C.63 - Sem respirar V

11.2K 1.2K 766
                                    

ÍSIS

Depois de desistir de procurar uma forma de tentar abrir essa droga de cela, sentei e fiquei esperando, enlouquecendo sozinha nesse lugar podre. Minha cabeça começou a lembrar de cada momento em que só agora tenho consciência de que Inês mentiu na minha cara.

Quando parou de usar o fardamento, quando chegou com o pijama de bebê da tal Marcela, quando saiu sem avisar e voltou com hematomas, quando dizia que ia sair, encontrar ou dormir com a tal Marcela, quando falava que havia recebido folga do emprego... Não sei dizer se tenho mais raiva ou chateação, assim como não sei quem é mais burra no meio de toda essa história! Se ela, por acreditar nesse maldito, ou se eu, por não desconfiar de absolutamente nada, nunca!

Derramei algumas lágrimas para tentar aliviar o peso no meu peito, com tudo o que eu estava sentindo, esse misto de raiva, mágoa, medo, desespero... parece que estou no inferno agora, é assim que me sinto, em um verdadeiro inferno!

Sento no banco de concreto que, por sinal, também não é menos imundo que o restante de tudo aqui, mas minhas pernas estão doendo de ficar em pé, então encosto minha cabeça na parede e fico apenas olhando para as grades acima de mim. Se alguém me perguntasse há algum tempo se algum dia eu me imaginaria nessa situação, eu provavelmente diria que essa pessoa era louca, mas aqui estou eu, presa por um doente desgraçado que quer prejudicar pessoas que amo que estão lá fora e o mais irônico é que todos que estão lá fora com certeza têm melhor ideia do que está acontecendo do que eu, que estou sendo informada por esse infeliz. A que menos sabe, foi sequestrada. Isso tudo parece um circo armado e no meio de disso, eu sou a palhaça!

Respirei fundo, tentando fazer o impossível, que é conter minhas emoções, pois há picos em que o desespero quer me dominar e a única coisa que me acalma é o pensamento de que “Ele vai chegar”. Não sei como, mas eu me apego a isso, porque sei que ele não vai descansar até me tirar daqui, mas qual será o preço disso? O que esse maluco do Roger vai exigir em troca? Meu Deus, para todo lado que corro, tudo parece piorar...

Nesse momento, ouço a porta de ferro sendo destravada por forra pelo o que eu diria ser um ferrolho e então Roger adentra, depois de um bom tempo desde que saiu, que eu chutaria serem horas.

-Voltei. – fala respirando fundo e sentando na cadeira e claro que já está com a droga de um cigarro entre os dedos novamente – E aí, se divertindo?

-Está de palhaçada comigo?

-Pode não parecer, mas não sou homem de palhaçadas.

-Você não é homem para nada! – rebato com raiva

-Cuidado, quando eu estou irritado, faço coisas sem pensar e está no seu sangue o dom de conseguir me irritar facilmente, já que tua irmã fazia isso melhor do que ninguém.

-Diz logo que merda você quer! – falo sem paciência e então ele dá uma risada abafada que me irrita.

-O que eu quero... Eu quero os dias de glória novamente, os dias em que tínhamos tudo controlado, em que grana a gente até perdia por não ter onde guardar, em que éramos respeitados, temidos... é, com certeza, é isso que quero. – fala olhando para cima, como se estivesse vislumbrando o que descrevia.

-E o que eu tenho a ver com isso?? – pergunto e então ele me encara.

-Ahh, você... – fala aproximando seu rosto da grade. – Você é o meu bilhete premiado! – completa e então permaneço o encarando. – Por que acha que ainda está totalmente ilesa? Não pense que é por causa dos seus lindos olhos azuis, porque não é. E muito menos porque eu sou generoso.

-Disso eu não tenho a menor dúvida!

-Ótimo. Está ilesa, porque é importante que ainda esteja, mas, pode acreditar, eu sou justo, no momento em que não for mais importante ou que eu tiver um motivo firme, as coisas irão mudar para você.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora