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VITÓRIA

Assim que fechei a porta do quarto de hóspedes atrás de mim, Henrique me olhou surpreso.

— Qual é a bomba? — perguntou receoso — O que você quis dizer com "parar com tudo" aquela hora no telefone?

— Eu.. Eu... A gente não pode mais, Henrique! Não pode!

— Não pode o que? Me explica o que ta acontecendo, pelo amor de Deus! Você tá me deixando maluco!

— Eu quero acabar com a nossa parceria! Não quero mais isso pra mim! Aliás, quero, claro que quero, mas não posso! — passei a mão no cabelo um pouco desnorteada.

— Como acabar, Vitória? Para com isso! Olha, é réveillon, dia de curtir, outro dia com você mais calma falamos nesse assunto, não pira! — falou tentando se aproximar.

— Eu não tô pirando! — me exaltei o olhando — Eu só quero paz! Agora é tudo diferente... Eu não posso pensar apenas em mim e no Eduardo que já está acostumado com tudo. Eu quero fazer certo dessa vez, quero dar um lar saudável pra minha família. Tá tudo tão errado entre mim e o Gabriel, e eu sei que a culpada de tudo sou eu! Eu sei o quanto ele morre de ciúmes de você e ainda sim...

— Para com isso! A gente nunca teve nada! Você vai se deixar levar pelas loucuras dele? Puta merda, é o seu sonho! Ele tem que respeitar. E tem que principalmente confiar em você. A gente não tem absolutamente nada além de amizade, estamos com a consciência limpa. Vai destruir toda a sua carreira recém começada por ciúmes dele? Não vale a pena, Vitória! Me ouve! Se for pra vocês serem felizes juntos, vai ser com a profissão louca de vocês dois no meio! Vai ser consolidando confiança. Enquanto isso não interferir no Eduardo, vocês vão empurrando com a barriga caramba! Uma hora ele acostuma!

— As coisas não são simples assim. — engoli o choro — Você sabe o quanto a nossa amizade cresceu, vivemos juntos e eu já errei demais deixando ele de lado e dando prioridade pra você. Na hora a gente não via assim, mas agora eu vejo! Eu não iria aceitar se fosse ao contrário. O Gabriel já tá suportando coisas que eu no lugar dele não aceitaria. Ele tá fazendo a parte dele por nós, é a minha vez agora.

— Vi, eu dependo de você! Não faz isso, pelo amor! Eu te conheci quando vocês terminaram, e não acredito que aquela Vitória tão decidida vai ser submissa á homem hoje!

— Não fala assim! Não é só isso! Você vai arrumar outra pessoa pra trabalhar, vai... — abaixei a cabeça e senti as lágrimas caírem — Aconteceu de novo! Pela segunda vez Deus deu um jeito de me mostrar o que eu devo fazer, que caminho devo seguir. Dessa vez eu não quero que seja igual oito anos atrás.

— Para de loucura! Me dá um, só um motivo cabível pra tudo isso! Não vai mudar sua vida e seus sonhos por homem, pelo amor de Deus!

Fechei os olhos e respirei fundo pesando na minha atitude. Eu sabia o quanto ele precisava de mim, seu trabalho era "eu", e desistir de tudo o obrigaria á uma tremenda confusão por um bom tempo. Mas por outro lado havia Gabriel. Gabriel, Eduardo... E agora, outra criança. Outro fruto do meu amor com Gabriel, que mesmo tendo descoberto tão de repente me fez abrir os olhos do tamanho do meu erro.

Fechei os olhos e lembrei do par de sapatinhos que havia comprado no shopping para enfim dar a notícia á Gabriel de que ele seria pai pela segunda vez. Sei que o certo era ele saber antes de qualquer outra pessoa. Mas Henrique estava ali, querendo um motivo sólido de eu acabar com nossos empregos. E eu sabia que a minha resposta acabaria com todo o nosso vínculo profissional, podendo assim de uma vez por todas estabelecer a paz que eu e Gabi precisávamos para criar essa criança que está em meu ventre.

DESTINO | Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora