C.62 - Sem respirar IV

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ÍSIS

Enquanto o infeliz se serve e se atém a acender um cigarro, eu vou tentando dar um nó no que sobrou da blusa para me cobrir, mas não tem jeito para não ficar exposta, então retorno a agarrar os dois lados do material com as mãos, quando ele vem voltando na minha direção e sentando na cadeira a minha frente.

-Sabe, fazia muito tempo que eu não via ninguém aí dentro. – diz e coloca seu cigarro na boca, fazendo com que aquela fumaça de cheiro insuportável se espalhe pelo ambiente que é inteiramente fechado, ótimo!

-Que lugar é esse?

-Já falei, zona de abate. – disse sorrindo, enquanto soprava a fumaça que havia sugado – O nome não é no sentido figurado.

-Vocês prendiam pessoas aqui?

-Mais que isso.

-Torturavam?

-Um pouco mais. – completa bebendo um gole da sua bebida

-Matavam...

-Bingo! – diz colocando o copo de lado.

-Você ainda comemora??? Que tipo de gente você é? – pergunto enojada

-Não me julgue tanto, não era eu que matava e nem mandava matar aqui, eu apenas observava como acontecia, para saber assumir depois.

-Assumir o quê?

-Os negócios.

-Imagino que nada de bom. – falo com desprezo

-Depende do ponto de vista. O que a maioria das pessoas chamam de ilegal, nós chamamos de forma de ajudar os nossos, claro que no meio do caminho tivemos que sujar as mãos, pois nada vem tão fácil.

-Com sujar as mãos, quer dizer matar pessoas aqui? – pergunto com certa raiva

-Tá começando a entender a coisa! – fala sorrindo e o encaro com nojo – Todas essas manchas são de sangue dos otários que precisavam dar informações pra gente ou que entravam no nosso caminho, mas não sinta pena, nenhum deles era bonzinho. – completa – Bom, exceto você, não fez nada de tão grave, mas já viu aquela coisa que as vezes pagamos a dívida de outras pessoas? Pois é, talvez isso aconteça contigo.

-Por que eles entraram no seu caminho?! – indago

-Exatamente. Mas deveria se sentir vitoriosa, é a primeira pessoa que recebe a marca, fica presa aqui e que ainda pode ter uma chance de sair viva e intacta, tudo vai depender do seu namorado. Pode ser um feito inédito! – fala empolgado

-Você é nojento! – falo com raiva

-Tudo bem, sempre soube que não gostava de mim, mas tudo o que reprovava em mim, tua irmã amava. – diz em tom sugestivo e tenho vontade de vomitar agora.

-Você foi a maior merda de todas as merdas que ela já aprontou, com toda certeza!

-Porra, então eu devo ter sido muito pica, porque a sua irmã já aprontou pra caralho! – afirma sorrindo e reviro os olhos

-Você não tem muita moral para falar dela! – digo, enquanto ele bate a ponta do cigarro no braço da cadeira.

-E você permanece defendendo ela, mesmo sabendo que mentiu pra você durante todo esse tempo. Você é leal, Ísis, admirável! Mas totalmente inútil na sua atual posição. – fala e o encaro por alguns segundos.

-Pois bem, me diga, se não fugiu dela na gravidez, o que aconteceu? – pergunto e ele passa mais alguns segundos em silêncio.

-Depois que você vazou da cidade, ela ficou mais doida que o normal e eu gostei disso. A gente saía mais, se via mais, fazia mais paradas juntos e eu até paguei um hotel para ela ficar quando ela brigou com o velho de vocês. Inclusive, chato pra caralho teu pai, em?! Quase surtou quando viu a gente na rua e eu tava fumando. – disse sorrindo, como se lembrasse da cena.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora