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26 de Fevereiro | 02h07

O jogo acabou e com ele bateu uma vontade louca de beber pra tentar me desligar do mundo e da bagunça que minha vida andava sendo. Continuei ali no vestiário mesmo, e na companhia da equipe iniciamos uma resenha enquanto acabávamos com toda a bebida dali.

Havia mandado fazer jóias das mais caras para presentear Vitória e se quer uma mensagem agradecendo ela mandou. Havia postado uma das músicas mais famosas do mundo pra ela e se quer uma curtida dela obtive. Já estava ficando puto, mas além da raiva, a saudade e o remorso foram maiores. Lembrar que por diversas vezes eu havia negado meu próprio filho e ainda humilhado tanto Vitória, fazia-me ficar enjoado.

Acompanhava pelas marcações dela a sua comemoração em um barzinho da cidade acompanhada de minha irmã e usando um vestido, ela estava incrivelmente linda!

Foi impossível não notar o quanto Vitória andava usando somente roupas rodadinhas de uns dias pra cá. Sua barriga já começava a apresentar, e eu me perguntava quando ela decidiria que seria o momento de anunciarmos sua gravidez. Seria uma polêmica e tanto, principalmente por estarmos separados, mas era algo do qual não podíamos evitar.

03h37

Já estava no quarto de hotel, saía do banho quando ouvi meu celular tocar. Achei que era efeito da bebida, afinal, quem me ligaria á essa hora? Mas quando ele parou e começou uma segunda chamada, ainda de toalha corri até a cama sentindo meu coração disparar ao ver que era Vitória quem me ligava.

Levei alguns segundos para atender, e quando o fiz, a primeira coisa que ouvi foi seu soluço me deixando imóvel.

Você não tinha esse direito! — falou com a voz embargada pelo choro.

— Vi... O que eu fiz? — perguntei em um sussurro confuso. Odiava o fato dela estar chorando. Chorando e ainda brava comigo.

A jóia, o cartão, aquela foto que você sabe que mexe comigo, e ainda colocar aquela maldita música! Você sabia que eu iria procurar que musica era, e sabia que eu ia ficar igual uma grávida maluca chorando ao ouvir Elvis Presley. Isso é humilhante, sabia? Eu chorei ouvindo Elvis Presley! Qual é, eu nunca fui fã do Elvis, e olha o que você faz comigo! Você fez tudo de propósito! Eu odeio você! Odeio estar chorando por você!

Quando ainda de boca aberta pensei em respondê-la, ela já havia desligado na minha cara. Fiquei encarando o celular sem reação. Que porra acabou de acontecer? Isso era Vitória ao seu natural, ou fazia parte do pacote Vitória grávida?

Quando pensei em retornar sua ligação, outra vez sua foto apareceu na tela, atendi de imediato e comecei a falar antes que ela jogasse toda sua ira em mim e desligasse na minha cara de novo.

— Eu não fiz nada de caso pensado, desculpa! Eu não sabia que isso iria te machucar tanto... É só... É só como eu me sinto! — desabafei sentando-me na cama exausto. Á dias eu não ouvia sua voz, e mesmo que com voz de choro, ouvi-la me aliviou.

Eu me descontrolei, desculpa. Os hormônios estão acabando comigo. — falou agora baixinho, parecia arrependida.

— Feliz aniversário. Sei que já passou da meia noite, mas... — dei de ombros.

Eu tô... — ouvi sua respiração profunda e fiquei aguardando ela continuar, o que não aconteceu.

— Você ta? — instiguei curioso.

Quando amanhecer, promete esquecer essa ligação? — pediu receosa.

— Prometo! — falei de olhos fechados, crente de que eu mentia.

DESTINO | Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora