03.

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Chamei a Melissa no whats pra avisar que o almoço já tava pronto, deu nem dez minutos e a gata brotou aqui em casa.

Quando se trata de comida essa daí é a mais pontual.

Melissa: Mana. - Suspirou depois de dar a última garfada no macarrão e abriu o botão da calça. - Tu arrasa, acaba com a minha dieta, mas arrasa.

- Difícil discordar, viu? - Ri antes de beber a água no meu copo.

Melissa: A humildade de centavos. - Me deu a língua. - Dá nem vontade de ir pra facul mais depois de um rango desses.

- Real, ainda bem que esse já é o meu último ano.

Tô cursando o quarto ano de design de interiores e apesar de amar o que estudo não vejo a hora de terminar e me formar logo.

Melissa: Só de pensar que ainda me falta um já me dá vontade de pular de paraquedas sem paraquedas. - Falou antes de levantar com nossos pratos vazios em mão.

Dei risada da cara dela de desespero e aproveitei que ela começou a lavar a louça pra ir ver o que irei vestir mais tarde pra ir na facul.

Melissa, a mãe dela e o Jota são tudo que eu tenho nesse mundo. Literalmente, não tenho mais ninguém.

Minha mãe morreu no meu parto e meu pai, um homem branco, me rejeitou por não ser branca. Não sei o que ele esperava ao gozar dentro de uma mulher preta.

Mas quer saber? Nem ligo mais, sou uma mulher preta e favelada, é preciso muito mais do que uma mísera lembrança pra me deixar abalada.

Por não ter familiares próximos eu fui parar num orfanato, onde cresci e fiquei até atingir a maior idade. Quando atingi entrei em um colapso emocional, não tinha pra onde ir, não tinha emprego, não tinha família e muito menos conhecidos. Lembro como se fosse ontem, no mesmo dia que mandaram eu ralar dali eu caçei logo um ponto de ônibus pra poder dormir, por sorte eu encontrei a tia Maria, mãe da Mel, ela perguntou o porquê de eu estar chorando e desesperada daquele jeito, eu falei e mesmo sem me conhecer ela me trouxe pra favela, pra casa dela, me abrigou e se tornou a mãe que eu infelizmente não pude ter.

Quanto ao meu pretinho... desde o momento que eu pisei aqui na quebrada dele ele vivia me secando, na cara dura mesmo, mas por ele ser comprometido eu nunca rendi. Só no ano passado que eu fui render, e foi porque ele ficou solteiro no final do antepassado. A gente começou a ficar, na virada do ano ele me pediu pra namorar e hoje tamo aí há quase cinco meses juntos.

Separei uma calça jeans de cintura alta e lavagem escura com rasgões, um cropped branco de manga comprida e gola alta, algumas joias e pra calçar uma rasteirinha também branca.

Deixei tudo por cima da minha cama e voltei pra sala, indo pra cozinha em seguida e encontrando a Melissa sorrindo à beça enquanto encarava a tela do celular.

- Ih, quem é? - Perguntei fazendo ela saltar de susto e parar com a mão no peito.

Melissa: Um bofe aí. Lembra do baile que tu não quis ir porque o Jota ia pesar na tua?

- Não. - Respondi me apoiando na bancada.

Melissa: Aquele que rolou no Alemão, mana! - Exclamou impaciente, fazendo eu me lembrar.

- Tô ligada, o que tem? É algum dos bofes que tu falou que ficou lá? - Ela assentiu antes de sorrir safada. - Qual deles?

Melissa: Aquele que me chamou pro camarote e bancou tudo que eu consumi pelo resto da noite. - Respondeu passando um pano úmido na bancada.

- Caralho, então deve ser alguém importante por lá.

Melissa: Também acho, geral chamava de chefe. - Deu de ombros. - Então, esses dias ele me chamou no twitter e trocamos números, agora estamos pelo whats e marcamos de sair mais tarde.

- Porra... - Falei chocada. - Então o cara deve ser mó gostoso, porque te tirar de casa, do teu conforto, é uma missão quase impossível.

Melissa: Gostoso ainda é pouco, mana. - Se abanou com a mão e eu ri.

Conheco essa maluca desde os meus dezoito, ela tinha dezessete na época que eu fui pra casa dela. Até hoje eu só vi ela marcando de sair com alguém umas três vezes.

Ficamos trocando ideia e quando deu cinco horas ela foi pra casa dela se arrumar e eu fiz o mesmo.

Tomei um banho super rápido e me arrumei mais rápido ainda, peguei minha bolsa da facul e fui pra fora de casa.

Sentei na calçada e fiquei esperando a Mel voltar, quando avistei ela vindo já levantei e fomos descendo a ladeira rumo ao ponto de ônibus mais próximo daqui.

▪︎

Melissa Almeida, Mel

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Melissa Almeida, Mel.| 23 anos.

Inolvidável - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora