ALEXANDRE FERRARI II

C.25 - Aflição II

ÍSIS

Depois de passar quase a tarde toda chorando, me lamentando e me odiando, consegui dormir um pouco e agora já é hora de começar a me organizar para o evento. Confesso que a minha disposição para pensar em roupa, maquiagem e me preocupar com tudo lá dentro está abaixo de zero, mas é o meu trabalho e não posso deixar de ir, então vou tirar qualquer resquício de ânimo que resta em mim e pôr para fora, porque vou precisar e o evento vai estar cheio, ou seja, muito trabalho!

Separo a calça branca de alfaiataria que tenho, juntamente com um blazer branco do mesmo material, que faz conjunto, e os deixo separados sob a cama, enquanto vou tentar arrumar meu rosto levemente inchado e com muito rubor, droga! Passo a base bem leve no rosto, faço melhor contorno que consigo, também leve, corretivo para disfarçar as olheiras e demais imperfeições, ilumino a pele em alguns pontos, passo um rímel reforçado para dar uma levantada no olhar, um pouco de blush, dou uma leve retocada nas sobrancelhas e para tira a atenção do resto do rosto e o ar de simplicidade, passo o batom vermelho nos lábios, dando um destaque, mas isso me faz, inevitavelmente, lembrar dele e sua disputa incansável em tentar tirar o batom da minha boca na nossa noite. Droga!

Balanço a cabeça negativamente e tento afastar o pensamento, pois agora, tudo o que eu tenho que fazer é focar no meu trabalho. Para os cabelos, pensei em deixá-los soltos, mas como é um evento bem agitado e não vou poder parar, eles podem atrapalhar na hora de fotografar e acabar me fazendo perder algum clique importante, então decido fazer um coque médio com os cabelos secos para dar aquele ar de coque frouxo e natural. Enquanto vou colocando os grampos no cabelo de forma discreta, lembro de quando minha mãe me ensinava a fazê-lo, no início da minha adolescência, quando precisávamos ir para algum evento da cidade. É dona Marta, por onde será que você anda a essa altura do campeonato? Nunca fomos tão próximas assim intimamente, mas nunca imaginei que ficaríamos tão distantes também, ao ponto de nem saber onde a outra está. 

Termino o meu coque e deixo apenas dois fios de cabelo soltos para dar um toque charmoso e gosto do resultado. Então visto o par de lingerie na cor branca, a calça branca em alfaiataria e também visto um cropped branco no mesmo material, coloco o blazer por cima e o fecho. Para finalizar, calço um scarpin preto e depois coloco um conjuntinho de colares e um brinco também fazendo par para dar destaque e estava pronta. Nada muito extravagante, mas elegante o suficiente para a ocasião e vestida adequadamente para a minha função.

Organizo as coisas que baguncei no quarto, me perfumo e por fim caminho até a sala, onde encontro Inês que acaba de chegar.

-Está bonita. - diz ela para mim

-Obrigada! Tenho um evento longo hoje e esqueci totalmente de fazer o jantar. Consegue se virar? - pergunto organizando as lentes maiores que tenho para usar a noite e colocando na bolsa junto com a câmera e tudo o que vou precisar para hoje.

-Consigo. O que você tem? - pergunta

-Não tenho nada.

-E eu não estou grávida! - falou revirando os olhos.