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Maratona
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Kaira.

Atacante: Certeza que tu não quer que eu trate do mano? - Faço contato visual com ele através do espelho da minha penteadeira e reviro os olhos voltando a passar óleo nas minhas tranças.

- Não começa uma hora dessa, Zaion. - Respondo depois de alguns minutos em silêncio e pego meu perfume espirrando no pescoço.

Atacante: Tu tem noção que tá se arrumando pra ir prestar depoimento numa delegacia conhecida pra caralho? - Franze as sobrancelhas.

- Ahram... - Ele olha pra mim boquiaberto. - Fazer o quê, ué. - Dou de ombros.

Atacante: Baixinha esse delegado é o terror dos criminoso, não sei se é muito bom tu entrar na reta dele não. - Senta na ponta da cama.

- Ainda bem que eu não sou uma né. - Tampo o frasco do perfume.

Atacante: Mas é mulher de um, vai ter uma cria com um, e é irmã de um também. - Fala com a voz rouca matinal que ele tem. - Dá tempo de mudar de ideia ainda, baixinha, só me dá teu aval.

Viro bruscamente olhando no olho dele sem crer que ele tá insistindo nesse assunto sem se importar no tipo de sentimento que pode me causar.

- Olha a merda que tu tá falando cara. - Falo alto sem paciência. - Pedindo pra eu dar meu aval pra tu matar meu irmão, porra, se enxerga.

Atacante: Porra, tá se apegando num laço que nem existe tu, tá se importando com quem vai te fuder. - Aponta o dedo na minha cara. - Tô te falando.

- Tu não sabe disso. - Dou um tapa na mão dele fazendo abaixar.

Atacante: Não precisa ser o mais inteligente do mundo pra prever que o delegado mais importante e conhecido do país não vai arriscar uma carreira de milhões por uma "irmã" que ele mal conhece. - Fala dando risada.

Quando eu vou responder as minhas palavras são substituídas por gemidos de dor pelas pontadas fortes que sinto no pé da barriga.

- Ai, ai, ai. - Pressiono o local me contorcendo de dor e no mesmo instante o Zaion se levanta me pegando no colo antes de me deitar na cama e correr pra cozinha de onde ele volta com uma bolsa de gelo e ergue meu vestido colocando a mesma sobre o pé da minha barriga.

Atacante: Papai tá fazendo cês passar estresse, perdoa eu pivetinho. - Fala baixo com a testa apoiada nas costas da mão que pressiona a bolsa na área onde eu sinto as pontadas. - Não magoa tua mamãe não, alivia a dor dela.

Ele fica una bons minutos passando a bolsa pelo pé da minha barriga e conversando com o neném, o que incrivelmente é o suficiente pra fazer as pontadas aliviarem pouco a pouco até sumirem por completo.

Respiro fundo sentindo o Zaion abaixar meu vestido antes de secar as lágrimas no canto do meu olho e beijar a ponta do meu nariz depois da testa.

Atacante: Foi mal por te fazer passar nervoso. - Cheira meu pescoço e eu acaricio sua nuca assentindo.

- Tudo bem, só não toca mais nesse assunto que a minha decisão já tá tomada. - Ele assente me dando um selinho e meu celular vibra com a chegada da mensagem do Bil avisando que tá lá fora me esperando.

Atacante: É nóis, te amo mais que tudo nessa vida, só não mais que esse pivetinho. - Passa a mão na minha barriga, acariciando.

- É nóis, eu te amo.

{...}

Bil: Tá nervosa? - Assinto caminhando do lado dele pelo enorme corredor do primeiro andar dessa delegacia. - Vai dar bom, pô.

Eu respiro fundo e ele estende a mão na minha direção, sem pensar duas vezes eu pego e ele acaricia falando que vai correr tudo bem.

- Como que é a relação de vocês sendo você um fora da lei e ele um obcecado por foras da lei? - Pergunto sentando do lado dele no sofá de espera que a assistente do delegado recomenda pois já já ele chama a gente.

Bil: Vou mentir pra tu não. - Tira o boné da cabeça e passa a mão no cabelo antes de voltar a colocar. - Não é das melhores, mas não por causa dos diferentes rumos que nóis tomou, muito pelo contrário, único pedido dele pra mim só foi ser um bandido bem do esperto caso eu não queira ser pego por ele. - Explica com o semblante indecifrável. - Nós sabe separar isso da nossa relação como irmãos, mas ela não é boa mermo por conta disso aí de eu ter ficado contra nosso pai e ele todo covarde ter ficado.

- Entendi, mas então o que garante que ele vai pular nessa bala por mim se tu que é irmão desde que nasceu ele fala pra não entrar na reta dele? - Cruzo as pernas nervosa.

Bil: Não tem garantia, Kaira, mas é como eu falei... É a melhor chance que nós tem, apesar de tudo, nós se falando ou não, ele não deixa de ser meu irmão não, pô, nunca que eu ia ser conivente com esse papo do Atacante matar ele.

- Real, entendo super.

Bil: Ele é casca grossa, tá ligada? - Fala depois de algum tempo calado. - Mas no fundo, bem no fundo da casca ele tem um coração. - Ri da própria fala e eu sorrio. - Tem que cavar pra caralho, mas de tanto cavar uma hora tu acha o coração dele.

Inolvidável - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora