C.52 - Sem trégua IV

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ALEXANDRE

Confesso que não fiquei tão surpreso quando Ísis me explicou o motivo da reaparição da mãe. Há pessoas que só de bater o olho a gente lê nos olhos as intenções e eu sabia que as daquela mulher não eram tão boas e inocentes ao ponto de apenas querer matar a saudade das filhas, mesmo que tenha sido nisso que Ísis se apegou para recebê-la e a sua decepção ao me explicar tudo foi nítida.

A loira ainda teve a cara de tentar me explicar que não se aproximaria de mim por causa de dinheiro e claro que nem permiti que ela terminasse, pois se há algo que o azul do olhar dessa mulher transparece é a sinceridade, sempre foi assim. Sem contar que quem correu atrás dela feito um cão fui eu, enquanto ela fazia questão de fugir de mim, e nem gosto de lembrar disso! Só a memória de vê-la me dando as costas e saindo já me atormenta!

O que realmente posso afirmar ter me surpreendido, foi sua irmã durante o jantar, imaginei que fosse relutar bastante quanto ao isolamento e a sair do emprego, mas ela apenas concordou sem nenhuma dificuldade, o que foi um certo alívio, tanto para mim, quanto para a loira. Não pretendia dormir no apartamento, mas não consegui sair de perto da mulher, queria me manter grudado nela, então não tive outra escolha. Acordei mais cedo que o habitual, não só porquê tenho muitas coisas para resolver, mas também porquê o apartamento fica consideravelmente distante da Sede.

Assim que cheguei no escritório, mantive contato aberto com Décio, para que me informasse cada passo que desse com Ísis durante o dia, já que hoje ela sairá para trabalhar e eu não trabalharei direito inquieto e preocupado com ela fora o dia inteiro, porra!

*

Já havia se passado parte da tarde e agora consigo sentar na minha cadeira mais tranquilo, já que pela manhã tive duas reuniões e uma audiência, sem contar que o horário de almoço passei inteiro conversando com meu cliente sobre o andamento do caso e depois de explicar tudo ele foi embora para a sua cidade, para nos vermos apenas na semana que vem, na audiência final. Verifiquei as ultimas coordenadas que recebi de Ísis e para minha tranquilidade, tudo corria bem. Respirei fundo, já pronto para pedir para Laura me informar o próximo compromisso de hoje, quando Saulo adentra na minha sala com uma pasta.

-A que devo a honra, pirralho? – pergunto

-Senti saudades de ver uma cara feia! – ele diz

-Então errou o local, porque deveria ter ido para a Central da PF. – respondo e ele sorri sentando a minha frente

-Lembra quando falei que já tinha visto aquele símbolo em um caso? – pergunta

-Sim. Encontrou alguma coisa?

-Encontrei. Foi um caso que participei há mais de quatro anos. – ele diz abrindo a pasta no meu sentido sob a mesa – Esse homem, era Rangel, o cabeça de uma das maiores facções  do estado, que enviava drogas para todo o país, em uma cadeia inquebrável e cíclica e, claro, nunca tinha sido pego pela polícia. – diz apontando para a foto do homem que deveria ter seus 60 e poucos – Era conhecido por ser intolerante quanto a mentirosos, traidores, devedores e inimigos, ele mandava caçar, capturar, torturar e matar cada um que entrasse no seu caminho e as vítimas eram “avisadas” que os homens dele estavam na sua cola através dessa marca.

Fala virando a página e lá está a marca em várias fotos e em vários locais diferentes.

-Até esse período, ninguém que havia recebido essa marca sobreviveu. – diz e travo minha mandíbula, tomando a liberdade de passar as folhas com algumas imagens das vítimas do infeliz.

-Por quê até esse período? O que aconteceu depois? - pergunto

-A polícia pegou ele, se infiltraram no pessoal dele por meses até conseguirem a melhor oportunidade e derrubaram ele. Quando chegou o dia do seu julgamento, eu era o advogado convocado.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora