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GABRIEL

No dia 26 de dezembro, por fim tive coragem de ligar pra Vitória. Eu estava puto. Muito puto desde que ela deixou eu e Eduardo em Santos, em uma data tão família para ir trabalhar ao lado do Henrique sem ao menos me avisar.

Esperei que ela me ligasse com alguma desculpa esfarrapada por esses dias, mas nada aconteceu, e já de saco cheio decidi por mim mesmo tomar essa atitude.

Eu precisava trabalhar, Gabriel! — falou exaltada do outro lado da linha.

— E não podia me avisar? Ou remarcar essa porra? Caralho, Vitória, são datas festivas de família, a primeira vez do Eduardo com a gente nesse momento e você faz uma palhaçada dessas?

Sabe o que é lindo? Na hora de você sumir por toda sua folga e só aparecer no dia de viajarmos sem dar uma satisfação, você vem sempre com "Faz parte do meu trabalho!". Eu se quer me dei a ombridade de perguntar ou de ir atrás porque já sabia que essa era a sua resposta como sempre! Mas quando os papéis se invertem você fica com toda essa grosseria sua.

— Se eu sumi, foi por que você me deu motivos pra isso! Ou você acha que o tapa que você me deu na cara elevou meu ego masculino? Eu sou homem, caralho, e nunca recebi um tapa se quer dos meus pais. Aí vem você com toda essa marra e mete a mão na minha cara. Queria que eu viesse correndo pro Rio depois disso fazer as pazes?

— Não! Eu só queria que você fosse homem suficiente para encarar as coisas de frente!

— Sério que eu que tenho que fazer isso? Quem ta fugindo esse tempo todo é você, Vitória!

Só eu? Tem certeza? — suspirei fundo, tentando manter a calma, e por alguns instantes parei de andar pra um lado e para o outro no meu quarto.

— Olha, a gente tem que conversar sério! Colocar os pingos nos i's! Eu não tô mais aguentando isso. — passei a mão no rosto agoniado. Eu á conhecia bem, e podia ouvir sua respiração tão angustiante quanto a minha.

Eu sei... — disse em tom baixo — Eu... Volto no Reveillon.

— Onde você tá? — tentei manter a calma. Eu se quer sabia que ela não estava no Rio. Caralho, eu sou seu namorado, porra, me avise dos seus compromissos.

Um editorial de moda praia. — fechei os olhos já pronto para xingá-la — Mas calma! Não só de biquínis. São vestidos, saias longas, essas coisas... — falou baixo e senti parte da tensão que me dominava se esvair de mim — Eu volto no dia 31. Bem cedo.

— Você ta sozinha? — eu sabia, e com certeza ela sabia que na verdade eu queria perguntar se Henrique estava com ela, mas me faltou coragem em piorar mais ainda as coisas.

Estou. O Henrique tá com a família dele. — murmurou sabendo que era disso que eu precisava saber. Mas no fundo sua resposta me irritou mais ainda.

— Até o reveillon, então? Temos muito o que conversar! — falei firme, queria deixar claro que não queria mais aqueles raios e trovoadas entre nós.

Até. — suspirou alto, tão alto que fui até capaz de ouvir. Nenhum de nós desligamos, e meu coração foi na boca quando ela voltou a falar — Eu te... — esperei ansiosamente pelo "Eu te amo." que há tempos não ouvia dela.

— Você me...? — tentei a incentivar á continuar, mas sem deixar claro minhas expectativas.

Eu te ligo! — completou rápido — Pra saber do Eduardo. — falou apressada e naquele momento senti em meu peito algo diferente. E não. Não era nada bom.

DESTINO | Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora