C.51 - Sem trégua III

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ÍSIS

Respiro fundo e encaro minha irmã que permanece cabisbaixa, evitando me encarar a todo custo e isso só comprova ainda mais que realmente tem algo para me explicar.

-Inês...

-Ísis, pode ser depois? – pergunta já levantando

-Nada de depois, senta aí que você vai me contar sobre o que ela insinuou! – digo em tom firme já me aproximando do sofá

-Você não sabe que ela é louca?!

-Não tenta me enrolar que de burra eu só tenho a cara, Inês Garcia! – digo sentando ao seu lado e então ela me encara um tanto apreensiva nesse momento – O que ela quis dizer quando falou que mentiu para mim sobre ser expulsa por nosso pai é verdade? – pergunto e ela demora bons segundos para abrir a boca

-Sim... – responde baixando o olhar e balanço a cabeça em negação já sentindo uma ponta de raiva me invadir por ela ter feito uma das coisas que menos aprecio no ser humano como um todo: mentir.

-Preciso falar que quero que me explique tudo?! – indago e então ela respira fundo e finalmente me encara.

-E-eu... eu não sei como falar...

-Sem rodeios, apenas diga a verdade de uma vez, sem pensar muito, como sempre faz. – respondo e então ela assente e passa algum tempo para finalmente começar a falar.

-Eu tive uma briga sim com nosso pai, mas não por causa da gravidez, na verdade, eu nem estava grávida ainda. – ela fala e fico a encarando sem conseguir dizer uma palavra sequer – Uns dois meses antes de descobrir a gravidez eu precisei de dinheiro e como você bem sabe, o nosso pai não dava um real a mais do que prometia da mesada, então eu fui até o caixa da loja...

-Por favor, não me diga que fez isso... – falo colocando uma mão na testa incrédula com o destino das suas palavras e o seu silêncio me confirma isso. – Para quê queria o dinheiro? – pergunto e ela me encara por longos segundos – Está brincando comigo? Você estava se drogando? – pergunto em tom indignado

-Não! – ela diz imediatamente – Eu queria, queria muito, senti uma vontade descontrolada e foi por isso que fui até o caixa, mas, fissurado no trabalho como sempre foi, nosso pai não demorou para descobrir e bloqueou minha saída na porta da loja. Ele me fez ir até o escritório e encontrou o dinheiro na minha bolsa... quando descobriu que era para...

-Para drogas. – completo e ela assente

-Ele surtou, começou a falar que iria me internar e mais um monte de besteiras, e eu estava calada até o momento em que ele falou que iria ligar para você. Eu surtei, não deixei, explodi com ele, falei coisas, muitas coisas...

-Por que não deixou que ele me ligasse? – pergunto

-Porque eu... eu fiquei com vergonha. Você já havia me tirado disso uma vez e eu prometi não voltar para essa vida, mas eu fraquejei, e eu sabia que todos iriam me julgar e eu não me importava, já estava acostumada com isso, mas somente a ideia de imaginar você me olhando com decepção, porque seria assim que se sentiria, me destruía...

-Ah Inês, mas você precisava de ajuda, não deveria ter negado isso... – digo a encarando – O que disse para ele?

-Muitas coisas, muitas mesmo, mas, dentre elas, que ele morreria sozinho, porque nem aquela falsa da Susi ficaria com ele no fim, nós sabemos disso... Confesso que me arrependi um pouco de ter dito isso, mas não fiz questão de retirar. – diz dando de ombros

-E depois? – pergunto

-Depois nós brigamos novamente quando chegamos em casa, até que ele disse que lavava as mãos, que eu poderia fazer o que quisesse, então eu arrumei as malas e saí da casa dele.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora