Inolvidável - Livro 1.

90.

+180 votos.

Kaira.

Alguns dias se passaram após a minha "tentativa de suicídio", parece loucura se eu paro pra pensar que até uns dias atrás eu não conseguia pensar em algo que não fosse minha morte e hoje tô mais do que grata por Deus e o universo não terem atendido minhas vontades.

Pedi muito por um motivo que me fizesse querer me reerguer depois de perder a pessoa que eu mais amo nesse mundo, e não é que o motivo foi melhor do que o esperado?

Não foi planejada essa gravidez mas é muito bem vinda, independentemente do tempo difícil que eu tô passando por conta do luto eu tô feliz demais. Sinto que o vazio dentro de mim tá se preenchendo com o passar dos dias graças a esse presentinho lindo.

Não vou mentir que já não dói o fato de saber que nunca mais eu vou ter a tia aqui, ainda mais quando imagino ela sendo uma vó babona, mas aos poucos eu tô aprendendo a lidar com a ausência dela.

Já saí do hospital, até porque meu ferimento não foi grave, tô me alimentando direito e já até voltei a trabalhar. Pouco a pouco eu tô me reencontrando, loucura pensar que um grãozinho minúsculo tá me dando toda essa força pra continuar.

Tá todo mundo feliz com a notícia desse neném, Atacante já dá pra notar que vai ser obcecado por essa criança, não consegue dormir sem beijar minha barriga e sempre que liga pra mim eu tenho que deixar o celular sobre a mesma pra ele falar com "a cria dele", como ele mesmo fala.

Mota e Bil tão numa disputa pra ver quem vai ser o padrinho, Hadad tava também mas foi bem do inteligente e disse que vai esperar o segundo filho meu com o Zaion aí ninguém vai poder far um "a" pois ele já se antecipou. A safada da Mel bem da sortuda tá relaxadissíma sabendo que não tem ninguém pra disputar o posto de dinda com ela.

O som estridente que soa do meu celular vibrando sobre minha mesa secretária me faz voltar pra realidade, fazendo eu arrumar minha postura na cadeira giratória antes de pegar o celular vendo que a Carina tá me ligando.

Carina cresceu comigo no orfanato, porém não foi expulsa de lá aos dezoito porque trabalha lá desde os dezessete.

📞

Oi Ca, quanto tempo!

Oi amostrinha de gente,
já cresceu tu?

Que ódio de ti garota,
cansa de me zoar nunca?

Nuncaaaa.
Como cê tá?

Eu tô bem e você?
Trampando muito ainda?

Tô ótima, muito trampo.
Tu não sabe, a situação aqui só piora.
Todo dia chega em média cinco crianças todo dia.

Poxa, que triste isso.

Pois é!
Mas te liguei por isso não.

Me diga, mulher.

Tava aqui curiando pelos registos de entrada, porque do nada bateu uma curiosidade pra saber quem são os miseráveis que me botaram no mundo né.

Tu achou?

Ainda não, mas achei um babado viu?
Tu não tem curiosidade de conhecer seu progenitor?

Sinceramente? Não...

Opa,
melhor eu dar uma segurada então.

Por quê?
Tu achou isso, foi?

Ahram.

Meu coração acelera, minha respiração falha e minhas mãos tremem segurando o aparelho celular contra minha orelha.

Agora eu tô curiosa...
Q-quem é?

Pensando bem eu acho que tu não vai curtir muito não, amiga.

Fala logo, Carina!

Peço já nervosa e do outro lado da linha o som da voz dela é substituído pelo barulho estridente de saltos batendo no chão.

Merda!
A diretora tá vindo, ela não pode sonhar que eu mexi nisso aqui porque tava na gaveta de registos confidenciais.

Susurra antes de desligar sem dizer mais nada.

📞

Passo a mão no rosto sentindo minha garganta mais seca do que nunca e pego a minha garrafinha de água tomando um grande gole, tampo a garrafinha deixando de lado e a tela do meu celular acende com a chegada de imagens no whatsapp.

Abro o app indo pra conversa com a Carina e analiso a imagem que ela mandou do meu registo, meu queixo vai no chão quando eu leio o nome do progenitor Heitor Freitas.

O coronel da pm...

Porra, bolsominion, causador de chacina em diversas comunidades, terror de bandido... Só consigo sentir alívio por ter sido abandonada, imagina se eu tivesse sido criada por um monstro desses? Deus é mais!