DARK PARADISE; tog + acotar

xxxxxxxxxvii. SAM ASHRYVER WHITETHORN GALATHYNIUS

SAM

Crawling back to you
Ever thought of calling
when you've had a few?
Cause I always do
Maybe I'm too
busy being yours to fall
For somebody new

O sangue quente escorria pela minha mão. Não era o meu sangue. Era dela.

O eco do suspiro dela – aquele murmúrio quase inaudível – perfurou algo em mim que nem mesmo Orcus havia conseguido. "Eu não quero morrer."

Eu não devia ter ouvido. Não devia ter sentido. Era isso que ele sempre me dizia. Orcus, com seus olhos como poços de escuridão, havia me treinado para ser mais do que um homem. Um monstro. Um general.

Em todos aqueles anos, em toda aquela vida, que tive no mundo Valg, eu era apenas uma arma. Nenhum membro do Cadre, nenhum dos seres mais poderosos de Erilea eram capazes de me derrotar. Eu era uma arma mortal, indestrutível, capaz de manipular qualquer ser que tivesse água no corpo, capaz de vencer qualquer luta ao lado de Clare.

Clare. Eu estava fazendo isso por ela, para mantê-la em segurança.

E ainda assim, enquanto olhava para Asterin, caída no chão, com o sangue dela manchando minhas mãos, tudo em mim se rebelava.

Rhoe e Lyria estavam certos, eu faria de tudo para que eles a salvassem, mesmo que não pudesse admitir.

Eu não queria que ela morresse.

A lâmina que eu segurava tremia, mesmo sendo um com o aço desde que me tornei quem sou. Minhas mãos, firmes em batalhas, agora vacilavam. Minha magia estava descontrolada enquanto eu tentava não explodir. Clare iria rir de mim agora. Era diferente estar diante de Asterin, a pessoa que eu tinha jurado amar muito antes de Orcus se infiltrar nos meus pensamentos, muito antes de eu ser arrastado para o mundo dos Valg.

Asterin. Ela estava certa. Eu nunca deveria ter feito esse juramento.

Mas eu não tinha escolha, não é? Orcus sabia como dobrar até os homens mais fortes. Ele prometeu que me daria o poder para proteger Clare, que, enquanto estivéssemos jurados eu poderia intervir contra qualquer um que ameaçasse a illyriana, que eu poderia corrigir o meu erro.

Eu não tinha Asterin naquele mundo, não tinha meus pais nem ninguém. Era apenas Clare e eu, apenas nós dois nos importávamos com a vida um do outro. Asterin, segura em Erilea, não se importava ... ou pelo menos eu achava que não.

Orcus soube onde me apertar e agora estava doendo mais do que nunca.

Mesmo assim, enquanto eu planejava o futuro, enquanto arquitetava como tomaria Erilea sob seu comando, eu já sabia. Sempre soube. Quando meu reinado começasse, eu me voltaria contra ele. Com ou sem aquele juramento de sangue.

Mas agora, com Asterin...

Eu podia sentir a marca do juramento queimando sob minha pele, pulsando no meu coração como correntes invisíveis. Orcus tinha me ordenado esfaqueá-la. E eu fiz. Eu tinha obedecido porque era a única maneira de manter as aparências, de não expor meu jogo.

Agora, ela estava ali. Ensanguentada, mas viva.

E, ao invés de ceder à escuridão que crescia em mim desde o dia em que fui levado, eu ouvi o sussurro dela.

"Eu não quero morrer."

O que era isso que eu sentia, essa rachadura na parede que eu havia erguido para me proteger? Não era só amor. Era fúria.

Sua irmã tinha morrido, tinha feito a renúncia e levado metade do meu exército Valg com ela. E pelo cheiro forte e insuportável de sangue, ela logo a encontraria no Alem-Mundo.