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Desde que Gabriel saiu por aquela porta, as horas pareceram voar. Não consegui mais ficar calada e contei tudo para a minha mãe. Inclusive do medo que eu estava dessa tal conversa. Dona Ana tentou me acalmar, mas no fundo ficou tão enfurecida quanto eu por Gabriel estar sem aliança. Tudo bem, eu estava sem também... Mas não por vontade própria!

Os dois chegaram conversando animados. Recebi um beijo e abraço do meu filho que logo foi atrás da avó que só sabia o mimar desde sua chegada.

— Sua mãe cuida dele pra gente conversar? — apenas assenti. Minha mãe nos olhava e entendeu o que acontecia. Assentiu sorrindo e eu suspirei indo atrás de Gabriel que já subia as escadas. Subir as escadas... Isso já não era tarefa tão fácil pra mim como antes. Minhas costas pediam arrego quando eu chegava lá em cima. Abri a porta do quarto um pouco ofegante. Gabriel me observou, mas nada fez. Revirei os olhos batendo a porta — Odeio quando você faz isso.

— E eu odeio quando você faz isso! — peguei a toalha molhada de cima da cama e levei até o banheiro. Ao voltar para o quarto, Gabriel já havia colado a cadeira da escrivaninha frente a ponta da cama onde fez sinal para que eu me sentasse. Assim o fiz engolindo em seco. Ele tinha os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos unidas enquanto pensava em um modo de começar a conversa. De forma retraída segurei suas mãos. Ele me encarou e eu separei-as virando suas palmas para baixo — Cadê sua aliança? — perguntei baixo.

Ele não me respondeu. Pegou a minha mão e fez o mesmo.

— Cadê a sua?

— Eu fui roubada!

— E o que fez nos últimos quatro dias que não providenciou outra? Se você não vai usar, não faz sentido eu usar uma também! — irritada soltei suas mãos. Fechei os olhos controlando minha raiva. Queria argumentar e xingá-lo de vários nomes, mas de nada adiantaria — Eu recebi uma proposta esses dias. — abri os olhos um pouco intrigada. Ele costumava me contar tudo e sempre pedir minha opinião, então me calei na espera de mais detalhes — Com a minha volta, preciso de estar na mídia cada vez mais. — assenti pensativa — CT me fez a proposta de um documentário.

— Um documentário?

— Sim. Semanal e meu. Eu aceitei.

— Um documentário semanal seu, Gabriel? — perguntei surpresa e preocupada — E pra quando é isso?

— Daqui dois meses. — disse natural.

— Dois meses? E vai ser gravado onde? — questionei apreensiva.

— Santos. Por isso eu andei vendo uns apartamentos por lá. Vai ser melhor e mais seguro. Hotel as fãs vão me achar, a segurança não é tão legal, sem falar no custo. Comprar um apartamento vai me dar mais conforto. Posso ficar por lá quando estiver cansado. Não precisa de correria, é mais prático. Preciso que você vá para lá semana que vem ver isso pra mim. Antes meu pai fazia essa parte, mas agora... Você é minha esposa, pensei que...

— Pensou que eu vou sair do conforto da minha casa, prestes a parir pra compactuar com essa palhaçada? — interrompi-o irada, com os olhos já ameaçando marejar em lágrimas.

— Palhaçada? É a minha carreira, Vitória!

— Daqui dois meses você terá uma filha recém nascida em casa e uma esposa em resguardo. Não é hora pra decidir quase morar em Santos!

— Não é quase morar! Vou gravar as quartas, segunda e terça eu vou ficar em casa! Já te avisei que pedi esses dias em casa nos primeiros três meses! Fico de quarta a domingo revezando entre os jogos e Santos. Segunda e terça eu volto! — disse passando a mão no cabelo, parecia controlar sua raiva.

DESTINO | Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora