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Acordei cedo no outro dia, Eduardo parecia estar mais animado do que nunca, e mesmo com uma ressaca infernal forcei um sorriso para meu filho e prometi à mim mesmo não deixar nada interferir na nossa viagem.

Se esse exame dissesse que eu sou o pai dessa criança ou não, que eu resolvesse tudo quando chegasse ao Rio. Agora, tudo o que eu queria era esquecer. Como se fosse realmente fácil cumprir a minha promessa.

Passei a manhã inteira andando de canto a canto daquele imenso parque. Ele parecia nunca ter fim, e mesmo que eu já tenho o visitado, eu ainda me encantava com as coisas que ali eu via. Mas não era apenas isso que me deixava feliz, e sim ver os olhos brilhando e a admiração constante naqueles olhinhos tão parecidos com os meus. Em meio ao caos, sua felicidade era a minha calmaria.

Paramos para "almoçar" quase na hora do lanche, e como em todos os dias aqui, iríamos comer uma besteira qualquer. Eduardo estava amando isso, e eu muito mais, mesmo sabendo que depois eu sofreria na academia.

— Saindo daqui a gente pode ir comprar o presente da minha mãe e do meu irmão?

— Como você tem tanta certeza de que é um menino?

— Não sei. Eu e minha mãe sentimos que é. — deu de ombros. Por um momento me permiti pensar na gravidez de Vitória sem ver tudo aquilo como a mulher que eu amo carregando o filho de outro, e sim a apenas a mulher que eu amo gerando outra criança.

— Pois eu acho que não! — falei pegando Eduardo de surpresa.

— E desde quando você pensa no neném da minha mãe?

— Vai ser uma menina! — dei de ombros mastigando. Só conseguia ver ela com uma menininha nos braços, e aquele pensamento me arrepiou por inteiro. Minha mente e coração entraram em conflitos, e outra vez bloqueei tudo o que me levava aquela gravidez.

Dudu deu de ombros e ficou em silêncio por alguns minutos, até terminar sua latinha de coca-cola e me surpreender.

— Então vamos apostar?

— O que?

— Se for menina você trata ela como filha, vai largar de ser tapado e assumir que é o pai, e se for menino a gente não vai precisar de você. Vamos saber nos cuidar, aí você vive a sua vida como quiser. Não vou mais te encher o saco pra você assumir ser pai do meu irmão.

Quase engasguei quando ele terminou de falar. Por vezes eu duvidava se Eduardo tinha realmente a idade que tinha ou se ele era real. Eu na idade dele quase comia terra, enquanto ele consegue me deixar de queixo caído e boca aberta falando pra mim coisas que ninguém jamais teve coragem de dizer.

— As coisas não funcionam assim, Eduardo! — engoli em seco tentando impor meu papel de pai.

— Sabia que não ia topar. — suspirou — Eu encerro a aposta, mas aí na hora de comprar o presente de bebê eu escolho coisas de menino. Você de menina. Temos que levar dos dois, não sei o que vai ser. Vai que você tá certo e eu chego lá com uma blusa do super man.

— É só levar coisas unissex, Dudu.

— Você vai negar até presentes pro meu irmão? Caramba, o que ele te fez? Ele nem nasceu, pai! Você é tão mal as vezes! — fez drama colocando a mão no peito. Acabei rindo da sua encenação.

— Tudo bem, a gente compra o que você quiser. Agora termina de comer pra gente ir.

— Eu vou pegar outra coca! — falou se levantando. Sorri negando, tão pequeno, tão mandão e tão esperto. Eu me orgulhava infinitamente do filho que tinha, e o amava de forma até inexplicável. De ontem pra hoje, por vezes tive medo. Medo de estar realmente negando esse amor á outra metade de mim que estava á caminho.

DESTINO | Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora