou viagens de congressos da igreja.

E foi em um desses congressos que ela foi e o que retornou foi apenas a documentação do divórcio para o meu pai. Todos nós ficamos em choque, ela simplesmente virou as costas e foi embora, sem querer saber de mais ninguém, nem sequer se despediu de mim, ou pior, da Inês. Na época eu tinha 19 e a Inês 18, para mim foi doloroso, para a Inês foi destruidor, apesar de ela negar e disfarçar com toda aquela camada de rebeldia e arrogância, soltando o seu "tanto faz". Algumas semanas depois vi por um site da internet que minha mãe havia casado com um empresário rico de outro estado, eles viviam viajando e esbanjando a nova vida, em que eu e minha irmã não faziamos parte, nas capas de revista de fofoca. Fama, dinheiro, viagens, regalias, luxo... Tudo o que a dona Marta sempre quis, até mais que as filhas.

Meu pai sempre trabalhou muito, dedicou toda a sua vida à loja e não importava se era feriado, dia santo, fim de semana ou qualquer outra data, ele estava trabalhando! Inclusive nos meus 19 aniversários e nos 18 da Inês. A vida estável e boa que levávamos não substituía e muito menos supria a ausência dos nossos pais na nossa rotina e eu encarava de uma forma um tanto apática, claro que as vezes doia e machucava não se sentir significante para as pessoas que deveriam ser as mais importantes da sua vida, mas eu já havia decidido que não deixaria que a minha vida girasse em torno dessa lamentação, então apenas seguia um dia de cada vez, cumprindo minhas obrigações com os estudos e o curso básico de fotografia que eu estava terminando na época.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora