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VITÓRIA

— Não me dá mais um susto desse, menino! Meu coração não aguenta! E a próxima vez que você descer aquelas escadas correndo, eu juro que eu é quem vou quebrar seu braço!

— Desculpa, eu me empolguei. Podemos ver meu pai?

— Já acabou o horário de visitas, meu bem. Amanhã você e sua mãe vão vê-lo.

— Mas eu queria hoje, vó! Já sei! E se eu oferecer um boné autografado do meu pai pra quem controla as visitas? Meu pai disse que isso sempre funciona!

Acabei rindo. Não podia o culpar das coisas que Gabriel dizia. E eu estava feliz demais dele ter acordado para perder tempo dando broncas em nosso filho.

— Vou fingir que não ouvi isso, Eduardo. — ri — Também estou louca de vontade de ver ele, mas...

— Mas vocês dois vão pra casa e vão ter uma boa noite de sono! Eu estou mandando!

Eu e meu filho nos entreolhamos e assentimos. Fui no banco de trás com ele. Depois de um tombo na escada, e um baita susto, voltamos com Dudu com três pontos na testa e o braço engessado.

— Eu te disse que ele ficaria bem. Confia mais em mim, mamãe.

Sorri suspirando. Segurei sua mãozinha livre e assim adormeci. Contando os milésimos para ver Gabriel novamente amanhã.

GABRIEL

— Essa comida é horrível! Isso não pode ser chamado de café da manhã! Quanto é a diária disso aqui pra me servirem isso? Eu tô com fome, preciso de comida, há duas semanas que não sei o que é isso!

— Você acordou um saco de chato! — riu — Come, você só pode isso, é a dieta do pós cirúrgico.

— Aumento seu salário se tu trazer um X-bacon e a Vitória pra mim.

Ouvi a gargalhada do meu amigo, e depois uma batida na porta. Meu coração disparou, queria que fosse ela, mas era apenas a velha puxa saco da enfermeira. Ela colocou mais alguns remédios junto com o meu soro e me perguntou como eu estava. Pedi uma comida descente e como todo mundo ela me ignorou. Aquilo não era comida, e se fosse, não encheria nem um recém nascido.

A velha deu as costas e quando ela fez isso eu comecei á imitá-la fazendo Fabinho ter que segurar a risada. Quando ela saiu do quarto ele pôde enfim rir, eu fazia o mesmo quando a porta se abriu outra vez.

Nem olhei naquela direção com certeza a velha tinha esquecido algo. Estava errado. Uma voz conhecida fez meu coração disparar. Nunca estive tão feliz e completo em ouvir a palavra "Papai!". Ele não me deu tempo de virar ou de agir. Abraçou-me apenas com um braço e me faz quase chorar com a força de seu sentimento.

— Eu senti tanta saudade. Sabia que você ia ficar bem! Eu amo você, pai!

Eduardo não era nada de dizer aquilo, e ouvir me pegou de surpresa. Fechei mais meus olhos e o abracei com a mão que pude.

Ouvi um fungado e abri meus olhos ainda abraçado ao meu filho. Á vi da porta. Meu coração quase saiu da boca. Saudade, foi apenas isso que se passou por todos os meus poros. Saudade de cada centímetro dela. Por dentro e por fora.

Á olhei detalhe por detalhe. Os pézinhos inchados, as pernas expostas pelo vestidinho, a barriguinha maior. Caramba, que barriguinha linda! Subi meu olhar agora rápido. Vi seu sorriso. O sorriso dela era o mais lindo do mundo, posso jurar.

Vi lágrimas próximo á ele e então encarei meu ponto de paz. Seu olhar. Foi como se nos tocássemos sem nem próximos estar. Castanho no castanho. Houve uma troca de energia ali. De amor principalmente.

DESTINO | Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora