Inolvidável - Livro 1.

39.

Maratona.
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Kaira.

Acordo com vários ruídos diferentes vindo da janela do meu quarto que fica de frente pra uma das ruas mais movimentadas daqui. Todo tipo de ruído entra apesar de eu manter as janelas fechadas.

Me viro na cama e bufo ouvindo cada vez mais barulho, é cachorro latindo, funk tocando na casa do lado, barulho de moto, criançada jogando bola, as vizinha fofoqueira tudo rindo, cara...

- Ai, Deus. - Suspiro passando a mão no rosto. - Guarda a minha saúde mental, pelo amor. - Imploro encarando o teto e bocejo.

Ontem fui dormir muito tarde, hoje né, fui dormir tava dando duas e meia da manhã, por ser meu último ano na facul eles estão enchendo o cu dos finalistas de trabalho, tão socando sem lubrificante mesmo.

Tô morrendo de sono ainda mas não vou conseguir dormir com esse caos lá fora, por isso eu acordo cedo, prefiro acordar sozinha bem disposta do que ser acordada por essa algazarra e acabar ficando puta o dia todo.

Agradeço mentalmente por ser sexta-feira pois pretendo sextar na minha caminha, abraçada no meu travesseiro, e saio da cama pegando meu celular e vendo que são duas da tarde.

Desligo o ventilador e arrumo minha cama já mentalizando o que vou vestir hoje. Saio indo pro banheiro e paro no corredor vendo que a mancha de infiltração na parede, causada pela água da chuva, só fez aumentar e pegou uma parte do teto que já começou a descascar.

- Odeio ser pobre. - Choramingo entrando no banheiro.

É problema que nunca acaba, cara. Eu vejo direto aquele tweet "melhores dias virão", tá marcado pra quando essa porra?

Faço minhas higienes na base da desmotivação por não ter dinheiro pra arrumar essa droga, pois não tem nem um mês que eu paguei coisa de quinhentos conto pra um cara arrumar isso, e saio me arrumando antes de ligar pra lanchonete lá de cima e pedir uma marmita.

Quando a comida chegou eu paguei o entregador e debulhei calculando mentalmente se o dinheiro que eu tenho guardado pra pagar água, luz, aluguel, cuidar de mim, e ainda fazer compras pra casa, ia ser suficiente caso eu tirasse um pouco pra resolver isso da infiltração de novo.

Suspiro, desistindo de pensar, e saio com minhas coisas em mãos pois já tinha dado o horário de ir pro ponto, Mel hoje entra mais tarde então vou sozinha.

Olho de canto de olho um grupo de meninas intercalando o olhar entre a tela do celular e eu, cochichando algo que eu nem fiz questão de ouvir, em seguida passando direto e reto.

Mas de que adiantou? Todo canto da favela que eu passava tinha gente fazendo o mesmo, eu já tava acostumada a ser olhada por ter namorado quem eu namorei, porém hoje tá demais.

Ignoro descendo a barreira e vou pro ponto de ônibus que tinha acabado de chegar.

{...}

Chego do trabalho devastada, abro a porta entrando na sala e tiro meus tênis com os pés no breu mesmo.

Apoio minha mão na parede, tateando a mesma até achar o interruptor e pressionar, acendendo a luz antes de dar um grito de susto ao ver o Jota sentado na poltrona a minha frente.

Jota: Boa noite, Kaira. - Se inclina pra frente, apoiando os cotovelos em seus joelhos.

- O que caralhos você faz aqui? - Deixo minha bolsa de lado, me segurando pra não voar nele pela tamanha audácia.

Jota: Não tá feliz em me ver? - Debocha, fazendo meu sangue ferver, e gira a cópia da chave da minha casa em seu dedo indicador.

- Tu não tem o direito de entrar aqui quando bem entender, isso é abuso de poder, eu juro que vou falar com o Trex se tu continuar pagando de louco pra cima de mim. - Foi só eu falar o vulgo do cara que colocou ele pra comandar isso aqui, ou seja, o verdadeiro frente pois ele é só uma marionete, que seu sorriso debochado murchou e seu rosto se fechou antes dele avançar com tudo na minha direção apertando meus ombros.

Jota: Eu costuro a tua boca antes disso, vadia! - Aperta meus lábios fazendo eu gemer de dor e eu junto saliva cuspindo em seu rosto.