Ser acordada com a notícia da morte de alguém não é a melhor maneira de se começar o dia, porém, só nos dá motivos para antes mesmo de pôr os pés no chão, agradecer à Deus por um novo dia.
— Vitória, levanta, filha. Você sabe que o cemitério não é muito próximo daqui! E acorda esse porquinho aí que vamos deixá-lo na casa da sua mãe. Estou esperando vocês, não demorem! Temos que dar uma força pra família.
— Ta bom. — respondi ainda sonolenta, tentando processar as notícias de minutos atrás. Eu ainda não acreditava que Dona Ana havia falecido pela madrugada. Aquela senhorinha que foi por toda a minha infância a minha segunda avó. Me lembro com clareza das vezes que corria para a casa dela apenas para não ter que tomar banho, e ser acordada hoje com a notícia de que não á veria mais, me fez repensar em todas as coisas que fiz nesses últimos anos.
Bom, meu nome é Vitória, vinte e dois anos e recém formada em arquitetura, seguindo os passos do meu pai. Me tornei mãe na adolescência com quinze anos, e apesar das dificuldades, não tenho arrependimento algum. Essa gravidez me gerou o que de mais importante eu tenho, meu filho Eduardo. Aos seus sete anos, ele é sem dúvidas o motivo dos meus maiores sorrisos.
Como de costume, sempre antes de o acordar lhe beijei a testa, e foi inevitável ver em seu rosto, até em seu sono, os traços evidentes que ele traz do pai.
Vocês devem estar se perguntando a respeito do pai do Eduardo, e não, nenhum dos dois tem conhecimento do outro. Nos meus quinze anos, completamente apaixonada por meu namorado, não pensei duas vezes em omitir minha gravidez. Gabriel estava prestes a realizar seu sonho e engrenar em uma carreira de jogador, e caso soubesse da existência de um filho, jamais partiria rumo ao seu grande sonho.
Naquela idade ele não estava pronto para ser pai, eu também não estava pronta para ser mãe, porém, eu fui capaz de aceitar o fato e me encaixar no papel da maternidade. A vinda de Eduardo ao mundo havia mexido demais com a minha rotina e meus sonhos, não queria que atrapalhasse a de mais ninguém. Gabriel, sem saber que seria pai, partiria de cidade e seguiria com seu sonho, e eu, prometi a mim mesma que daria à Eduardo todo o amor de pai e mãe que ele necessitasse.
Egoísmo ou não, eu não suportaria viver com o peso na consciência de ter impedido aquele que eu tanto amo de realizar seu maior sonho. Não vou mentir, ser mãe aos quinze não foi fácil, ainda mais quando nessa idade eu passava pela separação dos meus pais, que ao saberem da minha gravidez ficaram sem chão. Porém, com uma sabedoria divina, souberam lidar com o fato, e mesmo a contra gosto aceitaram o fato de jamais citar o nome do pai do meu filho.
Até isso mudar no ano passado, quando no aniversário do Eduardo, eu finalmente tomei coragem ao assumir que meu namorado da adolescência era o pai do meu filho. E após uma conversa sincera, eles concordaram em deixar tudo como está. Ele tinha no avô uma figura paterna, recebia todo amor e conforto do mundo, não era necessária estragar a vida do atual craque do Flamengo com a noticia surpresa de um filho no mundo.
Olhei Dudu dormindo ao meu lado e sorri involuntária. Por ontem ter sido sexta, havia chegado exausta em casa, e como sempre meu pequeno veio cheio de carinhos pro meu lado dizendo que não me deixaria fazer nada além de descansar. Deitou ao meu lado na cama e passamos horas vendo filme.
— Bom dia, mamãe.
— Bom dia, meu amor. Vamos tomar um banho, porquinho? Hoje você vai passar o dia com a vovó! — sorri.
— Com a vovó? Por que?
— É que eu e o vovô vamos ter que nos despedir de uma Senhora que eu conheci quando tinha a sua idade. — sorri mexendo em seu cabelo preto e cacheadinho.
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DESTINO | Gabriel Barbosa
FanfictionClassificação +16 (pode conter gatilhos específicos) | Todos os direitos reservados. Anos separados, um segredo, mudança drástica para ambos e um sentimento forte demais para serem capazes de lidar com tão pouco tempo.