C.57 - Respirar

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ALEXANDRE

Perdi as contas de quantas vezes perdi as contas, tentando contar até mil para conter minha vontade de arrebentar aquele infeliz de novo. Mas bom, hoje eu estava no território da polícia e o único preso que eu gostaria de presenciar era ele! Sem contar que Ísis também estava do outro lado vendo e ouvindo tudo e sei que, mesmo ele sendo um filho da puta, isso a abala de alguma forma.

O ódio no olhar e nas palavras dele, não significam nada para mim, mas expressam também o que enfrento e continuarei enfrentando de outras pessoas, é assim que elas se sentem em relação a mim e à minha família e são merdas do mesmo calibre, até pior, do que a que ele fez, que essas pessoas também estarão dispostas a fazer. Mas eu também estarei disposto a enfrentar e proteger os meus.

E por falar em enfrentar, saímos dessa delegacia com a cabeça erguida e atropelando quem ousou tentar pisar nela, porque nisso nós somos bons!

Agora, estou dirigindo e estava prestes a falar com ela, quando acaba a música que estava tocando baixo no rádio e começa outra que ela parece reconhecer, enquanto batuca os dedos na perna e então aumento o som e ela me encara sorrindo levemente, já começando a cantar a música que também reconheço depois do primeiro verso.

Tudo com você

Seu corpo no meu

-Gostei disso! – falei enquanto ela cantava e ela riu gostoso.

Sem nenhum porquê

Hoje meu coração é seu

(Cantou e então pisquei para ela, fazendo sinal para a escolta se fechar mais ao nosso redor)

Sou tudo ao seu lado

Preciso te encontrar

Diga se estou errado

Algo me faz querer te amar

(Nesse momento também comecei a cantar, me revezando entre a encarar e dirigir, enquanto abria os vidros, deixando o vento forte se colidir com a gente e vendo seus fios claros se espalhando para todo lado, enquanto seu olhar azul estava apertado em um sorriso que eu ganhava)

Então agora é só você e eu

Não tenha medo de dizer

Tudo de você é só meu

Só o amor faz voar

Meu amor vivo pra te amar

Só o amor faz voar

Meu amor vivo pra te amar

Cantamos toda a segunda parte da música em um clima gostoso de risadas e descontração, como se estivéssemos em um show particular, enquanto ela fechava o punho na vertical, fingindo que era um microfone, que se revezava entre cantar dois versos e depois colocar o “microfone” na minha direção para que eu cantasse mais dois e o refrão cantávamos juntos.

Um momento tão simples, uma brincadeira boba, mas tudo significava tanto. Nem lembro quando conseguimos ficar assim leves, sorrindo, sem nos preocupar com mais nada. Depois que a música acabou, começou outra e nos encaramos, mas ambos não conheciam a melodia e sorrimos disso. Então fechei os vidros, para não ficar muito tempo exposto com ela, e baixei um pouco o som.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora