Inolvidável - Livro 1.

10.

Como tudo que é bom dura pouco, assim que deu doze e meia eu tive que me despedir da Mel e me picar pra casa, pois infelizmente não nasci uma burguesa rica e safada ou herdeira pra poder ficar sem trabalhar e ainda assim ter dinheiro na minha conta.

Assim que cheguei peguei o uniforme da empresa em que trabalho e deixei sobre a minha cama depois de pegar a minha bolsa na sala e checar se tudo o que necessito está lá.

Escutei batidas no portão no exato momento em que quis passar pro banheiro, bufei e fui caminhando lentamente pro quintal, onde abri o portão, dando de cara com o Jota.

Jota: Que foto é aquela? - Revirei os olhos, dando as costas e fui pra dentro. Escutei o portão sendo fechado com mais força do que o necessário e pedi a Deus que me desse paciência.

- Se tu quebrar aquele caralho vai pagar! - Avisei, vendo ele adentrar na sala e repetir a mesma atrocidade: fechar a porta com mais força do que o recomendado.

Jota: O que caralhos é isso aqui? - Pegou o celular no bolso da sua bermuda e mostrou a foto que eu havia postado antes de voltar pra casa.

- O que você disse. - Dei de ombros. - Uma foto.

Jota: Não testa a porra da minha paciência, Kaira. - Chutou a porta, causando um puta estrondo.

- Não teste você a minha! - Respondi e ele coçou a cabeça, coisa que ele fazia quando tava muito irritado.

Jota: Pra quê tu postou aquilo?

- Por que motivo tu posta foto, Jota? - Cruzei meus braços na altura do peito.

Jota: Não desconversa. - Apontou o dedo na minha cara e eu dei um tapa na mão dele, fazendo o mesmo abaixar. - Foi pra impressionar o engaiolado, não foi? - Concluiu diante do meu silêncio, se referindo ao presidiário.

- Pensei que a gente já tivesse conversado sobre isso. - Suspirei exausta, cansada dessa mesma ladainha, ao me sentar na poltrona. - O que te faz pensar isso?

Jota: Por que tu desbloqueou o número dele? - Me olhou com o maxilar cerrado e eu franzi a sobrancelha. Como ele sabe? - EM? - Berrou e deu um tapa no vaso de vidro que a tia Maria me deu quando eu falei que tinha alugado o meu barraco, fazendo o mesmo se quebrar em inúmeros pedaços ao colidir com o chão.

- TÁ LOUCO, PORRA? - Gritei bolada. - Olha o que tu fez, caralho! - Tava morrendo de vontade de pegar os caco e jogar tudo no rosto dele.

Jota: POR QUE CARALHOS TU DESBLOQUEOU ELE? - Gritou também.

- Tu grampeou o meu celular, Jota? - Encarei ele incrédula.

Jota: Não. Deveria, mas não fiz.

- Deveria uma ova, como tu sabe então?

Jota: Depois de trampar lá na boca ontem eu voltei pra cá, queria falar com o desgraçado então peguei o teu celular pra ver o número e passar pro meu. - Explicou. - Nisso acabei vendo que tu desbloqueou o pau no cu.

- Se liga, em? - Falei séria e ele suspirou antes de vir todo manso pra perto de mim.

Jota: Cê não tá cansada de brigar não, minha preta? - Ajoelhou na minha frente e acariciou a minha bochecha.

- Muito. - Fechei o olho. - Você, pelo contrário, parece não estar.

Jota: Pô, brigo porque me preocupo e te amo, não quero que aquele filho da puta encoste em tu de novo, já já ele vai deixar de ser um problema.

- O que tu quer dizer com isso? Tu fez alguma coisa?

Jota: O necessário pra que ele não volte a incomodar a gente. - Respondeu antes de me dar um selinho e sair da minha casa, me deixando totalmente confusa.

Levantei do sofá, olhando o vaso destruído no chão, e passei reto indo pro banheiro. Jota quebrou e vai limpar a bagunça que fez, nem que ele fique uma semana sem vir pra cá, quando ele voltar vai encontrar tudo como deixou pra arrumar.

Tomei um banho super rápido, pois já estava quase me atrasando, e me vesti rapidamente antes de pegar minhas coisas e sair de casa sem nem comer.

Chamei uma moto-táxi e ele desceu a favela comigo, me deixando no ponto de ônibus onde eu esperei e assim que o mesmo chegou, fui para o meu trabalho.