29.

11.7K 921 94
                                    

Kaira.

Dei um gole na minha coca, vendo o ex presidiário voltar pra cá, passando a mão pela barba rala dele e virando de lado pra responder um cara que chamou ele, fazendo eu reparar na mandíbula marcadinha dele.

Balancei a cabeça, desviando o olhar quando ele voltou a caminhar pra cá, e comi um pedaço do churrasco do meu espetinho.

- E aí mano, qual a bronca da maluca lá? - Um cara, provavelmente envolvido também, perguntou assim que o Atacante puxou a cadeira pra se sentar.

Atacante: Mó coisa de louca, rapá. - Riu negando com a cabeça antes de começar a explicar.

Olhei pro seu cabelo na régua, descendo pra seus lábios que se mexiam por ele estar falando, e quando olhei pra mesa meus olhos foram de encontro com sua mão cheia de veias e anéis.

- Se orienta, Kaira. - Me repreendi por estar olhando dessa forma pra ele. - É furada...

Atacante: Falando sozinha? - Pegou um espetinho no balde por cima da mesa sem parar de olhar pra mim.

- Sim, sou autossuficiente nesse quesito.

Atacante: Hm. - Murmurou pegando batata e comeu. - E o que é furada? - Apertou os olhos.

- Nada. - Dei de ombros, tentando passar a impressão de que era coisa sem importância. - Coisa minha. - Peguei meu copo e dei um gole na coca.

Atacante: Honestidade, Kaira. - Sorriu quando viu a minha cara de indignação por ele estar usando meu argumento contra mim. - Nera tu que apreciava? - Assenti. - Então. - Se inclinou na minha frente, fazendo eu olhar pra sua boca por conta da proximidade de nossos rostos, e puxou minha cadeira pra mais perto, fazendo a gente ficar cara a cara antes de se afastar. - Fala comigo, parceira.

- Você. - Respirei fundo. - Você é furada na certa.

Atacante: Sou nada, pô. - Riu, a cara do gato nem arde.

- Nem tu acredita nisso, Atacante. - Ri me levantando, fazendo seu olhar bater em minhas coxas, e me afastei, passando pelos seguranças e enfrentando a multidão até conseguir sair da quadra.

Passei pro outro lado da calçada ao avistar uma lanchonete e corri pra lá, agradecendo a Deus por estar aberta. Cumprimentei a gerente e perguntei se podia usar o banheiro, ela deixou e eu usei rapidinho, dei descarga e lavei as mãos saindo em seguida.

Saí agradecendo e sentei no muro de uma construção inacabada que tinha do lado da lanchonete, não era tão perto da quadra mas ainda dava pra escutar a música daqui.

- ME SEGUINDO? - Gritei pro Atacante, que surgiu no meu campo de visão com um baseado entre os dedos.

Atacante: Teu desejo. - Jogou a cabeça pra trás, olhando pro céu, e soltando a fumaça no ar. Por que eu achei isso extremamente atraente, senhor? - Melissa tava preocupada e o Mota pediu pra eu ver se tu tá sussa.

- Ah, mas tu não parece ser do tipo que faz o que os outros mandam se não quiser também. - Falei sentindo minha visão ser impossibilitada por conta da rajada de vento que veio, fazendo meu cabelo voar e cobrir meu rosto.

Atacante: Tem razão. - Senti sua presença e em seguida meu cabelo foi retirado do rosto. - Muito bem visto. - Passou meus cachos pra trás, ainda com o baseado entre os dedos, e eu passei a língua nos lábios encarando ele que sentou do meu lado e tragou.

- Eu falo vamo e você bora lá. - Comecei a cantar um pagode que eu amo do Péricles, que tavam cantando lá na quadra, e levantei começando a dançar. - Eu conto um, dois, três e você já. - Dei um passo pra trás com a perna direita e repeti o processo com a esquerda, mexendo a cintura e os braços junto antes de virar de lado e fazer o mesmo. - Pra qualquer coisa tamo junto, não falta assunto, casal maluco. - Dei um giro sem parar de mexer os pés e os braços.

Atacante: Porra, baixinha. - Dei risada voltando a sentar e ele jogou o resto do baseado no chão, amassando com o pé antes de me encarar. - Nota dez pra você.

- Exagero. - Ri, sentindo a vergonha começando a me tomar.

Inolvidável - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora