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VITÓRIA

Fabinho não tinha mais o que vomitar e com a ajuda do motorista consegui o tirar do carro. Estávamos na porta de seu prédio.

— Vi, eu não tô bem. Essa cachaça tava estragada! — reclamou forçando vômito, mas já não havia nada a expelir — Não me deixa sozinho, vou vomitar meu fígado podre!

Acabei rindo, depois do seu pedido não o deixaria só. Paguei o Uber e o agradeci antes de entrar em seu prédio. O porteiro me ajudou e disse que nunca viu Fabinho naquele estado. Era até cômico.

— Onde tá a chave?

— No meu bolso. Mas não dou conta de pegar. Ele tá mexendo! — riu.

Revirei os olhos e juntamente com a chave estava seu celular. Com receio de que Gabriel o ligasse sabendo que estávamos juntos, também desliguei o celular de Fabinho. O ajudei a ir até seu quarto. Ele tentou vomitar mais vezes. Lhe dei um remédio e fiquei sentada em sua cama rindo do seu estado bêbado.

Fabinho já era engraçado normalmente, mas bêbado era pior. Quando por fim ele estava mal o bastante para parar de pé, fechei a porta do seu quarto e fui até a sala. Deitei no sofá mesmo e liguei a TV. Estava sem sono. Olhei meu celular e de Fábio desligados sobre a mesinha de centro. Gabriel deveria estar pirando, mas era melhor que não nos encontrássemos por agora. Eu estava chateada, e ele talvez nervoso. Suspirei e comecei a prestar atenção no filme que passava naquele canal fechado, mas gradativamente peguei no sono sem perceber.

...

Ouvia o nome de Gabriel ao longe. Parecia formal demais para alguém o chamar.

Virei-me desconfortável.

Um clarão em meus olhos, bocejei e tampei meu rosto.

Voltei a dormir.

Ouvi outra vez, formal demais novamente.

Minhas costas ardiam, abri meus olhos.

A visão embaçada mal somava a imagem que tinha na TV.

Ouvi algo caindo, despertei de vez.

Sentei-me ligeiro no sofá me dando conta de onde estava.

Olhei para trás.

Um Fabinho ressaqueado e despenteado havia acabado de deixar algo cair.

Seus olhos vidrados na TV se quer me enxergaram.

Vi ele perder a cor.

Outra vez o nome de Gabriel.

Olhei para onde vinha o som.

Na TV a imagem de um carro completamente deformado após uma batida.

— ...O jogador que vinha de uma balada parece ter perdido a direção do carro. Não se sabe ao certo o que houve, mas o que sabemos é que o estado dele é crítico. A polícia ainda não revelou se ele fazia uso de bebida alcoólica ou se estava em alta velocidade. Mais notícias a qualquer momento.

A foto de Gabriel passou na tela antes de mudar o foco no programa. Fiquei em choque. Senti algumas lágrimas saírem por meus olhos. Quase pude ouvir as batidas do meu coração. Saí do transe apenas com Fabinho me chacoalhando.

— O que... O que... É mentira, não é? — perguntei sem acreditar. Eu não queria acreditar. Meu coração não queria. Precisava que tudo fosse uma mentira.

— Cadê meu celular? — perguntou em desespero. Os olhos tão molhados quanto os meus.

Peguei nossos aparelhos tremendo. O meu ligou mais rápido e assim que o fiz vi as dezenas de ligações. Dhiovanna, Lindalva, Valdemir, meu pai, número desconhecidos, e dentre as últimas não atendidas ainda da noite passada, algumas dele. Meu coração se desfez. A culpa tomando conta de mim. Á essas alturas Fabinho já estava com o celular na orelha tentando falar com alguém.

DESTINO | Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora