C.68 - BÔNUS - Amor: do tipo que destrói III

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INÊS GARCIA

Nesse meio tempo, nossa mãe foi embora

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Nesse meio tempo, nossa mãe foi embora. Não vou dizer que isso foi lá uma surpresa, mas mesmo que eu negasse pra todo mundo, isso me abalou. Ela sempre deixou além de claro que eu e Ísis éramos como fardos na vida dela, que acabamos com o psicológico, com o corpo, com a rotina e com tudo o que ela gostava antes da gente. Isso acabou gerando uma certa necessidade em tentar agradar ela e nós tentamos, mas eu me frustrei logo de cara e me revoltei, se era pra ser ruim, então agora eu realmente seria e daria desgosto o suficiente para valer o que ela falava. Ísis não, ela continuou tentando, porque ela tem essa terrível mania de não desistir das pessoas, mesmo quando elas merecem que faça isso.

Depois que nossa mãe foi embora, não conseguimos sequer entrar em contato e tudo parecia piorar. Nosso pai sempre foi ausente, mas agora, além disso, ele estava distante. Mesmo vivendo o inferno com nossa mãe, ele não esperava que ela o deixasse, isso ficou claro. Mais claro que isso só a sua carência e desespero para se envolver com uma mulher bem mais nova e que tinha interesse apenas no que ele poderia financeiramente proporcionar, o que era ridículo e ela insuportavelmente falsa.

Esse foi o momento em que percebi que estava tudo se desfazendo e indo por água abaixo. Minha mãe tinha ido embora, meu pai parecia um total estranho, a cobra da mulher dele me enlouquecia e Ísis e eu ainda não nos falávamos direito por causa de Roger. Então foi a minha vez de ir atrás dela. Conversamos e depois de se conformar, contra gosto, claro, de que eu não me afastaria de Roger, ela só impôs uma condição para que voltássemos a nos falar: nada de drogas.

E assim eu fiz, disse pro Roger que pararia com as drogas e foi muito, muito difícil. Houve um momento em que até eu quis me internar de tão desesperada que estava, mas em todos os piores, Ísis estava lá, me puxando do fundo do poço. As coisas pareciam mais estáveis e menos insuportáveis, até que uma única frase tirou todo o meu chão.

"Eu vou embora, Inês"

Eu fiquei em choque e nem acreditei, confesso que duvidei até o último segundo que ela iria realmente, eu me negava a aceitar, só caiu a ficha quando entrei no quarto e as coisas dela não estavam mais lá, tudo estava vazio e só restava eu e todo esse inferno. Foi aí que realmente senti o peso do que era estar literalmente sozinha. O tempo foi passando e eu fingi me acostumar, mas a verdade é que nada supria a ausência dela e eu nunca sabia qual próximo passo dar, porque em todos eles ela sempre esteve lá me aconselhando, me ajudando, me apoiando, puxando minha orelha, mas naquele momento ela não estava mais.

Bom, eu não queria mandar mensagem para ela, porque ela estava tentando um novo começo e lidando com seus mil problemas e eu não queria mostrar que não estava conseguindo lidar com a minha crise existencial, casa infernal e o namorado drogado. Então fui levando como podia, até que em certo momento não aguentei mais, as coisas estavam difíceis e eu só queria parar de me importar e a única coisa que tinha esse poder era a droga. Mas eu não tinha dinheiro, Roger não estava na cidade e meu pai nunca me daria aquela quantia, porque conhecia bem meus antecedentes.

ALEXANDRE FERRARI IIOnde histórias criam vida. Descubra agora