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VITÓRIA

E aqui estou eu, como nos velhos tempos, chorando feito uma criança nos braços do meu pai.

— Por que, pai? — solucei — Por que eles tinham que aparecer aqui? Pra fazer toda a culpa que eu tinha esquecido voltar à tona no meu peito?

— Você não parou pra pensar que talvez seja esse o aviso de Deus que está na hora de abrir o jogo com você mesma, com seu filho e o mais importante, com o pai dele? — disse calmo acarinhando meus cabelos.

— Não. — solucei o olhando, firme em minha decisão — Eu prometi a mim mesma, esse filho é meu, apenas meu! Eu não vou bagunçar mais ainda a cabeça do Eduardo e muito menos virar a vida do Gabriel de cabeça pra baixo por egoísmo meu! — disse entre soluços.

— Filha, você acha mesmo que o Eduardo vai se contentar a vida toda sem saber nada sobre o pai? Uma hora ou outra ele vai querer saber! Por que não dá essa chance aos dois? Ao Dudu de ter um pai, e ao Gabriel de ser amado por um filho?

— Eu não posso, pai, não posso!

...

Acabei adormecendo em prantos no colo do meu pai, nem sequer vi quando peguei no sono, só me lembro de acordar com meu pai me chamando.

— Já está na hora do almoço, dorminhoca! Tem um pestinha lá embaixo que não vai sossegar enquanto você não ir pra piscina com ele! Ele não está muito contente em ter apenas eu pra jogar água! — disse me fazendo rir.

Eu acabei pegando no sono no quarto do meu pai e nem me dei conta disso, escovei meus dentes e tomei um banho rápido, descendo as escadas me deparei com dona Fátima, nossa empregada, que já colocava o almoço na mesa.

— Bom dia! — sorri, beijando seu rosto — Tudo bem com a senhora?

— Boa tarde, né?! — riu — Tudo na paz, minha filha e você? Não me parece estar com a carinha muito boa. — dizia me analisando enquanto eu á ajudava com os pratos.

— Não é nada demais. — sorri — Vai passar! Deixa eu ir ver meu pinguinho de gente e já chamar eles pra comerem, se não os dois peixinhos não saem da água hoje!

Fui até a área de piscina e por incrível que pareça eles já se enxugavam, Eduardo veio me contar das brincadeiras que fez com o avô, e nesse clima almoçamos, até meu pai entrar em um assunto desagradável.

— Ontem o Fabinho nos chamou para a estreia do garoto que ele trabalha. Deixou até nossos ingressos pro camarote... — comentou me olhando, aguardando uma resposta.

— Se o senhor estiver afim de ir, pai, tudo bem, eu e o Dudu sobrevivemos sem o senhor por uma noite. — ri — Quem sabe até arruma uma namorada nova? — brinquei tentando descontrair o clima que se iniciava ali.

— E por que a senhorita acha que não vai? Eu não vou sem você! Aliás, seus ex sogros disseram pra eu convencê-la de ir!

— Eu não posso. Tenho que ficar com o Eduardo, minha mãe vai pra um show, não tem como deixar com ela. Eu fico com meu pequeno. — sorri pra meu menino que mal prestava atenção na conversa, estava concentrado demais em seu pedaço de carne.

— Vi, sem querer me meter, eu não me importo em ficar com ele, já fiquei outras vezes e ele não dá trabalho algum. — Dona Fátima se pronunciou pela primeira vez, ela ficava mais calada e era sempre tímida por comer conosco na mesa.

— Não precisa, Fá. — sorri nervosa.

— Seria um imenso favor! — sorriu contrapondo o que eu disse. Meu pai me paga!

DESTINO | Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora