Me aproximo vagarosamente, porque pode muito bem ser uma cilada, e me chamo de louco mentalmente pelo fato da silhueta dela ter me lembrado da silhueta da Kaira.
- Nem fumei um hoje e já tô na onda. - Falo baixo depois de comparar o cabelo dela com o da baixinha, parece muito igual, tanto no tamanho quanto na curvatura dos cachos.
- Por favor. - Tosse abraçando mais o próprio corpo. - Não me mata... - Sua voz, estranhamente familiar, soa muito baixa entregando o quão fraca ela tá.
- Por que eu te mataria? - Abaixo na sua frente, vendo ela se tremendo, e arrepio quando ela levanta o rosto olhando pra mim. - Baixinha?
Kaira: Água. - Seus lábios esbranquiçados pronunciam e eu gelo sem acreditar na situação em que ela se encontra.
Pego seus pulsos úmidos, sentindo sua pele fria apesar dela estar suando, e ela geme de dor quando eu desfaço os nós da corda. - Não dorme, Kaira. - Chacoalho ela, fazendo ela voltar a abrir o olho, e desfaço o nó dos pés.
Kaira: Eu tô cansada... - Passa a língua pelos lábios sem cor, tremendo toda arrepiada.
- Deixa pra descansar depois. - Falo desamarrando o nó do lenço na parte de trás do seu pescoço. - Quem fez isso contigo? - Pergunto, mesmo já tendo o maluco do ex dela em mente, e me levanto com a mão em volta da sua cintura, fazendo ela levantar também.
Kaira: Quem você acha? - Tosse cuspindo sangue e apoia a cabeça no meu braço. - Tá frio. - Suspira roçando o braço dela no meu, tentando se aquecer, e quando eu faço menção de pegar ela no colo paro escutando o barulho dos portões se arrastando.
Jota: Cheguei, minha nega. - Ouço uma voz irritante, que presumo ser do idiota, e em poucos segundos ele avista a gente, pegando sua arma antes de apontar pra mim rapidamente. - Solta ela. - Destrava a arma e eu levanto meu braço livre em sinal de rendição.
- Só vim pegar o que é meu.
Jota: Vai perder a vida e o armamento. - Gargalha. - Últimas palavras? - Move um pouco a mão, colocando a mira na direção do meu peito.
Aperto os olhos, vendo seu desespero por ver a Kaira comigo, e aproveito a deixa dele estar mais focado nela pra tirar a glock do coldre, ele volta a olhar pra mim e atira.
Viro de lado, fazendo o tiro passar de raspão no meu braço, e me afasto apontando a glock na lateral da cabeça da Kaira, que gela em choque.
- Se eu morrer ela vem junto. - Sorrio vendo as pupilas dele dilatarem.
Jota: Essas tatuagens suas. - Franze as sobrancelhas. - Eu já vi em algum lugar. - Aperta os olhos e tira seu celular do bolso sem parar de apontar a arma pra mim. - É TU, PORRA! - Joga o aparelho contra a parede. - É tu o filho da puta que comeu essa puta, não é? - Ri passando a mão no rosto. - Mata ela então, duvido, tudo blefe.
- Tem certeza que quer testar pra ver? - Pressiono o cano da peça na lateral da cabeça dela, que funga alto. - Em? - Ele fica calado e eu destravo a arma fazendo ela gritar de susto.
Jota: TÁ BOM, PARA!! - Grita desesperado.
Kaira: Me mata, me mata aqui e agora. - Ordena com a voz cada vez mais inaudível. - Me mata, Atacante, se tu não tá blefando então me mata.
- Cala a boca. - Susurro respirando fundo. - Joga tua arma pra cá. - Falo pro Jota e ele coloca no chão chutando na minha direção. - Pego meu radinho acionando o Bil e paro a arma com o pé. - Brota com a tropa pra carregar o armamento. - Dou o papo antes de mirar no pé do nojento e atirar, fazendo ele cair no chão gritando. - Mota. - Chamo no radinho.
Mota: Qual foi?
- Brota, irmão.
Mota: Tô vindo.
Guardo o radinho no bolso e a tropa chega começando a carregar o armamento pro caminhão.
Kaira cambaleia pro lado e eu faço menção de ajudar mas ela me empurra se apoiando na parede com os olhos fechados.
Kaira: N-não... - Tosse passando a mão no pescoço. - Não encosta em mim. - Fala cambaleando novamente e num reflexo eu dou alguns passos na direção dela, a pegando no colo assim que ela desmaia.
Mota chega olhando pro Jota inconsciente no chão e olha pra mim com um ponto de interrogação estampado na testa.
- Quero matar ele de igual pra igual, assim não vai ter graça, pô. Toma. - Ele pega a Kaira nos braços e eu resumo o que aconteceu. - Vou ajudar os caras a carregar o armamento e depois nóis mete o pé.
Bil: Vou levar esse filho da puta pro postinho. - Chuta o rosto do Jota. - Fingir que achei ele e salvei.
- A cara nem arde. - Dou risada e ele acaba rindo junto. - Tu não é tão burro quanto eu pensava.
Bil: Viu só? - Estala a língua no céu da boca negando com a cabeça. - Se eu fosse vocês pegava a Melissa e a mãe e levava junto porque quando ele acordar vai querer descontar nas pessoas mais próximas da Kaira.
- Pô, mas eu fingi que ia matar ela e ele se rendeu. Por que ele faria isso?
Bil: Jota é doente, Atacante, abraça o meu papo. - Olha pro corpo dele no chão e cospe. - Ele é o tipo de pessoa que te salva pra poder te matar com as próprias mãos e tenho certeza que é isso que ele ia fazer com a Kaira.
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Inolvidável - Livro 1.
Romance+16| Inolvidável: Que não se pode olvidar; impossível de se esquecer; que fica na lembrança; inesquecível. - O que eu e você tivemos foi inolvidável, aceite. Quanto mais você negar, mais esse sentimento vai se apossar de você. "Quando um não aguenta...