Enganando à mim mesmo com a hipótese de ser Eduardo, – mesmo no fundo sabendo exatamente do que se tratava sua ligação – eu atendi, fazendo um sinal com as mãos para que me deixassem sozinho.
Sou homem, tenho meus orgulhos e não deixaria que me vissem abalado por um par de chifres. Mas o que realmente me desconcertou, foi o modo que Vitória esbravejou assim que falei um “Alô”. Completamente descontrolada e aos prantos, gritando em meus ouvidos ela começou a falar em disparada.
— VOCÊ QUERIA ERA ISSO, NÉ SEU BABACA? ME VER NESSE ESTADO RIDÍCULO POR AQUELA MALDITA MÚSICA! QUER SABER? SUA INDIRETA FOI ATINGIDA COM SUCESSO, E SÓ NÃO ESTOU NUM BAR AGORA BEBENDO TODAS E CHORANDO OUVINDO VOCÊ CANTAR AQUELA MERDA MIL VEZES, POR QUE TENHO UMA CRIANÇA NA BARRIGA! UMA CRIANÇA NOSSA, QUE VOCÊ BABACA COMO É NÃO ASSUME! EU TE ODEIO POR ISSO SABIA? ODEIO! — começou a soluçar, e confesso que estava um pouco preocupado com ela. Nunca á vi tão descontrolada, e se só por telefone já me assustava, não queria nem imaginar pessoalmente.
— Essa criança não é minha, Vitória, não tenta enganar à você mesma! Agora me diz, o que você quer com esse tanto de ligação? Minha relação contigo é apenas em função do Eduardo, e se não for nada com ele eu vou d...
Toda a calma que eu tentava falar não adiantou em nada, em segundos ela me interrompeu como uma louca outra vez.
— EU ODEIO ESSA SUA CALMA, SEU CINISMO, SUA FALSA SUPERIORIDADE! EU TÔ AQUI, QUASE PIRANDO PRA TENTAR TE FAZER ACREDITAR EM MIM, OU ENTÃO SIMPLESMENTE ACEITAR QUE OUTRA VEZ MEU FILHO NASCERÁ SEM UM PAI E VOCÊ FICA AÍ, PARECENDO UM HOMEM DE GELO NA SUA BOLHA INTOCÁVEL! — fungou e começou a soluçar, um raro silêncio de alguns segundos, não tive coragem de desligar, e quando ela voltou a falar, parecia sem forças, sem voz, sem vontade — Eu não sei como seu coração não sente, Gabriel. Eu já amo tanto essa criança que faria qualquer coisa por ela, enquanto você prefere fechar os olhos pro que tá bem diante de ti. Não consigo imaginar um cara tão coração como você, não sentir, não amar, não gostar do próprio filho.
A dor com que ela falou aquelas palavras me comoveu e juro que se eu não tivesse tão convencido da verdade, me deixaria levar por suas mentiras. Pilantra! Ela sabia que eu era coração e usava justamente dos sentimentos para poder me atingir.
— É claro que eu amo meu filho! Amo o Eduardo com todas as forças. Ele é o único filho que tenho, o único com quem devo gostar e me preocupar. O resto tanto faz pra mim! — ouvi seu soluço, e antes que minha raiva por ela se transformasse em dó, tratei logo de encerrar aquilo — E pare de me mandar mensagens, a propósito, a música não foi indireta pra você. Ao contrário de você, minha vida não gira em torno da sua. Boa noite!
Sem esperar sua resposta encerrei a chamada, fechando os olhos e xingando mil nomes em seguida. Ter sido duro com ela foi o melhor, quem sabe assim ela entenda de uma vez por todas que eu a odeio.
VITÓRIA
Suas palavras foram como um tapa na cara. Tive vontade de o mandar uma mensagem gigante, cheia de ofensas, mas decidi que não valia a pena. Eu estava à um grau de surtar, e aquela casa onde tudo me lembrava ele estava me deixando louca.
Olhei Eduardo que dormia profundamente na minha cama e surtei. Eu precisava sair ou piraria. Se não estivesse grávida, boas doses de álcool me serviriam de bom grado agora. Eu precisava sair, dançar, me divertir, espairecer... E cheguei a triste conclusão que aqui no Rio, eu não tinha ninguém que me agradasse para me acompanhar agora.
Surtei mais ainda e quando vi eu já ligava para Henrique e o pedia para passar a noite na minha casa, tomando conta de Eduardo pra mim. Apesar de preocupado com meu surto, ele aceitou e mesmo sonolento disse que estava a caminho da minha casa. Quando ele chegou eu já estava pronta, e cheia de raiva.
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DESTINO | Gabriel Barbosa
FanfictionClassificação +16 (pode conter gatilhos específicos) | Todos os direitos reservados. Anos separados, um segredo, mudança drástica para ambos e um sentimento forte demais para serem capazes de lidar com tão pouco tempo.