42.

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Me aproximo vagarosamente, porque pode muito bem ser uma cilada, e me chamo de louco mentalmente pelo fato da silhueta dela ter me lembrado da silhueta da Kaira.

- Nem fumei um hoje e já tô na onda. - Falo baixo depois de comparar o cabelo dela com o da baixinha, parece muito igual, tanto no tamanho quanto na curvatura dos cachos.

- Por favor. - Tosse abraçando mais o próprio corpo. - Não me mata... - Sua voz, estranhamente familiar, soa muito baixa entregando o quão fraca ela tá.

- Por que eu te mataria? - Abaixo na sua frente, vendo ela se tremendo, e arrepio quando ela levanta o rosto olhando pra mim. - Baixinha?

Kaira: Água. - Seus lábios esbranquiçados pronunciam e eu gelo sem acreditar na situação em que ela se encontra.

Pego seus pulsos úmidos, sentindo sua pele fria apesar dela estar suando, e ela geme de dor quando eu desfaço os nós da corda. - Não dorme, Kaira. - Chacoalho ela, fazendo ela voltar a abrir o olho, e desfaço o nó dos pés.

Kaira: Eu tô cansada... - Passa a língua pelos lábios sem cor, tremendo toda arrepiada.

- Deixa pra descansar depois. - Falo desamarrando o nó do lenço na parte de trás do seu pescoço. - Quem fez isso contigo? - Pergunto, mesmo já tendo o maluco do ex dela em mente, e me levanto com a mão em volta da sua cintura, fazendo ela levantar também.

Kaira: Quem você acha? - Tosse cuspindo sangue e apoia a cabeça no meu braço. - Tá frio. - Suspira roçando o braço dela no meu, tentando se aquecer, e quando eu faço menção de pegar ela no colo paro escutando o barulho dos portões se arrastando.

Jota: Cheguei, minha nega. - Ouço uma voz irritante, que presumo ser do idiota, e em poucos segundos ele avista a gente, pegando sua arma antes de apontar pra mim rapidamente. - Solta ela. - Destrava a arma e eu levanto meu braço livre em sinal de rendição.

- Só vim pegar o que é meu.

Jota: Vai perder a vida e o armamento. - Gargalha. - Últimas palavras? - Move um pouco a mão, colocando a mira na direção do meu peito.

Aperto os olhos, vendo seu desespero por ver a Kaira comigo, e aproveito a deixa dele estar mais focado nela pra tirar a glock do coldre, ele volta a olhar pra mim e atira.

Viro de lado, fazendo o tiro passar de raspão no meu braço, e me afasto apontando a glock na lateral da cabeça da Kaira, que gela em choque.

- Se eu morrer ela vem junto. - Sorrio vendo as pupilas dele dilatarem.

Jota: Essas tatuagens suas. - Franze as sobrancelhas. - Eu já vi em algum lugar. - Aperta os olhos e tira seu celular do bolso sem parar de apontar a arma pra mim. - É TU, PORRA! - Joga o aparelho contra a parede. - É tu o filho da puta que comeu essa puta, não é? - Ri passando a mão no rosto. - Mata ela então, duvido, tudo blefe.

- Tem certeza que quer testar pra ver? - Pressiono o cano da peça na lateral da cabeça dela, que funga alto. - Em? - Ele fica calado e eu destravo a arma fazendo ela gritar de susto.

Jota: TÁ BOM, PARA!! - Grita desesperado.

Kaira: Me mata, me mata aqui e agora. - Ordena com a voz cada vez mais inaudível. - Me mata, Atacante, se tu não tá blefando então me mata.

- Cala a boca. - Susurro respirando fundo. - Joga tua arma pra cá. - Falo pro Jota e ele coloca no chão chutando na minha direção. - Pego meu radinho acionando o Bil e paro a arma com o pé. - Brota com a tropa pra carregar o armamento. - Dou o papo antes de mirar no pé do nojento e atirar, fazendo ele cair no chão gritando. - Mota. - Chamo no radinho.

Mota: Qual foi?

- Brota, irmão.

Mota: Tô vindo.

Guardo o radinho no bolso e a tropa chega começando a carregar o armamento pro caminhão.

Kaira cambaleia pro lado e eu faço menção de ajudar mas ela me empurra se apoiando na parede com os olhos fechados.

Kaira: N-não... - Tosse passando a mão no pescoço. - Não encosta em mim. - Fala cambaleando novamente e num reflexo eu dou alguns passos na direção dela, a pegando no colo assim que ela desmaia.

Mota chega olhando pro Jota inconsciente no chão e olha pra mim com um ponto de interrogação estampado na testa.

- Quero matar ele de igual pra igual, assim não vai ter graça, pô. Toma. - Ele pega a Kaira nos braços e eu resumo o que aconteceu. - Vou ajudar os caras a carregar o armamento e depois nóis mete o pé.

Bil: Vou levar esse filho da puta pro postinho. - Chuta o rosto do Jota. - Fingir que achei ele e salvei.

- A cara nem arde. - Dou risada e ele acaba rindo junto. - Tu não é tão burro quanto eu pensava.

Bil: Viu só? - Estala a língua no céu da boca negando com a cabeça. - Se eu fosse vocês pegava a Melissa e a mãe e levava junto porque quando ele acordar vai querer descontar nas pessoas mais próximas da Kaira.

- Pô, mas eu fingi que ia matar ela e ele se rendeu. Por que ele faria isso?

Bil: Jota é doente, Atacante, abraça o meu papo. - Olha pro corpo dele no chão e cospe. - Ele é o tipo de pessoa que te salva pra poder te matar com as próprias mãos e tenho certeza que é isso que ele ia fazer com a Kaira.

Inolvidável - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora